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Estado de Minas Joias

Olhar questionador

A busca por formas inusitadas leva designer carioca a desenvolver trabalho que se propõe a subverter o que conhecemos de joalheria através de desenhos simples


14/02/2021 04:00

(foto: Hugo Garcia/Divulgação)
(foto: Hugo Garcia/Divulgação)


Questionar regras, rever conceitos, quebrar padrões, fugir do tradicional. Todos os caminhos levam para a marca carioca Bautti, que mostra um olhar inovador para a joalheria. Os desenhos sempre surgem a partir de questionamentos. “Tento buscar formas que sejam diferentes do habitual, mas sem adereçar demais as peças”, resume Caio Bahouth, que já é reconhecido como designer de mobiliário. Ele encontrou nas joias uma forma de expressar seu lado mais artístico.
 
(foto: Hugo Garcia/Divulgação)
(foto: Hugo Garcia/Divulgação)
 
 
A marca já nasce questionando a função principal da joia, que é adornar o corpo. Será que não existe um excesso de elementos nas peças? Logo, vem a vontade de buscar o simples, o que não significa ser simplório: é não exagerar nos adereços. Não que os desenhos sejam minimalistas ao extremo, mas são pensados para que o outro já entenda no primeiro olhar.
“Como vim da escola de design de produto (não estudei moda), olho para a joalheria com o olhar do design industrial. Busco formas inusitadas para fazer o mínimo necessário, sem excesso, sem algo única e exclusivamente com função estética”, diz.
 
(foto: Hugo Garcia/Divulgação)
(foto: Hugo Garcia/Divulgação)
 
 
Nas palavras de Caio: seu trabalho tem linhas que, tão simples, até uma criança poderia ter desenhado. A linha Stella parte de um desenho de estrela que ele faz desde pequeno, com um grande valor afetivo. Começa por uma cruz e desse eixo surge um emaranhado de linhas retas com efeito tridimensional. “Transformei um desenho tão simples, um rabisco feito com papel e caneta, em uma forma tridimensional cheia de curvas que remete à estrela. Isso foge da joalheria tradicional.”
 
(foto: Hugo Garcia/Divulgação)
(foto: Hugo Garcia/Divulgação)
 
 
O desejo de fazer diferente levou o designer a propor uma nova estrutura de anel. Ao desconstruir a forma e a função clássicas, ele mostra que a peça não precisa, necessariamente, envolver toda a circunferência do dedo. O anel Sexteto é formado por três meias ali- anças de metal. De frente, você só enxerga as seis pedras cravejadas nas pontas. O mesmo se observa no anel Disco, com três círculos de prata aparentes. Como não se vê a parte de trás, a sensação é de que as peças estão flutuando.
 
(foto: Hugo Garcia/Divulgação)
(foto: Hugo Garcia/Divulgação)
 
 
A Bautti também questiona certos padrões. Por que as pedras devem ser sempre o destaque de uma peça? Em um anel de noivado, por exemplo, o metal existe meramente para dar suporte ao brilhante. Mas não é o que Caio acredita. Ele inverte os papéis e coloca a pedra como complemento do metal. “Aqui o metal é sempre protagonista, até porque está em maior volume. A pedra tem a função de acabamento, é como se fosse a cereja do bolo. Não é o elemento principal, mas dá todo o sentido para a peça.”
 
(foto: Hugo Garcia/Divulgação)
(foto: Hugo Garcia/Divulgação)
 
 
Desta ideia de subverter a lógica da joalheria surge o desenho do anel Sub. Nada mais é que uma chapa de metal que passa por cima da pedra, em formato de cilindro. Isso acaba gerando uma sinergia da peça com o usuário. “A impressão é de que a pedra vai cair a qualquer momento, de que o anel vai ruir, quebrar. Então, ele só fica completo quando alguém o está usando”, comenta.
 
(foto: Hugo Garcia/Divulgação)
(foto: Hugo Garcia/Divulgação)
 
 
O brinco Telha também gera este curioso desconforto. As três chapas côncavas de metal formam a estrutura do pendente, que tem uma pedra redonda na ponta, na iminência de cair. Com o movimento, a peça balança, fazendo parecer que a pedra está escorregando do suporte de metal e vai despencar. A brincadeira se repete nos brincos Equilibrista e Elo: uma pedra redonda fica posicionada bem no meio da estrutura de metal curva e vazada.

AUTORAL Caio se mostra questionador desde a época de estudante. Na faculdade, percebeu que o curso design era mais voltado para o usuário do que para o autor. Aprende-se que o cliente é sempre o foco. Mas ele pensava diferente. O estágio com Zanini de Zanine, que na época despontava como designer nacional de mobiliário, apresentou um caminho possível, que conecta arte e design. Logo que se formou, ele abriu com três amigos o estúdio O Formigueiro, que já participou de exposição em Milão e ganhou prêmios, seguindo uma linha mais autoral.
 
A joalheria faz parte da sua vida desde a barriga da mãe, que trocou a educação física por design de joias quando ele nasceu. Ela faz joias sob encomenda e personalizadas. Caio fazia muitos desenhos para a mãe, mas não era um trabalho fixo. “Até que, de dois anos para cá, senti a necessidade de desenvolver um trabalho que fosse mais íntimo, mais meu. Sempre trabalhei em equipe, mas precisava colocar para fora minhas ideias, meus rabiscos, de forma direta. Um trabalho mais artístico.”
 
Bautti é a forma como se pronuncia o seu sobrenome, Bahouth, que é libanês. Para Caio, era importante fazer referência à família, pois entende que o desejo de trabalhar com joalheria é uma herança. “Venho de uma família ligada a arte. Meu avô materno era arquiteto, embora fizesse um trabalho burocrático, em Furnas, o outro avô era funcionário público e pintor autodidata e a minha mãe, designer de joias”, aponta. A primeira coleção traz um apanhado de desenhos e ideias que Caio vem desenvolvendo e testando há muitos anos, inspirado em todas estas referências.


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