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Estado de Minas ENTREVISTA/ADRIANA VASCONCELOS OLIVEIRA

Bom gosto que ilumina

Determinação e foco são a base de vida da dinâmica empresária, que transformou seu sonho em negócio sólido que hoje é referência no segmento


postado em 29/12/2019 04:00

(foto: arquivo pessoal)
(foto: arquivo pessoal)

Dinamismo, competência, delicadeza e simpatia são marcas registradas de Adriana Vasconcelos Oliveira, uma mulher determinada, que sabe tomar decisões e na pré-adolescência escolheu sua profissão. Não desviou nem um dia sequer de seu sonho. Ousada, recém-saída da faculdade propôs abrir franquia de uma das maiores lojas de iluminação do país. Ouviu um sonoro não que serviu para desafiá-la. Dois anos mais tarde, o papel se inverteu e a empresa a procurou propondo a parceria. Enfrentou crises, preconceitos, concorrentes, e continuou firme, focada. Hoje, sua A. de Arte está com 32 anos de mercado, é referência em iluminação em Minas Gerais e tem marca própria de peças desenhadas por ela, com vendas  em todo o país.

''Não tenho dúvida, sou decidida, focada, e não sou de ficar olhando pra trás, olho sempre pra frente''

Adriana Vasconcelos Oliveira, empresária



O que gostava de fazer quando criança?
Esporte. Jogava vôlei e fazia natação no Mackenzie, porque morávamos perto do clube, e frequentava o Minas nos fins de semana. Gosto de gente, de turma. Uma coisa que me chamou a atenção é que sempre gostei muito de me relacionar, de ter muitos amigos. Não sou daquelas que preciso de me isolar, ter ano sabático. Se vou para uma praia deserta, em dois dias resolvo o problema, porque gosto de ver gente, de conversar. Sempre saí muito e tive turma de amigos.

O que a levou para a área de decoração?
Quando tinha 12 anos, minha mãe chamou uma profissional para decorar nossa casa. Quando vi o projeto todo colorido, fiquei tão apaixonada com os projetos e com a execução idêntica, os tecidos, as cores, que ali decidi que seria decoradora e nunca tive dúvida. Aliás, é uma coisa que nunca passou perto de mim: dúvida. Se tenho uma característica que de um lado é boa e de outro, às vezes, mal administrada pode ser ruim é que eu não tenho dúvida.

A que se deve essa certeza toda?
Minha mãe, Cecília Vasconcelos, me criou de forma muito independente. Sempre soube o que queria, desde a minha pré-adolescência. Comecei a namorar de mãos dadas, dentro de casa, na frente da minha mãe, aos 12 anos. Sempre decidi minhas coisas sozinha. Mudança de colégios, vestibular, enfim, tudo. Outro dia brinquei com minha mãe como ela me soltou tanto naquela época. Isso é uma faca de dois gumes. Poderia ter tomado dois caminhos, foi um risco, mas graças a Deus me tornei tremendamente responsável. Sempre fui boa aluna, boa amiga, boa filha, boa irmã. Lembro-me de que ia para as festas sozinha com amigos ou com meu irmão, inauguração de lojas etc., com 13,14 anos, de carona. Também não sou de ficar olhando pra trás, olho sempre pra frente. Elói, meu marido, é mais saudosista, gosta de ver filme dos meninos pequenos, álbum de fotos, eu não.

Nunca foi de fazer bagunça?
Não tinha bagunça, tinha movimento. É diferente. Participava de todas as gincanas do colégio e na cidade. Era ativa, participativa e responsável. Outra característica minha, sou estável, não mudo. Quando penso em uma coisa, vou naquilo, sou muito focada.

Você se casou cedo?
Fiquei noiva aos 17 anos. Conheci o Elói no Minas Tênis Clube. Ele era jogador de vôlei da Seleção Brasileira. Sempre fomos ligados ao esporte. Um dia, estava no clube de biquíni, na maior vergonha, porque era muito alta e magra – tinha o maior complexo –, e o Elói estava com a turma do vôlei, me viu e falou para os amigos: “Com a minha namorada eu não vou me casar não, mas se aquela loirinha ali me der trela, eu me caso com ela”. No sábado seguinte nos encontramos na casa de um amigo em comum, e ali começou nossa história. Casei-me aos 18 anos e tive meu primeiro filho aos 21.

Exerceu a profissão de decoradora?
Sim. Sempre gostei muito do que fazia. Quando ainda estava na faculdade, algumas amigas já pediam para eu decorar suas casas. Meu primeiro projeto luminotécnico foi assim. Minha amiga Dora Aleixo me entregou a chave de sua casa e pediu para eu fazer a iluminação. Não tinha gesso, abri o teto na laje, fiz um projeto lindo de iluminação e levei para a Fuma. O pessoal amou. Ali comecei a gostar muito de iluminação.

Este bom gosto veio de que lado da família?
Da minha mãe, que é muito criativa, muito prendada. Olhava um tecido e o transformava em cada roupa linda. Não me lembro de repetir roupa. Lembro-me de que comprei no Rio de Janeiro uma blusa toda de renda colorida, ela fez 15 e eu vendi todas na faculdade. Vi que amava o comércio. Nunca fui tímida, faz parte do meu temperamento e isso ajuda no negócio. Os natais da nossa casa eram lindos, as mesas sempre muito bem postas e arrumadas. Minha avó Martha de Vasconcelos veio da guerra, e era muito bem de vida para a época. Quando ninguém tinha carro, meu avô Décio de Vasconcelos tinha carro com motorista. Quem me contou isso foi o Eduardo Couri. Meu avô pegava muito no pé dela e ela decidiu se separar em uma época em que mulher separada era marginalizada. Começou a fazer bolos de casamento, que ela aprendeu com sua mãe, na Alemanha, para viver e criar dois filhos solteiros. Ela não olhava para o passado, só para o futuro. Mas tem uma coisa muito importante que eu falo com todo mundo, que é o olhar. Se você não reina seu olhar, desiste. Qualquer profissional tem que ver sua área. Se não enxergar o seu mundo, não adianta nada, você não cresce. Coragem, intrepidez, independência, tudo vem delas. Herdei tudo isso.

Quando decidiu abrir uma loja de iluminação?
Trabalhava demais, tinha dois filhos pequenos. Um dia, abri uma revista e vi a propaganda de uma loja chamada L'Abajour. Uma fábrica de luminárias lindas, inglesinhas, a linha que eu gostava. Em BH, quem vendia era a Patra, da Samaritana Gontijo, que era uma referência. Já tinha comprado várias lá para um cliente. Conversei com ela sobre a intenção de abrir uma franquia deles aqui e ela amou a ideia. Decidi abrir a loja, meu marido não gostou da ideia, mas como eu não tenho dúvida, toquei o barco. Fui para São Paulo. Era uma menina, sem nenhuma referência, e é claro que eles não me deram a franquia, disseram que já estavam em negociação com uma loja grande que abriria na cidade.

O que você fez?
Não desisti. Perguntei se ele me venderia as luminárias, ele disse que sim. Comprei o que eu quis, voltei, aluguei uma loja no segundo andar de uma casa. Montei um ateliê de iluminação, chamado Abatjour de Arte, em 1987. Neste tempo já tinha minha terceira filha, e meu marido incomodado com essa história toda. O que resolveu toda a questão é que quando entramos na loja, ainda vazia, tinha, na parede do fundo, um quadrinho escrito “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nEle, e o mais Ele fará”. Fiquei muito impressionada e o Elói mais ainda, porque ele é um homem muito temente a Deus, então disse que eu poderia fazer o que quisesse. Não conhecia ninguém naquela época, a não ser meus colegas que também estavam começando, como eu. Quem fazia sucesso era o Ildeu Koscky, a Crisálida Boerger. Decoração era coisa de luxo. Pedi ajuda para minha sogra, Sara Ávila, que é um capítulo à parte na minha vida.

Como assim?
Por causa dela fiz desenho na Escola Guignard e belas-artes na UFMG. Ela foi minha professora, era maravilhosa. Quando montei a loja, me ajudou na inauguração. Montou uma coletiva com trabalhos de artistas renomados como ela, Ricardo Carvão Levi e vários outros. Compusemos as artes com as peças da minha loja. A abertura da loja foi o maior sucesso.

A loja demorou para pegar?
Na semana seguinte vendi minha primeira luminária para um cliente da Cícera Gontijo, o Georges Perona. Fiquei muito feliz e ali comecei minha trajetória. Fiquei lá por dois anos, até que o Jorge Mendonça, da L'Abajour, me chamou.

O papel se inverteu.
Sim. Ele propôs abrirmos a loja, mas precisava de um espaço maior. Tem uma história muito legal. Não queria sair de onde estava, desci a rua e vi uma casa grande em reforma, perguntei o que seria e o mestre de obras informou que seria uma padaria. Mas eu sentia que aquele lugar era meu. Isso foi em uma quarta-feira. Na quinta, voltei para descobrir quem era o dono da casa, e consegui o nome e telefone da proprietária depois de muita procura. Ninguém atendia. Liguei para o 102, informações, contei uma história e, mesmo sem poder, eles me deram o telefone da vizinha. Liguei e pedi para deixar um bilhete sob a porta, pedindo para me ligar com urgência. Isso tudo em um fim de semana. A mulher me ligou domingo à noite no maior susto. Ela ficou com uma raiva, disse para eu procurar outro lugar porque era um senhor que estava montando a padaria para seu filho. Uma semana depois, meu telefone toca. Era a senhora da casa perguntando se ainda queria o ponto. O homem desfez o negócio do nada. Comecei a chorar. Vi que era Deus me dando aquele espaço.

E aí?
Entrei e montei a loja. Já passei por várias crises, mas não olho para o lado, não fico procurando novas oportunidades, olho para a frente. Ele me mandou os abajures assinados, era uma loja com fábrica enorme em São Paulo. Fiquei muitos anos como franquia. Depois a Lampe Color teve um problema financeiro sério e fechou. Nessa época comecei a aceitar peças importadas, porque não tinha quem a substituísse no Brasil. Não existia luminotécnico, usava spots, era o contemporâneo da época.

Quando partiu para o importado já tinha feito ampla pesquisa de mercado?
Já. Sou muito curiosa, observadora e detalhista. Sempre fui. Sou incapaz de ver alguma coisa de que goste e não procure saber de onde é. Desde uma coisa que eu coma até uma lixeira bonita. Gosto de saber de tudo. É assim que descobrimos coisas novas e diferentes. Isso nos enriquece. Cheguei em um restaurante e vi um prato maravilhoso. Não sosseguei enquanto não descobri de quem era, chamei até o gerente. Era de uma designer japonesa. Fui lá no dia seguinte. Ela é premiada, tem livros publicados. Toda a louça da minha loja é dela.

Como tocou a loja todos esses anos enfrentando todas as crises?
Sou focada. Não abandono o barco, mas os problemas que enfrentei não foram só as crises, era uma mulher dona de loja. Isso era muito difícil. Na época eu não percebia, hoje vejo que tinha muito preconceito. Tinha cliente que batia ponto na minha loja. Ia todas as tardes, sentava-se na minha frente e ficava. Elói e eu tivemos que ter muita sabedoria e elegância para contornar as situações. Samaritana e Luciana Gontijo eram duas irmãs, mais velhas, fortes, mas eu era uma menina, e na área de iluminação só tinha homens e homens bacanas, e a maioria dos profissionais de decoração eram mulheres. Concordo com elas, era muito melhor tratar com homens, do que comigo, que muitas vezes ia trabalhar de topete, porque desfilava no Showçaite – ação do colunista Eduardo Couri em benefício da Jornada pelo Natal do Menor (atual Jornada Solidária Estado de Minas).

Como o Eduardo a conheceu e chamou para participar das ações que ele fazia?
Meus cunhados gêmeos, Cristiano e Bernardo, faziam balé e foram dançar no Showçaite. Fui assistir com o Elói. Eduardo me viu, me achou bonita e pediu que a Vera Comini – que hoje é uma grande amiga – descobrisse quem eu era. Quando ela disse meu nome ele percebeu na hora que era filha da Cecília, amiga de infância dele. Então me convidou para desfilar. No primeiro momento não aceitei, mas o Elói me deu força. Aí aceitei. E foi muito bom. Fui na primeira festa e gostei muito das pessoas, do ambiente. Entrei para nunca mais sair. Já tinha feito propaganda de algumas marcas. Aos 16 anos, fui com a Lucélia Santos e o Fábio Júnior para uma gravação de fim de ano na Globo, mas detestei o ambiente. Mas da turma daqui gostei muito, o pessoal era muito bacana. Ninguém estava ali para se mostrar por vaidade, porque todo mundo era bonito mesmo, mas para se distrair. Adorei participar. Foram oportunidades que Deus me abriu e que abriram meus horizontes. Sempre soubemos quem nós éramos, tínhamos e mantemos até hoje nossos princípios – somos de igreja evangélica – e toda essa visibilidade que passamos a ter não nos afetou como vaidade, mas nos trouxe grandes amigos, momentos de lazer, romantismo. Tudo isso só nos acrescentou. Era muito gostoso. Não levantávamos bandeira de ajudar os pobres, aquilo era uma consequência. Se não podemos estar lá, criamos oportunidade para quem pode estar.

Isso também a ajudou profissionalmente?
Claro. O jornal era o único meio de comunicação que a gente tinha e o Eduardo Couri nos dava muita força. Ele foi na minha loja, falava dela no jornal, mas não só da minha loja, de todos que o ajudavam nas suas ações sociais.

Quando e por que criou a AVL?
Comecei a criar peças para meus parceiros há cerca de 15 anos, para minha loja. Eles colocavam no catálogo e vendiam para quem quisesse. Nunca liguei para isso, até que meus filhos chegaram na loja e falaram que estava errado porque o catálogo era todo meu, e eu não ganhava nada. As peças começaram a sair em revistas nacionais e pessoas do país inteiro querendo comprar. Teríamos que montar outra empresa, e nasceu a AVL, que funciona sob demanda. Quando precisa de uma peça que falta no mercado, desenho e produzimos com parceiros. Não fazemos luminárias de arte, só peças comerciais.

Como foi conduzir por 32 anos uma loja sozinha?
Não foi difícil, porque sou uma mulher de decisão. Sei o que quero. Hoje, meus filhos Natália e Elói estão comigo na loja. Natália desde cedo foi conduzida e treinada para isso. Estudou na Fundação Torino e fala italiano e inglês fluentemente. Desde os 10 anos viaja comigo para todas as feiras e mostras e hoje é responsável pela área administrativa e internacional da loja. Elói é advogado, atuou muitos anos na área, mas percebemos que precisávamos de uma pessoa para olhar as questões legais, de contratos e financeira da loja. Ele ocupou esse lugar. Eu fico na área comercial e marketing. O que segura a empresa por tanto tempo é estar focada naquilo que ela decidiu empreender.

Quais os planos para 2020?
Hoje, nosso foco são projetos luminotécnicos. Da mesma forma que nosso serviço mudou, o mundo mudou e precisávamos mudar nossa imagem, por isso mudamos nossa logo e nosso nome. Temos que renovar sempre, e viramos A. de Arte. A parte “decorativa” é inserida no projeto luminotécnico. Não vi passar os 32 anos de loja. O comércio é uma grande terapia, não há monotonia. Fico louca para chegar segunda-feira, porque amo ir para a loja, amo trabalhar. Planos eu sempre tenho. Estamos com uns projetos muito bacanas para a loja, não queremos que ela cresça, mas que ela amadureça, e para isso não tem limite. Estamos com uma consultoria de São Paulo há um ano e meio, no processo de empresa familiar. É muito bom. Queremos ser cada vez mais criativos.


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