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Estado de Minas Lançamento

Inclusão como premissa

Mineiras criam marca para valorizar trabalho de portadores de necessidades especiais


07/11/2021 04:00

Augusto Corrêa
Augusto Corrêa com a mãe, Tati Mares Guia (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
 
As amigas Anna Paula Costa e Cynthia Jaber tinham um sonho de abrir um negócio juntas, que de certa forma unisse a expertise das duas. Ana Paula é educadora, e Cynthia, representante têxtil. Depois de anos conversando, a ideia só surgiu em outubro de 2020, em meio à pandemia. Criar uma marca que usasse como matéria-prima a arte de pessoas especiais. Assim nasceu a Pim Estilo. Em 45 dias tudo estava pronto e no lançamento toda a coleção se esgotou. Um ano depois, a dupla lança a terceira coleção e o desafio é encontrar novos artistas.
 
A intenção de abrir um negócio juntas já existia. Em setembro de 2020, a primeira ideia era abrir uma empresa que trabalhasse com tecido de qualidade e preço acessível (expertise de Cynthia). Anna Paula, mulher de muita personalidade, sempre foi muito decidida, com estilo bem definido e muito determinada, e como compradora sempre soube o que queria. Anna Paula é psicóloga e pedagoga, começou como professora na educação infantil, no Pitágoras, e chegou ao cargo de diretora. É autora de inúmeros livros e capacitou centenas de milhares de professores em todo do país. Desde criança, sempre teve muito contato com crianças com síndrome de Down porque sua avó trabalhou com Helena Antipoff, e foi a primeira pedagoga formada no Brasil, e montou em Belo Horizonte o Instituto de Reeducação Santa Terezinha, para trabalhar com os portadores da síndrome de Down, “e todos os sábados tinha apresentação das crianças para seus pais e nós íamos. Desde pequena convivo com essas crianças. Elas são muito amorosas, algumas mais agressivas, mas me acostumei e convívio muito bem com elas desde os meus 4 anos. Quando Cynthia veio com a ideia sabíamos que queríamos uma moda de qualidade, diferente, mas ainda não sabíamos o que era”.
 
Moda
Desenho em um panô para vender como canga (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
 
 
No feriado de outubro de 2020, Anna Paula e a amiga Tati Mares Guia fizeram uma viagem juntas, com suas famílias, para Arraial d’Ajuda. Tati e o marido, Jack Corrêa, têm dois filhos especiais, um deles, Augusto, tem síndrome de Down e gosta muito de desenhar. Foi nessa viagem que Anna Paula, vendo o desenho, teve o insight. Pediu à amiga se poderia transformar aquele desenho em um panô para vender como canga, e Tati concordou. Ideia compartilhada com Cynthia, e totalmente aprovada.
Depois de muita pesquisa, encontraram a Tratti Têxtil, no Espírito Santo, que ajudou em todo o processo de confecção. A ideia era fazer 120 peças, e a dupla vendeu 700. Aumentaram a coleção, criaram novas peças e fizeram o lançamento em 4 de dezembro de 2020, na cozinha gourmet do Bouquet Garni, para 60 pessoas. Foi um sucesso total. Venderam praticamente toda a coleção e abriram lista de espera.
 
“Assim nasceu a Pim Estilo. Queremos dar voz a essas pessoas especiais, que têm tanto talento, valorizá-las, mostrar a elas, às suas famílias e à sociedade que elas são capazes, que podem ser produtivas e podem ter sua renda. Esse é o propósito da Pim Estilo. Não ficaremos reféns do calendário de moda, porque nossa proposta é ir além. Queremos lançar produtos úteis com estampas de pessoas portadoras de necessidades especiais, sejam elas autistas, com síndrome de Down, cadeirantes, cegas, mudas, não interessa qual o tipo de deficiência, o importante é o talento”, explica Anna Paula Costa, que é mais conhecida por seu apelido, Pim, que deu nome à marca.
A empresa ganhou um apoio de peso no primeiro lançamento. A empresária mineira Érika Mares Guia, que reside em São Paulo há anos, colocou as peças na sua loja CJ Mares. Em uma produção que fez, colocou uma canga na bolsa de algumas top models com a tag explicando a proposta da nova label e todas postaram fotos com o panô, como Alessandra Ambrósio e Renata Kuerten, o que ajudou a divulgar o trabalho, mas as vendas aumentam mesmo quando pessoas comuns dão seus depoimentos e fazem seus posts.
 
 Pim Estilo
Cynthia Jaber e Anna Paula Costa (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
 
 
A Pim Estilo é a primeira marca no país de moda inclusiva. Outras grifes já fizeram ações esporádicas, mas a empresa, que tem como DNA esta causa, é a das mineiras Anna Paula Costa e Cynthia Jaber, as precursoras. Como os portadores de necessidades especiais são considerados, legalmente, incapazes, é preciso ter um responsável legal. No caso do Augusto Corrêa, é sua mãe, Tati. Ela é consultada para aprovação de cada interferência que querem fazer nos desenhos.
 
O artista Augusto Corrêa tem 21 anos, e seus desenhos são sequência de pequenos quadrados. A combinação e mudança de cores dão o movimento e  criam desenhos que emocionam. A primeira coleção da Pim foi com os quadrados; a segunda foi com as bolas, e as sócias fizeram algumas interferências, inserindo imagens de animais, como onça, tigre, borboletas, dando um toque animal print.
 
A coleção para o verão 2022 veio carregada de força, e como interferência entrou o dragão, um dos animais preferidos do artista. Além de panôs, camisas, chemises, vestidos, lenços, saias, blusas, batas, pareôs, cafetãs introduziram os quimonos, bolsas com forro estampado, nècessaire e jogo americano.
 
O artista ganha um percentual sobre cada peça vendida. O primeiro valor a educadora fez questão de levar em espécie, para que Augusto sentisse e entendesse que se tratava do valor do seu trabalho, uma remuneração para ele comprar coisas de que precisasse. A partir daí, a mãe abriu uma previdência privada para ele, pois PNEs não podem ter conta bancária. Augusto se emocionou muito quando viu seu desenho em uma canga. E mais ainda quando viu o chemise que sua mãe usaria no lançamento.
 
Uma das cenas marcantes foi a família Corrêa no aeroporto. Acostumados a atraírem o olhar das pessoas por terem dois filhos especiais, em uma das viagens, porém, enquanto os pais faziam o chek-in, Augusto ficou um pouco para trás e foi abordado por uma mulher. O pai correu ao seu encontro. Augusto tem dificuldade de fala, mas entende o que as pessoas falam. E ela estava perguntando se ele era o artista Augusto Corrêa, e dizendo que tinha comprado toda a coleção dele e dando parabéns pela beleza de seu trabalho.
 
“Esse é o nosso objetivo, que essas pessoas sejam valorizadas, reconhecidas não pelas suas limitações, mas pelo seu talento. Isso serviu para comprovar que estamos no caminho certo. Queremos que grandes empresas abracem nossa causa. Queremos colocar o trabalho de todos eles em sacolas retornáveis de supermercados, em caixas de produtos, em uniformes de empresas”, explicam.
 
Segundo o IBGE, existem 45 milhões de portadores de necessidades especiais no país e apenas 16 milhões estão empregados. “Esse é o nosso desfio, encontrar esses talentos, porque muitos não são valorizados pela própria família. O mais difícil é fazer essa curadoria. Nosso próximo artista é um menino de 11 anos, de Esperantina, no Piauí. Ele faz um trabalho completamente diferente, é uma pintura abstrata, mas com uma combinação de cores maravilhosa. Seu nome é João Elyo, e ele foi convidado para expor suas obras no Carrossel do Louvre, em Paris, em abril do próximo ano.”
Outro grande desfio das empresárias é encontrar lojas para revenderem as peças. Por enquanto, as vendas estão sendo feitas pelo Instagram da marca @pimestilo.
 
 


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