Maria Pereira dos Santos, ao longo dos seus 110 anos, sempre demonstrou ser feliz, atenciosa. Ela não parece ter vivido as dificuldades que superou. E foram várias. Filha de pequenos agricultores, desde a adolescência teve que trabalhar para ajudar a família a retirar o sustento de pequenas lavouras de milho e feijão. Nunca pôs o pé numa sala de aula. “Naquele tempo, não havia escola na roça. A gente só trabalhava.” Era plantio, capina, colheita e a produção de rapadura e farinha.
Ela vive hoje numa casa de alvenaria, com luz elétrica e água encanada, construída com o dinheiro “juntado” da aposentadoria rural (R$ 545 mensais) e com a ajuda dos filhos. Já morou em três casas em condições precárias. As duas primeiras tinham paredes de “enchimento” e a terceira era feita de adobe.
Com pouco mais de 20 anos de casada, em 1956, Maria Pereira dos Santos sofreu um duro golpe. O marido, João Francisco Firmino, pai dos seus seis filhos, disse que tinha outra mulher e abandonou a família. Dois anos depois, ele viajou para São Paulo. Justificou que “ia ganhar dinheiro”. Nunca mais apareceu e já se passaram 52 anos. O ex-marido de dona Maria estaria hoje com 105 anos. “Acredito que não esteja vivo.”
Na década de 1960, um dos filhos de Maria, José Francisco dos Santos, resolveu seguir os passos do pai e se mudou para São Paulo. Voltou para ver a mãe pela última vez em 1968. Desde então, não deu mais notícias. Ela tem esperança de rever o filho, que hoje estaria com 78 anos. “Se o Zé Francisco aparecer, estarei aqui para recebê-lo”.