O Brasil entra em campo hoje para tentar avançar na Copa, mas em outras disputas mundo afora o país anda fazendo ainda mais bonito. São seleções de ouro, cujo o primeiro lugar foi conquistado em competições de lógica, raciocínio, números e cálculos matemáticos certeiros. Nelas, estudantes de escolas públicas e particulares, do ensino fundamental, passando pelo médio até chegar à graduação, dão mostras de como habilidades, persistência e muito esforço são peças fundamentais para fazer muitos gols em partidas limpas, nas quais o conhecimento é chave para seguir adiante no jogo e conquistar a vitória.
Foram 25 horas de viagem de Belo Horizonte a São Paulo, chegando a Istambul e, depois, à cidade de Antália. Além do Brasil, estiveram presentes estudantes do Panamá, Inglaterra, Austrália, Romênia e Turquia. O torneio ocorre entre alunos de escolas que usam o programa Mente Inovadora – metodologia de ensino com jogos de raciocínio de tabuleiro integrados à grade de aulas que busca estimular o desenvolvimento de habilidades metacognitivas e socioemocionais. Foram 12 partidas, sendo que cada aluno teve a oportunidade de enfrentar estudantes de todas as outras equipes participantes. Representando o ensino público, o Brasil teve como competidor também a Escola Municipal Visconde de Mauá, da cidade de Portão (RS), que ficou em segundo lugar.
O colégio mineiro coleciona títulos. É hexacampeão na etapa regional e tricampeão na olimpíada nacional, entre os meninos do 4º ao 7º ano e também entre os do 8º e 9º ano do ensino fundamental. Na etapa internacional, onde só competem os mais novos, o Eros Gustavo levou medalha de prata em 2016 e bronze em 2017. Os estudantes dos anos finais do fundamental não participam, pois o Brasil é o único país que tem uma olimpíada nacional para o 8º e o 9º ano.
“Acreditar e ter determinação”. Foram essas as características atribuídas aos vitoriosos pela diretora pedagógica da escola, Aparecida Maria Boaventura Barbosa, a Tia Cida, que há 39 anos comanda a instituição de ensino em Contagem. Ela lembra que o trabalho é árduo. Em setembro, a escola teve o “esquenta”, uma preparação para as competições. Em novembro, a olimpíada interna selecionou os quatro melhores alunos de cada faixa etária que representarão a escola. No fim de março, eles ganharam a etapa regional e, mês passado, a olimpíada nacional, que definiu os representantes brasileiros.
De Minas, a tarefa de brigar pelo título esteve nas mãos de Emanuel de Paula Santos, de 11 anos, aluno do 6º ano, e de Matheus Henrique Mendes Rodrigues, Tiago Araújo Vidal e Amanda Coura Fernandes, todos de 12 e do 7º ano. “Eles são comprometidos, responsáveis, muito bem-educados e têm a família presente”, afirma Tia Cida. “É a realização de um sonho para a escola. Ser o melhor do mundo não é para qualquer um”, diz, plena de orgulho.
Efeito positivo na sala de aula
A metodologia com os jogos de tabuleiro funciona na escola há nove anos. Desde então, as notas melhoraram consideravelmente, com destaque para matemática e redação, segundo ela. “Os meninos ficam mais centrados e a habilidade de raciocínio, melhor”, explica. O colégio sabe reconhecer esforços e premia também, em cerimônia interna, os alunos que não foram classificados para as competições, mas que ajudaram, estudando junto, aqueles que venceram a chegar no topo do pódio.
Emanuel levou ouro em equipe e também individual, com a sua especialidade: o octi. Nesse jogo, o objetivo é chegar à base do oponente. Ele diz que usou como estratégia atacar pelos lados. “Na penúltima partida, vi que seria eu o campeão. Tinha dois pontos a mais que o adversário e, mesmo perdendo, ficaria em primeiro”, conta. Para a vitória em equipe, o estreante da competição – os outros três foram para a Ilha de Creta, na Grécia, no ano passado – chamou a responsabilidade para si: “Faltava um ponto para ganharmos em equipe e eu disse que podiam confiar em mim, que eu ia vencer”.
Matheus foi medalha de bronze em equipe em 2017 e, este ano, levou, além do ouro, a prata individual no jogo quoridor, cujo objetivo é também chegar ao outro lado do tabuleiro. “A gente tem que olhar tudo o que está acontecendo ao nosso redor, algo que tem a ver com a realidade”, diz. Para ele, um pouco mais de paciência e treino foram decisivos para a vitória desta edição. Tiago, que ano passado saiu chateado com o terceiro lugar, agora, está com a certeza da missão cumprida. O menino do jogo das damas olímpicas, por meio do qual é preciso capturar todas as peças do oponente ou deixá-las imobilizadas, também acredita na maturidade da equipe: “Estávamos mais sérios no jogo, mais preparados”.
Amanda comandou o abalone. Nele, o jogador deve derrubar seis esferas do oponente para fora do tabuleiro. “Uma das táticas mais usadas é atingir o meio para ter mais controle”, ensina. “Como havia competidores que enfrentei no ano passado, tentei mudar mais as estratégias para confundir o adversário e facilitar para mim”, relata.
COMBATE A competição foi dura. Embora a equipe mineira já estivesse na frente logo no primeiro dia, foi preciso esforço e combate. Nas primeiras partidas, os alunos do Rio Grande do Sul dominaram o jogo. Passaram à frente também estudantes da Romênia. Na penúltima rodada faltava uma partida para ser campeão. Venceram as três seguintes. Para o ano que vem, fica um ar de quero mais. “O projeto vai muito além do troféu. O objetivo principal é trabalhar o cognitivo. O jogo é só um pretexto para os alunos usarem bem os recursos que no jogo são barreiras e na vida são dinheiro, água e outras necessidades. Se não souber usar, vai perder”, ressalta a professora Carla Andréa da Silva Gonzaga.