(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas SPFWn54

Nova forma de relacionamento

Além da inusitada venda de ingressos, evento trouxe castings diversos, a volta dos lounges de patrocinadores e celebridades retornando à passarela


27/11/2022 04:00

Marta De Divitiis
especial para o EM
 
Lenny Niemeyer
Lenny Niemeyer (foto: Marcelo Soubhia/agfotosite )
 

São Paulo - A Mooca, tradicional bairro paulistano da zona leste da cidade, historicamente caracterizado pela grande quantidade de imigrantes italianos, abrigou o galpão Komplexo Tempo, quartel-general da 54ª. Edição do SPFW – São Paulo Fashion Week, que aconteceu entre os dias 16 e 20 de novembro. O espaço foi transformado em hub, com salas de desfile, lounges de patrocinadores e uma ocupação artística, com exposição de murais, instalações e pinturas e onde aconteceu a maior parte dos 48 desfiles, 43 dos quais presenciais. Além dele, o Shopping Iguatemi recebeu várias apresentações e o luxuoso hotel RoseWood, o desfile da Ellus, comemorativo dos 50 anos da marca.
 
Weider Silvério
Weider Silvério (foto: Marcelo Soubhia/ agfotosite)
 
 
O Festival SPFW+IN.PACTOS - Criatividade, Moda, Arte, Sustentabilidade, Inovação, Conhecimento, iniciado na edição passada e se encerrando agora, provocou reflexões sobre as mudanças que precisam ser feitas hoje para atingir as metas de um planeta mais humano e harmonizado até 2030.
A diversidade, tão cobrada em outras edições, era uma tendência que vinha crescendo e foi consolidada nesta temporada. Nas passarelas a diversidade de biotipos e de raças se fez presente. Modelos Curves, Plus Size, trans e PCD vieram em quase todas as coleções, assim como castings totalmente compostos por modelos pretos como na passarela de Meninos Rei, Apartamento 03 e Naya Violeta, estes dois últimos que ocorreram significativamente dia 20, Dia da Consciência Negra.
 
 Ellus
Ellus (foto: Marcelo Soubhia/ agfotosite)
 

MODELANGENS CONTRATANTES Nos cinco dias do evento ficou claro a existência de duas vertentes, uma das quais que trabalha volumes exagerados, especialmente nas mangas, como em Silverio e Anacê. O balonê foi resgatado dos anos 1980 para a passarela, aterrissando em barras de saias e vestidos como em Ângela Brito e ora como babado em decotes e mangas. Foi visto inclusive no masculino de João Pimenta, que detalhou mangas e lateral de calças com volumes obtidos de pregas horizontais. O estilista sobrepôs ainda aplicação de estampa em peças como sobretudos e jaquetas. Lenny Niemeyer trouxe para a moda praia volumes de babados ondulados, em peças curtas e vestidos longos, exuberantes. Renata Buzzo usou franzidos redondos na parte de cima e os franzidos vieram ainda em formato redondo nos tops, oferecendo um aspecto de estranheza às peças.
 
TA Studio
TA Studio (foto: Marcelo Soubhia/ agfotosite)
 
 
Por outro lado, algumas marcas optaram por peças mais soltas no corpo, com modelagem básica, porém sofisticada. Misci, que desfilou num dos ambientes da Sala São Paulo, no bairro da Luz, veio com peças confortáveis e uma alfaiataria luxuosa. Essa alfaiataria impecável surgiu também em A. Niemeyer e na Neriage. Another Place trouxe calças com vazados laterais embaixo do cós. A alfaiataria da Ellus emprestou sofisticação em linhas retas, sem deixar de lado o estilo rock&roll. Lilly Sarti mostrou peças fluídas e leves, com um pouco de transparência. Na Soul Básico, masculina, as formas confortáveis, com acabamentos em cores contrastantes predominaram. Sofisticada, a modelagem reta com recortes vazados veio em Modem.

TRABALHO ARTESANAL Os trabalhos artesanais que antes apenas detalharam peças, ganharam grande destaque nesta temporada, inclusive na moda masculina. O mineiro Célio Dias, à frente da Led, trouxe o crochê, sua marca registrada, em novas possibilidades, como na faixa presidencial, irreverentemente colocada sob um costume vermelho, desfilado pela recém-eleita deputada federal trans, Erika Hilton. A De Pedro, que colocou na passarela o artista Vitão (visto recentemente na Dança dos Famosos, da Re(de Globo), com calça de franjas e, no fim, com uma saia ampla, também em crochê com franjas. O crochê da marca foi composto ainda em looks com tecidos planos. O Projeto Ponto Firme, que trabalha com egressos do sistema penitenciário, sob a coordenação do designer Gustavo Silvestre, apresentou jacquard em vestido longo, calças e tops, num franco desenvolvimento desde sua primeira aparição há alguns anos. O ateliê Mão de Mãe, que começou a se apresentar durante a pandemia, trabalha o crochê de forma suntuosa e elaborada.
 
Retalhos costurados em tecido detalharam sobreveste na Santa Resistência vestida pela cantora Iza e a Thear trouxe o macramê em detalhes e peças sobrepostas. O patchwork surgiu em Sou de Algodão e o bordado em talagarça, normalmente usado em almofadas e tapetes, detalhou minipelerine franjada, no mesmo desfile. Lino Villaventura, que encanta por meio de bordados, apliques de tecidos e nervuras, fazendo de cada peça uma obra de arte, trouxe para a passarela vestidos fluidos ou estruturados, boa parte deles no comprimento curto. A Thear usou aplicação de faixas onduladas sobrepostas a peças lisas, além de macramê sobre blusas.

ESTAMPAS VIBRANTES A marca Meninos Rei tem na estampa, que remete aos tecidos africanos, seu ponto forte. Ela surgiu em tonalidades vibrantes, geométricas ou orgânicas. Ela veio ainda nas frutas gigantes da Santa Resistência. Outra marca que traz as estampas para o centro da discussão é Naya Violeta, que trouxe um colorido exuberante, em tons fortes. Estampa de xícara de café e de peixes ofereceram um certo ar divertido às peças. Estampas em formas orgânicas vieram em Dendezeiro e pinturas à mão, que nos levam para a floresta amazônica, apareceu no estreante Maurício Duarte.

PLISSADOS E LAMINADOS Os tecidos laminados, coloridos ou dourados e prateados estavam presentes em Patrícia Vieira, tanto em vestidos como em costumes femininos. Apareceu também nos plissados prata de Apartamento 03 e nas mangas bufantes e calças compridas de Weider Silvério. O brilho mais discreto veio no costume feminino do À La Garçonne. Até mesmo na moda praia da Tryia o brilho surgiu, em cós de biquíni e top. Lilly Sarti colocou na passarela tecidos laminados como no paletó e a Ellus usou em jaqueta bomber. O plissado reinou em Neriage, especialmente num vestido vinho, sóbrio, usado pela ex-modelo e atriz, ícone dos anos 90, Silvia Pfeifer.

FRESCOR DOS ESTREANTES Greg Joey apresentou peças com modelagem confortável, franzidos localizados e nervuras detalhando peças como um vestido chemisier. Trabalhou o tricô em pontos gigantes, que fizeram as vezes de acessório, ora como uma estola, ora como bolsa. Buzina desfilou o xadrez Vichy em saias, tops e sobre vestes e trabalhou a modelagem com amplos volumes. Algumas peças – vestido e macacão, por exemplo, vieram em modelagem mais reta, acinturadas por faixas de tecido como os obis japoneses.
 
Heloisa Faria trabalhou tanto os volumes como as estampas, em peças em que algumas mangas podem ser destacadas, oferecendo mais possibilidades de uso. Cores vibrantes e modelagem ora ampla, como nos caftans vestidos por homens e mulheres, ora mais ajustada, numa variedade de estilos. Maurício Duarte é o primeiro estilista natural do estado do Amazonas a participar do evento e se apresentou por meio de um fashion film. O profissional, que trabalha promovendo a economia circular, mostrou peças pintadas com técnicas manuais com as cores da natureza.

CRIA COSTURA Em sua segunda participação no evento, o projeto Cria Costura, de aceleração criativa desenvolvido pelo INMODE, em parceria com a SMDET – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, contemplou mulheres da periferia paulistana, que foram capacitadas em técnicas de modelagem sob orientação do estilista e consultor Jefferson de Assis. Assim puderam desenvolver habilidades de criação e design, numa metodologia de zero desperdício. Em parceria com as empresas Ellus e Vicunha, a aceleradora criativa Cria Costura formou 42 novos profissionais da moda.
 
Na passarela foram apresentados trabalhos alinhados com as tendências de moda, com muitos volumes, peças assimétricas e em tonalidades vibrantes como o roxo e o amarelo, além do preto, branco e prata. O desfile mostrou a evolução das profissionais, desde a última edição, que na primeira fila de convidados, se emocionaram ao ver suas criações na passarela. Porque a moda, além de prover lares, tem essa magia que traz o brilho no olhar.
 
Dourado
Apartamento 03 (foto: Marcelo Soubhia/ agfotosite)
 
 
Minas marca presença 
 
Qual a sensação de voltar ao desfile presencial? O que essa coleção representa para você neste retorno às passarelas?
Já havia dito em algumas entrevistas que não sou muito entusiasta com o digital, ainda hoje desenho minha coleção a mão e tenho realmente paixão por tudo que é executado manualmente. Tem um significado sobre o tempo das coisas, é estar grato por passar por uma pandemia diante do cenário que vimos e continuar a estar aqui realizando o que mais gosto. Essa coleção faz uma conexão direta com minha última apresentação presencial que coincide em acontecer exatamente mesmo dia um ano atrás, e havia toda uma emoção por retornar a ver os amigos, após tantos meses de pandemia. A imagem daquele casting usando peças em ouro me deu o que precisava para esse momento.
 
Apartamento 03
Apartamento 03 (foto: Marcelo Soubhia/ agfotosite)
 

Como você avalia a necessidade de inclusão na moda?
O meu trabalho é sobre beleza, sempre. E ao externar meu olhar sobre o que é belo eu preciso me enxergar no outro. É incrível os anos que o mercado de moda existe e o quanto precisou caminhar para que na imagem houvesse uma real mudança. Não é absurdo lembrar que há poucos anos um desfile com casting de 35 modelos só houvesse 2 ou 3 negras? O Brasil tem aproximadamente 65% da população preta e como ela consumiria moda se ela não se enxergasse nas campanhas das marcas? Se ela não vê pessoas pretas em cargos de decisão?

Para você, qual o significado e mensagem que você quer passar do desfile que acontece no Dia da Consciência Negra?
É muito significativo ocupar esse lugar, nesse dia, lembrando que eu não via representatividade quando adolescente que pudesse me mostrar que era possível querer ser designer. Então acredito que esse meu lugar é exatamente a imagem que não tive. 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)