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Estado de Minas

Estudantes e professores comentam primeiro dia do Enem 2017

Prova escrita sobre desafios para a formação educacional de surdos no Brasil surpreendeu candidatos no primeiro dia. Exame teve questões sobre James Bond, HPV e Racionais MC's


postado em 06/11/2017 06:00 / atualizado em 06/11/2017 09:34

"Aprovei o novo formato de aplicação das provas, pois é menos cansativo para o candidato" - Bárbara Luiza Gonçalves, 18 anos, candidata ao curso de química (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2017 surpreendeu os estudantes e até professores experientes. Os candidatos tiveram de abordar na prova os desafios para a formação educacional de surdos no Brasil. No primeiro dia de provas, questões de humanidades e linguagens trouxeram artistas e personalidades brasileiras e internacionais. Alguns nomes que voltaram a aparecer, como Chico Buarque, Picasso e Clarisse Lispector, se misturaram a novatos no teste, como James Bond, Racionais MC’s e Gregório Duvivier. Violência doméstica, situação da Palestina e vírus HPV também foram temas de perguntas.

Muitos estudantes apostavam em temas polêmicos e com grande espaço na mídia, como a corrupção e o aniversário de 2 anos do estouro da Barragem do Fundão, em Mariana. Foi o caso de Alessandro Mateus Vieira, de 23. “Este domingo completa dois 2 anos da tragédia da Samarco. Achei que poderia ser o tema. Também pensei que poderia ser corrupção, Lava-Jato. Estaria na ponta da língua”, lamentou o jovem, que fez a redação em 35 minutos e acredita ter feito um bom texto, mesmo tendo se surpreendido. Antonio Alberto, de 27, também admitiu ter sido pego desprevenido. Para ele, um assunto com grande chance de ser exigido seria os novos formatos de famílias. “Está mais aceito pela sociedade e está sendo divulgado constantemente pela mídia”.

"O novo formato beneficiou quem trabalha aos sábados e teria de fazer as provas cansado" - Samuel Rodrigues, 25 anos, candidato ao curso de fisioterapia (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
O novo formato do Enem, com as provas em dois domingos consecutivos, dividiu os estudantes. O promotor de vendas Alexander de Almeida, de 24, desaprovou a mudança. Ele, que sonha fazer direito, fez as provas em 2014 e defende o modelo antigo: “O exame era num único fim de semana (sábado e domingo). A mudança não me agradou, pois deixa a gente nais estressado”, justificou o rapaz, que considerou as questões “tranquilas para quem estudou”. Por sua vez, Samuel Rodrigues Leite, de 25, aprovou a mudança. Ele também fez o Enem antes e deseja cursar fisioterapia: “Muita gente trabalha no sábado e teria de fazer as provas cansado. É o meu caso. O novo formato beneficiou este grupo de pessoas, que não é pequeno.”

"Fiquei intrigado como teor político inserido nas questões fechadas e avaliei o volume de texto como exaustivo" - André Luís Costa, 17 anos, candidato ao curso de economia (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Bárbara Luiza Siqueira Gonçalves, 18 anos, disse ter achado o tema da redação tranquilo. “Falei que a crise e a falta de investimento do governo brasileiro são entraves para a inclusão de deficientes auditivos e outros em educação pública de qualidade”, apontou. Ela disse ainda que conseguiu responder a média de 45 questões das provas, metade do total. “Como tenho um bebê e trabalho fora, não estudei como deveria para o exame.” Ainda assim, pretende fazer a segunda etapa no próximo domingo.

Na turma dos que gastaram menos de 4h na resolução da prova e desenvolvimento da redação, João Gabriel Costa dos Santos, 20 anos, se inscreveu no Enem pela segunda vez. O objetivo é uma vaga em Educação Física. “Achei as provas de português e história bem cansativas, até por que tenho desempenho melhor em exatas, mas respondi todas as 90 questões. Já o tema da redação me pegou totalmente de surpresa, então apelei para o improviso e citei que nem tudo é problema da esfera governamental: também a população promove a exclusão social dos deficientes por meio da intolerância e do preconceito”, detalha.

PENSAMENTO CRÍTICO Específica e surpreendente, a proposta de redação “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”, segundo especialistas em educação, chamou atenção. Apesar de as questões relacionadas a deficiências e inclusão social serem trabalhadas em sala de aula nos cursos preparatórios, a limitação à surdez foi desafiadora. “A especificidade dos temas já tem sido uma característica das últimas provas, porém o assunto não estava entre os esperados. Ainda assim, ele está totalmente dentro das possibilidades de escrita do aluno”, afirma a professora de redação do Chromos Pré-vestibular, Fernanda Nader.

"A prova de português estava mais fácil que no ano passado, quando fiz o Enem pela primeira vez" - Isabela Luiza Souza Silva, 18 anos, candidata ao curso de direito (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Segundo Fernanda, ao tratar a formação educacional dos surdos, o aluno será levado a estimular o pensamento crítico para pensar possíveis limitações dentro da educação que impedem a inclusão efetiva desse público em todos os setores. Ela diz que, ao escrever, o candidato não pode perder de vista que os aspectos destacados no texto devem atender à proposta do tema, que é a de apontar os desafios para formação dos surdos. “Como exemplos, temos a formação insuficiente do corpo de professores, que muitas vezes não contempla capacitação para atender a esse público.

Outro problema é a falta de domínio da Língua Brasileira de Sinais (Libras), o que dificulta o aprendizado e convívio social dos surdos com professores, demais colegas e funcionários”, explica. A professora destaca pontos positivos na escolha de temas tão específicos como o apresentado pelo MEC nesta edição, quando é levado em consideração o espaço reservado para o texto. “A redação tem 30 linhas e quanto mais o tema for limitado, melhor, porque o aluno consegue desenvolver de forma mais direta”, disse.

Especialista em português e redação, a professora Regina Mota também confirma o caráter desafiador da redação neste ano. “Recebi muitas ligações de pais e alunos comentando a dificuldade do tema. Mas, como trabalhei com meus alunos textos voltados para a temática das deficiências e acessibilidade, fica mais fácil”, afirma. A professora, que há 12 anos mantém um curso preparatório em BH, também destaca a atenção que os candidatos devem ter quanto à proposta central da redação.
"Esta é a minha segunda vez. Preferia o formato antigo, pois acho dividir a prova em dois domingos gera mais ansiedade" - João Gabriel dos Santos, 20 anos, candidato ao curso de educação física (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)

FORMAÇÃO CONTINUADA Ao falar dos desafios, ela destaca a falta de investimento tanto do poder público como do setor privado na formação dos professores. “É preciso ter profissionais que possam ajudar na inclusão dessas pessoas na sociedade. Outra preocupação deve ser incluir as famílias nesse processo, para que a formação seja continuada em casa”, afirma. De modo geral, Regina Mota diz ter sido o tema uma proposta de grande relevância social. “Achei sensacional por que são 7 milhões de pessoas fazendo as provas de uma discussão que depois ecoa em toda a sociedade. É sempre muito importante refletir sobre essas questões”, afirma.

O texto da redação é dissertativo-argumentativo, com até 30 linhas, e deve ser desenvolvido a partir da situação-problema e de subsídios oferecidos pelos textos motivadores. É a primeira vez que a redação é aplicada no primeiro dia de provas. Ontem, os participantes também fizeram provas de linguagens, códigos e suas tecnologias; e ciências humanas e suas tecnologias, que somaram 90 questões de múltipla escolha. Neste ano, continuam em vigor os critérios de correção das cinco competências, conforme estabelecido na Cartilha de Participante – Redação no Enem 2017. O respeito aos direitos humanos será considerado na correção como previsto na competência 5: “Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.”


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