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Estado de Minas entrevista/Will Lobato - Arquiteto e urbanista

Eterno aprendiz

Vanguarda e perenidade são pilares presentes no trabalho de Will Lobato, cuja arquitetura conta a história das pessoas e dos espaços


05/03/2023 04:00 - atualizado 02/03/2023 18:41

arquivo pessoal
arquivo pessoal (foto: arquivo pessoal)
 
Ele era um daqueles assíduos leitores do Caderno Feminino que esperava com ansiedade a publicação mensal da seção Casa Mineira, na qual eram publicados projetos de arquitetura e decoração de interiores assinados pelos principais nomes da cena de Minas Gerais.  Willemberg Lobato, ou simplesmente Will Lobato para deixar o nome menos solene, nasceu em Pitangui e, quando chegou em Belo Horizonte para fazer faculdade, o setor vivia uma época áurea movida por novidades constantes: se, por um lado, os avanços tecnológicos prosperavam como nunca, havia um sentimento ligado às coisas da origem e à memória afetiva. Muita criatividade, muitos eventos, muitos concursos e premiações sintetizam esse período tão especial.Determinadas características fazem parte da personalidade das pessoas: na do jovem aprendiz predominava uma grande curiosidade por tudo e a admiração pelos mestres, profissionais já consolidados e concorridos, que apareciam na mídia e com os quais, ele pensava, poderia aprender e conviver em um futuro próximo.Movido por essa pauta, o arquiteto foi construindo sua carreira. Buscou vaga de estagiário em escritórios de arquitetura conceituados, como o do Carlos Alexandre Dumont, o Carico. Naquele ambiente, procurou absorver o mix de elementos que envolvia o negócio, da parte criativa à técnica passando pela oportunidade de se aprimorar culturalmente.“Aproveitava os convites de mostras e exposições que chegavam e me candidatava a ir, caso ninguém se interessasse", conta. Dessa forma, passou a frequentar galerias e exposições de arte, conhecer artistas e pessoas, fazendo network e enriquecendo seu repertório.Isto sem contar a possibilidade de usufruir das publicações assinadas pelo escritório, revistas europeias, holandesas e japonesas, entre outras, que alimentavam o seu aprendizado e formatavam a consciência do que estava acontecendo no mundo em termos de design e inovação.Fã de carteirinha de Freusa Zechmeister e de Ângela Roldão, outras decanas da arquitetura mineira, aprendeu com essa turma que a vanguarda tem que estar lincada à perenidade e que um projeto embalado com arte se torna invencível.Em certa ocasião, ganhou um prêmio de um dos grupos de lojistas ligados à área em BH, uma viagem com quem dividiu a cabine de um navio com Ildeu Koscky. Longe de colocar empecilho diante da diferença de idade que os separava, adorou a chance de conhecer de perto aquele cara considerado uma lenda da decoração mineira. “Foi muito bom ouvir seus casos e vivências. Acrescentou muito para mim. Tenho grande interesse pela história de vida dessas pessoas, acho que minha alma é velha”, assegura.Da mesma forma, encarou como uma honra conceber, a quatro mãos com o experiente decorador Flávio Bahia, um restaurante na Casa Cor. Em uma mostra na qual predominam concepções minimalistas, assépticas e tecnológicas, ambos resolveram esquentar a funcionalidade do ambiente com influências africanas, antiguidades e boas obras de arte. Área de convívio social na mostra, o local foi um dos mais admirados pelos frequentadores.Entre projetos residenciais e comerciais, Will é responsável pelo o do bar Gilda, aberto recentemente, na Savassi, no qual um espaço antigo, da década de 1950, foi pensado em todos os detalhes para se tornar um local de encontros e entretenimento.
 
 
Você tem sido apontado como um dos nomes promissores da arquitetura em Belo Horizonte. Como vê isto?
Fico honrado com essa menção. Busco sempre surpreender e aliar arquitetura e arte ao meu trabalho.

O que o levou a escolher a arquitetura como opção profissional?
Descobri o curso às vésperas do vestibular e me encantei com a profissão. No início, cursava design de produto na UEMG e arquitetura na UFMG. Com o passar do tempo, optei pela arquitetura, porque ela consegue englobar outras áreas.

Para você, qual o significado da profissão?
Essa profissão tem a mescla da parte técnica com teor estético. A junção equilibrada e a dosagem certa, a depender de cada projeto, faz com que ele seja certeiro.

E por que se voltou para os interiores?
Sempre desejei trabalhar com interiores, desde o início da faculdade. Gosto de criar ambientes e pensar no morador e usuário do espaço.

O que não pode faltar em um projeto residencial?
Sempre digo que o que não pode faltar é a funcionalidade e que ele deve ser a “cara” do dono, sem nunca perder de vista a identidade do usuário. Hoje, o cliente deseja voltar para casa depois de um dia de trabalho e vivenciar o seu espaço como um “scape” do mundo. Isso se traduz em luz, cores, texturas, cheiros e funcionalidade.

E em uma proposta comercial?
Já na primeira reunião com o cliente comercial, solicito o plano de negócio. Sem isso, fica inviável a elaboração do projeto arquitetônico. Como foi o caso do bar Gilda, recentemente inaugurado na Savassi. Uma casa antiga na esquina da Rua Levindo Lopes com a Rua Antônio de Albuquerque. Participei de todo o processo, desde a criação do nome, conceito e a concretização do plano de negócio.
 

"O meu desejo de trabalhar com interiores, em grande parte, é devido à divulgação dessa profissão pelo Caderno Feminino"

 

Você teve mentores importantes?
Tive o privilégio de conviver e trabalhar com grandes nomes e escritórios de Belo Horizonte, como Carico, Ângela Roldão, Sito Arquitetura. Esse último é especializado no mercado imobiliário. O André, o Gustavo e a Ana formam um trio competente no assunto e estão por detrás de grandes lançamentos do mercado.

Quais são suas referências mineiras/nacionais?
Acho que Minas é realmente um celeiro de grandes designers de interiores, como Carico, Freusa Zechmeister, Angela Roldão, Flávio Bahia, Sandra Penna, e tantos outros. Nacionalmente, admiro Isay Weinfeld e Márcio Kogan.

Se tivesse de projetar uma casa/apartamento para você, como seria?
Um grande galpão sem paredes internas e muita luz natural.

Qual o sentido de participar de mostras decorativas?
Para um jovem profissional é se mostrar para o mercado e aos jornalistas; para os lojistas, é mostrar o produto instalado e ambientado.

Além das mostras, como divulga seu trabalho?
Confesso que preciso melhorar muito minha divulgação via mídias sociais. Meus próprios divulgadores são meus ex-clientes.

Você concebeu um restaurante em parceria com Flávio Bahia em uma Casa Cor. Como foi esse trabalho a quatro mãos?
Um grande desafio. Tivemos que construir o espaço do zero, mas o processo foi um grande aprendizado. Já admirava muito o Flávio e tive a honra de trabalhar com ele, que é referência em vários pontos, principalmente no conhecimento, garimpagem e colocação de obras de arte.
Antigamente, havia os famosos concursos de arquitetura em consórcio, que revelavam profissionais e apresentavam muitas oportunidades. Ainda existem collabs importantes do mercado atual?
Os concursos continuam existindo. Quanto às collabs, penso que são um belo formato de trabalho para alguns projetos que demandam conhecimentos diversos. O futuro para muitas profissões, acredito, será nesse formato.

A Copa do Mundo no Catar colocou em evidência uma arquitetura, digamos, esplendidamente futurista. Como se sente com relação a esses projetos monumentais?
A arquitetura, assim como a moda, pretende transmitir uma imagem. Cada cliente deseja exteriorizar seu ego, desejo íntimo e comercial. Com isso, as alturas, curvas, brilhos e luzes têm suas funções práticas e também a função de transmitir a grandiosidade da marca, da cidade ou do cliente.

Como vê a evolução da arquitetura em BH?
A arquitetura que sempre está à vista de todos é a do mercado imobiliário. Hoje as construtoras desejam um projeto inovador e diferenciado para agregar valor. A época dos prédios “banheiros” passou.

Projetando o futuro, em que lugar você quer chegar?
Primeiramente, desejo estar feliz com meu trabalho, sem grandes estresses e com uma vida equilibrada entre profissional e pessoal.

Quem lhe estendeu a mão quando você dava os primeiros passos na profissão?
Nos primeiros anos, as mostras foram grandes divulgadoras do meu trabalho, principalmente as promovidas pela Josette Davis, responsável pelas Modernos Eternos e Morar Mais.

O que gostaria de contar ao Caderno Feminino?
O Caderno Feminino foi um grande mensageiro do bem viver em Minas Gerais. Lembro-me de, ainda antes de estar na faculdade, aguardar a edição de domingo para ver os projetos ilustrados e tão bem relatados por esta jornalista. O meu desejo de trabalhar com interiores, em grande parte, é devido à divulgação dessa profissão pelo Caderno Feminino. 


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