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Estado de Minas

Estacionar em BH é como ganhar na loteria

Vagas de rotativo estão saturadas, garagens privadas cobram caro e já recusam clientes. Até motociclistas não acham espaço e as propostas da prefeitura continuam no papel


postado em 10/06/2011 06:00 / atualizado em 10/06/2011 06:43

Rua antes calmas, como a Barão de Lucena, no Bairro da Serra, Região Centro-Sul, estão sobrecarregadas(foto: Cristina Horta/EM/D.A. Press)
Rua antes calmas, como a Barão de Lucena, no Bairro da Serra, Região Centro-Sul, estão sobrecarregadas (foto: Cristina Horta/EM/D.A. Press)
Se não bastassem os 740 quarteirões ocupados – e saturados – pelo estacionamento rotativo e um crescimento de 46% da frota de veículos, nos últimos cinco anos, segundo dados do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG), Belo Horizonte ganha novos fatores para complicar ainda mais a equação da falta de vagas para carros nas ruas e avenidas, que afeta até motociclistas. Levantamento feito pelo Estado de Minas em 30 garagens privadas da capital mostra que 56% não há mais lugar para mensalistas, tamanha a procura. E até para motos o estabelecimentos privados se tornaram um filão. Para piorar, ruas de bairros residenciais, antes tranquilas, são disputadas a tapa por quem prefere parar longe do destino a pagar para estacionar. Achar espaço para o carro é como tirar a sorte grande na loteria.

Apesar de conhecer a solução para essa equação, a prefeitura está longe de dar fim ao problema. Além de não haver previsão para expansão das linhas do metrô, o processo para a criação de estacionamentos subterrâneos está parado na BHTrans. De acordo com a empresa que administra o trânsito na capital, que não tem estimativa do déficit de vagas na cidade, nenhum interessado apresentou proposta concreta ao procedimento de manifestação de interesse aberto em 2009, a exemplo de outras parcerias com a iniciativa privada que o poder público já tentou firmar.

Há quase dois anos está também engavetada a operação urbana que cria o estacionamento subterrâneo da Assembleia Legislativa, no Bairro Santo Agostinho, Região Centro-Sul. De autoria da prefeitura, a proposta, aprovada na Câmara, não tem data para sair do papel. Enquanto não chega a solução, a situação nas ruas se agrava e afeta até quem era acostumado a uma vizinhança tranquila.

Moradora do Bairro Serra, na Região Centro-Sul, a dona de casa Célia Regina Bello Lima, de 65 anos, viu a Rua Barão de Lucena, antes pacata, e outras nas proximidades da Rua do Ouro, serem transformadas em garagens a céu aberto. “Depois que aumentaram o número de rotativos no Bairro Funcionários, os carros vieram todos para cá. Antes de 7h já não há mais lugar para estacionar. Quem mora aqui não pode receber visita. Eu nunca mais consegui parar na porta de casa. Além disso, aumentaram os roubos.” Ela passou a desembolsar R$ 200 no aluguel de uma vaga na casa vizinha, pois no prédio no qual mora não há garagem.

De carro, mas a pé

O estagiário Thiago Henrique Pereira, de 20, é um dos que frequentam diariamente a vizinhança de Célia Regina, apesar de trabalhar a quase cinco quarteirões dali, no Funcionários. “Estaciono na Serra porque não acho vaga nem de rotativo e o estacionamento privado é caro. Chego por volta das 8h e já é difícil de achar lugar.” Mesmo quem opta por trabalhar de carro enfrenta dificuldade. Na tarde dessa quinta-feira, o EM entrou em contato, por telefone, com 30 estacionamentos particulares. Em 17 deles, a maioria nas regiões Central e Centro-Sul, o que representa 56% do total, não há vagas para mensalistas,
A mensalidade para quem tem espaço cativo no estabelecimento fica entre R$ 200 a R$ 300, mas uma vaga numa garagem da Rua da Bahia, no Centro, pode chegar a R$ 400. Já o preço da hora fica em torno dos R$ 7. O quadro não está tão diferente para quem usa motocicleta como meio de transporte. “A situação é terrível. Depois que proibiram as motos de parar em vaga de rotativo, não há mais lugar para elas. Nossa reivindicação é que abram, a cada rotativo, duas vagas para motos, e a criação de estacionamento de carga e descarga para motociclistas”, diz o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Motociclistas e Ciclistas de Minas Gerais, Rogério Santos Lara.

Dono de um estacionamento de motos na Rua da Bahia, um dos cinco de BH, Guilherme Almeida, de 37, conta que chega a receber 130 motociclistas diariamente. “Há um número excessivo de motos nas ruas e há vagas. Além disso, a moto é mais fácil de ser roubada, o que leva a pessoa a procurar o estacionamento. O preço também é convidativo. Cobro R$ 5 pelo dia todo.”

 


Palavra de especialista
O problema

A falta de vagas tem origem numa junção de fatores, de acordo com o consultor na área de transporte e trânsito Silvestre de Andrade. “À medida que aumenta a frota de veículos, cresce a demanda por circulação e estacionamentos. Por outro, a cidade começa a perder vagas para privilegiar o trânsito”, afirma. Andrade completa que, com o crescimento das cidades, a tendência é de que imóveis antes usados como estacionamentos passem a ser alvos da especulação imobiliária.

A solução

Por outro lado, segundo Silvestre de Andrade, não é possível resolver, mas sim amenizar o problema da falta de vagas na cidade. “A política tem que ser de privilegiar o transporte público e o individual passar a ser reconhecido como um serviço nobre”, diz, sem se esquecer da necessidade de construção de estacionamentos subterrâneos e edifícios-garagem. “O custo de usar um estacionamento não deve ser pequeno. Seu uso é seletivo apenas para quem não pode deixar de andar de carro.”

Depoimentos



"Não venho mais para o Centro da cidade de carro. E o principal motivo é a dificuldade de achar lugar para estacionar"

José Marinho dos Passos, de 70 anos, aposentado


"Paro o carro no Bairro Serra e ando uns cinco quarteirões até o trabalho, pois até as vagas do rotativo ficam lotadas"

Thiago Pereira, de 20, estagiário



"Perco duas horas de serviço procurando vaga. Dentro do perímetro da Avenida Contorno não há como estacionar"

Aloísio Ferreira, de 47, motoboy


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