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Estado de Minas SUL DE MINAS

Sobreviventes de acidente com trio elétrico relatam pânico em pré-carnaval


postado em 02/03/2011 06:44 / atualizado em 02/03/2011 06:55

"Eu estava a cinco metros do trio elétrico. Tomei um choque e apaguei, batendo o rosto no chão. Só acordei de madrugada, na UTI da Santa Casa. Minha família ficou sem informações e pensou que eu tivesse morrido" - Diego Rodrigues do Prado, de 24 anos (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Enquanto técnicos e laboratórios buscam respostas para tentar explicar a tragédia que tirou a vida de 15 pessoas em Bandeira do Sul, a 440 quilômetros da capital, no Sul de Minas, o artefato apontado como mais provável causador do acidente é vendido livremente e a preços acessíveis no comércio de cidades como Belo Horizonte. Lançadores de serpentina metalizada, que teria causado o curto-circuito durante festa pré-carnavalesca no domingo, já tiveram comércio proibido por decreto em Poços de Caldas, vizinha ao município onde ocorreu o desastre, mas essa pode ser uma iniciativa isolada, já que a Cemig vai aguardar os laudos sobre o episódio para só depois se pronunciar sobre eventual veto ao produto.

As análises não ficam prontas antes do carnaval, que começa sábado. O Procon da Assembleia Legislativa, porém, vai analisar pedido de que o material seja retirado do mercado em todo o estado. Independentemente disso, o Corpo de Bombeiros deve publicar portaria com orientação sobre o uso dos lançadores. Alheias à indefinição, vítimas que sobreviveram ao rompimento de cabos elétricos se recuperam em hospitais da região e, assim como seus parentes, não conseguem apagar da memória os segundos que transformaram a alegria da comemoração em pânico, correria e morte.

A equipe médica da Santa Casa de Poços de Caldas, vizinha a Bandeira do Sul, nunca havia testemunhado um desastre como o que levou dezenas de pacientes a entrar pelas portas do serviço de emergência, na noite de domingo. Passado o impacto inicial dos primeiros atendimentos, médicos e enfermeiros se desdobram para atender os feridos, a maioria adolescentes que continuam demandando cuidados. Até o início da tarde de terça-feira, 10 dos 27 pacientes que deram entrada no hospital permaneciam internados.

Três pessoas receberam alta terça-feira, até as 13h: Laís Rafaela de Lima, Lucas Tarcísio da Silva e Diego Rodrigues do Prado. Auxiliar de produção de 24 anos, Diego mora em Botelhos, também no Sul de Minas, a 455 quilômetros de Belo Horizonte, e participava da festa em Bandeira do Sul com um grupo de amigos. Por sorte, teve poucos ferimentos, nas costas e no pé direito, além de trauma no rosto. Do momento em que a festa se transformou em tragédia, lembra-se pouco. Apenas o suficiente para perceber que nasceu de novo, inclusive para seus parentes. “Eu estava a cinco metros do trio elétrico. Tomei um choque forte e apaguei, batendo o rosto no chão. Só acordei de madrugada, na UTI da Santa Casa (de Poços de Caldas). Minha família ficou sem informações e pensou que eu tivesse morrido”, relembra.

O estudante Augusto José Siqueira, que mora em Palmeiral, distrito de Botelhos, completou 17 anos no dia da tragédia e comemorava o aniversário com amigos no pré-carnaval. Ele foi levado para a Santa Casa de Poços de Caldas e transferido para um hospital particular da cidade. Na terça-feira, voltou à Santa Casa. “Ele teve 30% do corpo queimado, mas o quadro é estável. O que mais preocupa são as queimaduras de terceiro grau nos tornozelos, pois houve perda de tecido ósseo. O rapaz passará por uma cirurgia de debridamento, que consiste na retirada de bolhas formadas nas lesões, que podem causar infecções”, explicou o médico Carlos Nilton Ribeiro de Carvalho, que acompanha o paciente.

A professora Joana Darc Soares Siqueira, de 29, mãe de Augusto, se emociona ao relembrar a tragédia. “Chegamos a Bandeira do Sul e nos deparamos com o caos. Tinha tênis esparramados para todo canto, pessoas chorando e andando sem rumo, procurando por parentes. Meu filho disse que viu gente morrendo do lado dele”, disse. Além de Augusto, permaneciam internados na Santa Casa Cristiano Gabriel Pereira, de 21; Isadora Muniz Reis, de 18; Jenifer Fernandes Tobias, de 12; Larissa Marques Barreiro, de 13; Nayara Franciele Garcia do Carmo, de 17; Paulo Sérgio Soares dos Santos, de 16; Raianny Gabrielly Silva Ferreira, de 7; Yale Alves Franco, de 11; e Karoline Alves Franco, de 14 anos, atendida na unidade de terapia intensiva (UTI) e considerada o caso mais crítico tratado na cidade.

O paciente com quadro mais grave foi transferido na segunda-feira para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), em Belo Horizonte. Sofreu queimaduras em 27% do corpo, principalmente na cabeça e tronco. “Ele teve perda da visão esquerda e queimaduras de terceiro grau no nariz e boca”, informou o cirurgião plástico José Osmar Loures, que cuida de sete vítimas da tragédia. Há 20 anos trabalhando na Santa Casa, ele disse que nunca tinha vivido situação tão caótica na profissão. “Com esse tanto de gente atingida, foi a primeira vez. A maioria dos feridos tem de 15 a 17 anos e apresentava queimaduras nas coxas e pernas.”

O médico explicou que as queimaduras de primeiro e segundo graus afetam apenas a epiderme, com formação de bolhas. As de terceiro grau afetam terminações nervosas e são consideradas mais graves. “Consideramos alto risco de óbito quando um adulto tem acima de 40% do corpo queimado. Para as crianças, o risco é acima de 20%”, disse José Osmar. Mais vítimas da tragédia em Bandeira do Sul permanecem internadas em outros hospitais da região, mas as autoridades não dispõem de uma relação que informe quantas são e em quais municípios estão. (Com Landercy Hemerson e Paula Sarapu)


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