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Estado de Minas

Arqueólogo comprova importância da preservação na Serra do Curral


postado em 20/02/2011 07:14

Depois da visita ao muro de pedras, Dirson mostra outro lado da Serra do Curral, desta vez em Sabará, na Grande BH. O caminho é a estrada velha, de terra, que conduz a duas estruturas de pedra – uma com 5m de profundidade e 2m de diâmetro e outra na medida 5m por 3,5m –, já bem danificadas pela passagem de jipeiros. As bordas estão quebradas e os cacos repousam no fundo, entre plantas. “É uma pena”, comenta o integrante do Movimento Saudade e Adjacências.

Conforme a tradição oral, que atravessou gerações conta Dirson, “as estruturas seriam poços para torturar os escravos que trabalharam na região, nos tempos coloniais. Um colega nosso, que passa muito por esses lados, recorda-se de ver um portão de ferro no poço maior”. Mas a princípio, segundo o arqueólogo Carlos Magno Guimarães, da UFMG, seriam caieiras ou fornos de fabricação de cal para uso na construção de casas. Nos séculos 18, 19 e início do 20, tais construções eram comuns.

No dia 11, o arqueólogo visitou os locais e agora está empenhado na elaboração de um parecer sobre a importância dos sítios e a necessidade de preservação. Ele explicou que o muro de pedra e valos eram recursos técnicos usados na divisa de propriedades e manter animais presos dentro de um território. Para ele, que se disse surpreso com a construção, o muro pode estar associado às origens de Belo Horizonte, mas, sem o desenvolvimento de uma pesquisa sistemática, tudo não passa de especulação.

Mais adiante, num paredão de rocha, Dirson mostra uma cavidade que teria sido mina de ouro de intensa exploração no período colonial. “Estamos num trecho importante da Estrada Real, com muitos pontos que ninguém conhece. Se não forem tomadas providências, é possível que, em pouco tempo, mais estragos ocorram”, disse. O secretário de Cultura de Sabará, Sérgio Alexandre, diz que as estruturas não têm tombamento pela prefeitura, mas vai fazer um pedido ao Conselho Municipal do Patrimônio para uma vistoria ao local, que fica perto da Região do Triângulo, a fim de avaliar a situação.

Serra dos Congonhas

Para entender melhor os primórdios de BH, que, segundo especialistas, ainda são pouco estudados, a equipe do Ministério Público Estadual recorre aos estudos do jornalista, escritor e historiador Abílio Barreto (1883-1959), idealizador e diretor do Museu Histórico (MHAB) que leva seu nome e fica no Bairro Cidade Jardim, na Região Centro-Sul da capital. No texto O primeiro possuidor e povoador das terras de Belo Horizonte, publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Barreto escreveu que, “em 1701, após a épica entrada de Fernão Dias Paes pelos sertões das futuras Minas Gerais, em demanda da Serra das Esmeraldas, quando a gente de Borba Gato, de Rodrigo Castelo Branco e outros aventureiros recentemente arribados a nossas plagas, começaram a povoar as adjacências de Sabará e as margens do Rio das Velhas, seduzido pelas mesmas perspectivas de abundância de ouro e atraído por Bartholomeu Bueno da Silva, entre outros, veio reunir-se a ele o seu futuro genro, João Leite da Silva Ortiz.

Barreto revela ainda que Ortiz teria ficado “impressionado pelos aspectos atraentes da Serra das Congonhas (mais tarde Serra do Curral) e suas encostas, prevendo, talvez, encontrar aí boas faisqueiras e ouro, prolongou-as e, a certa altura, descobrindo bela situação com ótimas terras de cultura, boas aguadas e magníficos postos para criação, deles se apossou, fixando-se definitivamente com numerosa escravatura nesse lugar, onde estabeleceu fazenda, a que denominou Areado, parte do mesmo solo em que está assentada a cidade de Belo Horizonte. (…) João Leite da Silva Ortiz era um paulista de alta linhagem, nascido na Vila da Ilha de São Sebastião, descendente de uma das principais famílias de São Paulo. (…) Certo é que, por volta de 1707, já o arraial de Curral d’El Rey existia em terras de Ortiz, onde este enriquecia com os produtos de sua fazenda de criação, plantações e outros negócios com os mineradores.”

O professor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) arquiteto Tito Flávio Rodrigues de Aguiar, autor de tese de doutorado sobre Belo Horizonte, dá a sua contribuição para fazer a ligação entre o muro de pedras e as origens da capital. Ele também desconhece a existência do monumento, mas destaca que a Fazendo do Cercado, derivada da sesmaria, estava localizada onde é hoje o Vale do Cercadinho, entre os bairros Buritis e Palmeiras, na Região Oeste. E dá sugestões que podem ser aproveitadas pelos pesquisadores envolvidos no assunto. “Além de curral e divisão de propriedades, pode ter sido obra de alguma mineradora; estabelecimento de alguma fábrica que, no século 19, era muito comum na zona rural; resquício de lavra e aqueduto.”


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