
"Desde que a Vix nasceu, sempre focamos no exclusivo, no diferencial, no que é mais difícil de fazer e encontrar"
Paula Hermanny, fundadora da Vix
2023 é um ano especial para Paula Hermanny. A economista completa 50 anos de idade e comemora os 30 anos da sua marca, Vix, que ganhou o mundo com biquínis cheios de charme e detalhes manuais. Apaixonada por praia, Paula se mudou de Vitória, no Espírito Santo, para a Califórnia, nos Estados Unidos, com planos de estudar inglês e acabou revolucionando a moda praia no exterior. Mais tarde, quando trouxe a marca para o Brasil, ela acertou ao ampliar o mix de produtos de beachwear para lifestyle, vestindo as mulheres em todos os momentos, inclusive no inverno. Nesta entrevista, Paula faz uma viagem do passado ao futuro, revivendo momentos marcantes à frente da Vix.
Qual é a sua relação com a praia?
Nasci em Vitória indo para a praia todo fim de semana. Capixaba adora praia, é onde a gente se encontra. Meus pais sempre gostaram de praia, eu também, e sempre viajamos para destinos de praia. Quando fiz 13 anos, comecei a surfar e só pensava nisso. Rodei campeonatos, tinha patrocinador, mas minha mãe não me deixou seguir carreira. A praia sempre foi muito presente na minha infância e adolescência, por isso escolhi morar em San Diego, lugar que tem cultura de praia e não é tão frio. Continuo a amar praia. Todo ano vou para Costa Rica. Aqui na Califórnia, quando é verão, vou todo fim de semana à praia. Por ano, vou umas quatro vezes ao Rio de Janeiro. Meu apartamento fica a duas quadras do calçadão e vou todo santo dia à praia para caminhar e dar um mergulho. Para mim, o mar é a melhor terapia que existe. Falo que as pessoas são mais felizes na praia, e é verdade. A água do mar traz uma energia boa.
Desde nova, você observava e acompanhava a moda da praia?
Eu amava biquíni. Pedia uns 10 de presente de Natal para a minha mãe. Tinha uma marca em Vitória que adorava e, de tanto ir à loja, fiquei amiga das donas. Sempre gostei muito de moda e sempre quis usar roupas diferentes, nunca queria estar igual aos outros. Queria usar as marcas que eram relevantes na época. A minha avó materna fazia roupas para mim, os modelos que via nas revistas, mas ela não costurava malha, então biquíni tinha que comprar mesmo. Amava quando ela me levava a lojas de tecido. Já a minha avó paterna era espanhola, chiquérrima e sempre usava marcas que nem conhecia, como Hermès e Courrèges. Aprendi muito sobre moda com ela, foi uma escola pra mim.
Você sempre gostou de moda, mas acabou se formando em economia. Quais eram os seus planos?
Na verdade, não sabia muito bem o que ia fazer, tanto que resolvi vir para os Estados Unidos estudar inglês. Pensava em ter meu próprio negócio, mas moda era um hobby. Quando chegou o verão aqui, vi a oportunidade de trazer a moda praia do Brasil. Fiquei muito decepcionada quando fui comprar meu primeiro biquíni. Não queria usar um modelo brasileiro, tão pequeno, então resolvi comprar um mais comportado, mas não achei nada nas lojas. Era tudo horroroso, sem charme, frouxo. Aí resolvi usar os meus biquínis. Aqui ninguém se arrumava. As pessoas iam para a praia para fazer esporte ou pegar sol, não existia essa cultura de se arrumar, ser feminina. A Vix foi pioneira ao trazer moda para a praia, para o mercado de resort e de swimming. Como amava praia, moda, biquíni, foi muito natural. Fiquei muito animada e acendeu uma luz: quero fazer isso. Voltei para o Brasil e procurei uma marca de Vitória, mas na época a conversa não se desenvolveu. Fui ao Rio e trabalhei com a Rygy, que fazia biquínis supertransados. Eles abriram as portas da empresa pra mim. Ficaram superinteressados em adaptar a modelagem ao mercado americano para exportar. Trabalhamos por dois anos adaptando as modelagens. Eles me deram a estrutura e eu fiquei muito mais focada na pesquisa do mercado americano, como eles iam se adaptar à moda brasileira. Foi um combinado bem-bom.
As norte-americanas ficaram enlouquecidas com os biquínis?
Foi ótima a aceitação, tanto das lojas como das revistas da moda. Ninguém daqui tinha biquíni com detalhes dourados, fivela de resina, tecidos especiais e modelagens mais charmosas, que valorizam o corpo. As pessoas ficaram muito interessadas nas novidades. Saímos na Sports Illustrated, revista publicada uma vez por ano que era chamada de bíblia da moda praia. Modelos relevantes vestiram cinco dos nossos biquínis nessa edição, foi quando a Vix estourou. Aí o mercado abriu as portas pra gente, as lojas queriam vender as nossas peças, que não eram fáceis de encontrar. Os biquínis aqui eram fio dental ou enormes. A Vix veio com uma modelagem entre uma e outra. Desde o começo, muitas celebridades usaram os nossos biquínis, entre elas Kate Moss, Jennifer Aniston e Gisele, mas tudo foi muito orgânico. Nunca pagamos para ninguém usar. Elas viam nas revistas, tinham desejo e compravam.
Em que momento você resolveu montar sua própria marca?
Sempre quis ter o controle do estilo. A Rygy era uma marca mais consolidada, já acostumada a fazer do jeito dela e eu estava querendo mudar um pouco as coleções. Ficou mais difícil a relação, por isso resolvi abrir a minha própria marca. Procurei uma fábrica que poderia produzir pra mim. Comecei com uma produção pequena. A exclusividade ajudou a criar desejo, e isso foi bem importante. Fui crescendo aos poucos, até ter mais conhecimento do mercado americano, que é muito mais exigente. Aqui, se você prometer milhões de coisas e não cumprir, é totalmente cancelado. A primeira fábrica, em Petrópolis, não era própria, mas produzia exclusivamente para a Vix. Foi ótimo, porque não tinha conhecimento da produção e fiquei mais focada em venda e estilo. Abri o escritório no Rio de Janeiro em 2004 e contratei estilista, modelista e diretora comercial. Só levei a marca para o Brasil em 2007, mas estilo e fabricação sempre foram brasileiros. Sempre fiz questão de ter o DNA brasileiro, de mostrar que a Vix é uma marca brasileira, mesmo sem a intenção de vender para o mercado brasileiro. A Vix faz uma moda praia muito globalizada, mas com o charme e o DNA do Brasil.
O que motivou você a trazer a marca para o Brasil?
A marca ficou conhecida nos Estados Unidos por conta das celebridades, mas não era vendida no Brasil. Minhas amigas brasileiras vinham aos Estados Unidos de férias, viam a marca nas melhores lojas, mas não podiam comprar, porque até então a nossa modelagem era brasileira adaptada para exportação. Fomos entrando no Brasil aos poucos, muito por conta do desejo do mercado brasileiro. A primeira coleção ainda foi com a modelagem exportação, com bumbum full, e depois de alguns anos levamos a moda praia original brasileira.
Hoje em dia as vendas da Vix estão 40% nos Estados Unidos e 60% no Brasil. Por que o mercado se inverteu?
Como a nossa produção era totalmente voltada para o mercado internacional, quisemos entrar no Brasil pequenos e exclusivos. Só vendíamos para duas lojas: Daslu e Mixed. Uma das estratégias era abrir uma loja própria da Vix e expandir de swimwear para lifestyle. O mercado de roupas nos Estados Unidos é muito mais concorrido, então quisemos experimentar a expansão do sortimento no Brasil. A marca começou aqui na Califórnia, mas foi além da praia no Brasil, e isso deu muito certo. Hoje temos 20 lojas próprias no Brasil.
Como surgiu a ideia de fazer roupas?
Veio de um desejo meu de que a Vix não fosse só uma marca de biquínis. Queria ver a cliente entrar na loja e fazer a mala completa para viajar, do biquíni e da saída de praia ao vestido. Consegui realizar esse desejo e hoje vendemos chapéu, bolsa, sandália e roupa. Como a Vix ficou muito conhecida pelos detalhes manuais, queria introduzir isso na roupa. Até hoje, no Brasil, são poucas as marcas que fazem trabalho manual, tanto que os nossos best-sellers são as peças que têm algum detalhe feito a mão. Fazemos tudo na nossa fábrica. Lançamos a primeira coleção completa em 2012, quando abrimos a primeira loja no Rio de Janeiro. Começamos só com vestido, sandália e bolsa e faz uns três, quatro anos que passamos a ter um sortimento para todas as estações, até o inverno. Além da moda praia, fazemos roupas urbanas com um DNA de resort, que atendem, com charme, todos os eventos. Na nossa loja não tem couro, mas sempre tem um tricô mais aberto, com pontos mais diferentes. Não trabalhamos com jeans. Fazemos calças mais despojadas, mais charmosas, mais pantalonas, com tecidos que são mais maleáveis. Usamos muito linho 100%, que por si só já tem um DNA de praia. Levamos os detalhes manuais dos biquínis para as alças dos vestidos, por exemplo. Temos casacos também, mas sempre com foco nos materiais mais orgânicos e naturais.
De onde vem o seu interesse por trabalhos manuais?
Sempre gostei de usar peças diferentes, que não eram fáceis de encontrar. Sempre usei tricô e crochê, que as minhas duas avós faziam, e gostava de modificar as roupas. Cortava a calça jeans e colocava um detalhe, um bordado. Se queria um sapato de franja, ia lá e fazia. Sempre gostei do enfeite. Então, desde que a Vix nasceu, sempre focamos no exclusivo, no diferencial, no que é mais difícil de fazer e encontrar. Sempre tivemos uma equipe de bordadeiras e uma equipe de estilo muito criativa, que focam nos detalhes manuais, por isso optamos pela fabricação própria. Sabemos que não é fácil, mas nunca perdemos de vista esse DNA e as pessoas reconhecem a Vix por esse diferencial.
Por que você escolheu instalar a fábrica em Petrópolis?
Escolhi Petrópolis porque lá tem um polo de confecção importante e queria ter certeza de que teria a possibilidade de expansão. Meu diretor de operação é de lá e trabalha comigo há 20 anos. Não tenho medo de internalizar, pelo contrário. Tenho muito orgulho de manter a produção interna por conta do controle de qualidade em todas as etapas, desde a escolha do tecido, e não só quando a peça está pronta. Um ponto importante é que 90% da mão de obra é feminina.
No ano passado, vocês lançaram o projeto Casa Vix, que capacita mulheres em situação de vulnerabilidade social. Como funciona?
Venho de uma família de mulheres que sempre trabalharam muito e queria devolver o sucesso da Vix através de um projeto social, dando oportunidade de trabalho para mulheres. A Casa Vix é uma escola que ensina mulheres a costurar e fazer trabalhos manuais que complementam os nossos produtos. Estamos na terceira turma. Na coleção desse mês, lançamos o primeiro biquíni feito pelas alunas do projeto, do modelo Bia, que é um best-seller. A nossa fábrica absorve algumas dessas alunas e as outras estão prontas para entrar no mercado de trabalho.
Como é a sua rotina?
Moro na Califórnia, onde temos um escritório que atende o mercado externo. Mas vou quatro vezes por ano ao Brasil, na época de aprovar as coleções, e fico de duas a três semanas. Temos no Rio de Janeiro estilo, marketing, expedição e fabricação. Estou muito envolvida com estilo e business de modo geral. Adoro a parte de estilo e todas as peças são vestidas e aprovadas por mim.
A Vix está em quantos países?
Estamos em mais de 40 países. Brasil, Estados Unidos e algumas boutiques mundo afora, na Europa, Ásia e África. Vamos abrir um e-commerce na Europa, no segundo semestre, e continuamos a abrir lojas. No ano passado, inauguramos cinco lojas no Brasil. Minas Gerais é o terceiro estado mais importante de vendas no país, só perde para Rio de Janeiro e São Paulo. Nos Estados Unidos, vamos abrir mais duas este ano. Além das lojas próprias, estamos em 40 pontos de venda de atacado.
O que você sente quando pensa que a empresa está chegando aos 20 anos?
Sinto muito orgulho de ter mantido a marca com o mesmo DNA há 20 anos e de continuar crescendo com segurança financeira. Sou a única dona, o nosso capital é próprio, e isso é motivo de orgulho. Muitos colaboradores estão com a gente desde o começo e formamos uma família dentro da empresa. Vejo que eles têm a mesma paixão e orgulho que eu tenho pela empresa. Apesar de o negócio ter crescido muito nos últimos anos, as pessoas novas sentem a cultura muito forte dentro da empresa, sentem-se parte instantaneamente da marca, têm orgulho, paixão e gostam de usar. Isso pra mim é o mais importante, manter uma cultura de paixão, mesmo a empresa estando no tamanho que está. Quando vou a Petrópolis, é uma alegria andar na fábrica. As pessoas me param para dizer que amam trabalhar lá, que são muito bem tratadas e agradecem pelo emprego. Isso é motivo de muito orgulho.
Já pensou em voltar a morar no Brasil?
Toda vez que vou visitar o Rio penso: ainda volto para morar aqui. Meus filhos estão adolescentes, um com 19 e outro com 17 anos, então, de repente, esse tempo está chegando. Adoro morar nos Estados Unidos, mas também gosto muito do Brasil e tenho o privilégio de curtir isso.
Como você define o momento que está vivendo?
Tenho a mesma energia e empolgação que tinha quando comecei a marca. Ainda dá um frio na barriga quando alguma coisa acontece, apesar de ter mais experiência com negócios, o que é muito importante, ainda mais em momentos difíceis. Hoje em dia, a empresa está mais consolidada e tem uma equipe mais experiente, então diria que esse momento é muito bom.
Você imaginava que construiria uma marca tão forte e conhecida?
Não imaginava que a marca seria do tamanho que é e nem conhecida como é. Ainda trato a empresa como se fosse pequena, como se não tivesse todo esse reconhecimento. O meu coração ainda dispara quando vejo alguém usando a marca. E isso acontece o tempo inteiro, porque não tem um lugar onde vou que não tenha alguém usando Vix. Há dois meses, viajei para a Amazônia e vi hóspedes do hotel fazendo stand up paddle no Rio Negro com as nossas roupas. Sinto orgulho, muita satisfação e gratidão a todo mundo que fez a marca ficar tão conhecida.
Quais são os próximos passos?
Continuar crescendo. Crescemos 50% do ano retrasado para o ano passado e mantivemos esse mesmo crescimento no primeiro trimestre deste ano. Não posso falar que estamos acelerando ou desacelerando, mas continuamos crescendo. Mais do que nunca, estamos cheios de projetos. Um deles é a festa para celebrar os nossos 20 anos.
