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Estado de Minas

Vagas ociosas desafiam cinco universidades federais em Minas

Com a saída de alunos para outras instituições, universidades públicas ficam com postos vazios, mesmo em cursos disputados. Na UFV, cadeiras inativas em medicina chegam a 25%


postado em 16/07/2015 06:00 / atualizado em 16/07/2015 07:46

Prédio dos cursos de medicina e enfermagem, na Universidade Federal de Viçosa: das 50 vagas anuais em medicina, ao menos 12 ficam ociosas (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Prédio dos cursos de medicina e enfermagem, na Universidade Federal de Viçosa: das 50 vagas anuais em medicina, ao menos 12 ficam ociosas (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)

Em meio à crise financeira ocasionada por cortes e contingenciamento de verbas, as universidades públicas têm outro problema para administrar. As vagas ociosas indicam uso aquém da infraestrutura dos cursos. Apesar de parecer um contrassenso quando se olha o número de candidatos por vaga nos processos seletivos, no meio dos semestres, as carteiras das salas de aulas têm perdido ocupantes. Há vagas em aberto até em cursos como medicina. Além de desistências eventuais, algumas mudanças tornam a evasão uma realidade com a qual as universidades precisam lidar.

As causas vão desde o aumento na mobilidade dos estudantes – tanto internamente quanto entre universidades –, devido à implementação do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), passam pelo desinteresse dos estudantes nas áreas escolhidas e vão até a abertura de cursos pelo Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) sem um estudo adequado das demandas. O Estado de Minas identificou ociosidade de vagas Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Universidade Federal de Itajubá e na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Desde que o curso de medicina foi implantado na UFV, em 2010, a média é de 25% de vagas ociosas a cada turma, que tem entrada anual. Na avaliação do pró-reitor de Ensino, Frederico Passos, essa é uma realidade que as instituições do interior tem lidado desde quando a UFMG passou a usar o Sisu como porta de entrada dos estudantes. Na UFV são ofertadas 50 vagas no início do ano. “Não é uma questão só de Viçosa, as universidades federais de Minas lidam com essa questão. A mobilidade não tem uma causa única. É difícil avaliar esse impacto, pois ainda temos pouco tempo de Sisu.” A UFJF enfrenta o mesmo problema com a turma de 2015 de medicina. Entraram 90 estudantes, mas 15 mudaram de instituição, o que fará com que haja a necessidade de abertura de edital para o preenchimento dessas vagas.

Natural de Itabuna, na Bahia, o estudante Jonathas Blohem Souza, de 20 anos, se mudou para Juiz de Fora para cursar medicina. E agora deixa a UFJF para iniciar o curso em Belo Horizonte, na UFMG. Para ele, o Sisu cria distorções que deveriam ser evitadas. “Muita gente quer fazer medicina. Quem tem a nota muito alta passa em várias. Alguém que merecia passar não consegue por causa de uma falha do sistema. O governo investe muito no curso de medicina e temos muitas vagas perdidas. Certamente na UFJF teremos carteiras vazias neste semestre”, diz.

O jovem foi aprovado em sete universidades: as federais de Minas, Amapá, Sergipe, Rondônia e Juiz de Fora. Também passou em uma faculdade particular, em Alfenas (Sul do estado), e na Universidade Estadual de Pernambuco. Como a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não foi suficiente para a primeira entrada na UFMG, Jonathas começou o curso em Juiz de Fora. “A estrutura de UFJF é muito boa. Aconselho todos a estudarem lá, mas a UFMG é uma das universidades mais importantes do país e da América Latina”, pondera. Depois de um semestre em Juiz de Fora, o jovem desembarcou esta semana com os pais em BH. “Milhares de pessoas dariam qualquer coisa para estar naquele lugar”, diz ele, se referindo à UFJF. “O sistema é muito errado e poderia ser melhorado com uma medida simples”, avalia.

PROCESSO LENTO


O pró-reitor de Ensino da UFV ressalta que não é possível ocupar essas vagas rapidamente. Assim como ocorreu com Jonathas, muitos estudantes optam pelo curso de medicina na primeira entrada nas universidades do interior. Como a UFMG oferece duas entradas, muitos preferem trocar. Como é possível usar a mesma nota do Enem do ano anterior, eles tentam vaga no segundo semestre. “Isso poderia ser resolvido se as inscrições da primeira e segunda entrada fossem anunciadas no início do ano. Já foi feito dessa forma”, avalia Frederico Passos.

Metas do Reuni influenciam


A abertura e ampliação de cursos em decorrência do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) sem um estudo prévio da demanda também é um dos fatores que levam à ociosidade de vagas. O pró-reitor adjunto de Graduação da Universidade Federal de Itajubá, Thiago Clé de Oliveira, chama atenção para o fato de as universidades terem aberto os cursos a partir de um processo de indução do Ministério de Educação (MEC). “Tínhamos a obrigação de cumprir algumas metas do Reuni. Foram novos cursos, prédios, laboratórios. Pediram para ampliar, agora vem essa crise e não temos recurso”, queixou-se. O contrassenso é que a estrutura aumentou, os recursos estão escassos e, em alguns casos, sobram vagas.

Na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), 10% do total de vagas estão ociosas em decorrência do Reuni. “Estamos tentando reduzir a quantidade vagas ociosas. Com o Reuni, a universidade dobrou de tamanho”, afirma o pró-reitor de Graduação, Marcílio Sousa da Rocha Freitas. O sistema de entrada na universidade, por meio de três áreas do conhecimento, também contribui para a maior mobilidade de estudantes. Os cursos de graduação se estruturam nas áreas de ciências exatas e tecnológicas, ciências humanas e sociais aplicadas e ciências da vida. Os alunos relatam que é comum os estudantes entrarem em um curso com nota de corte menor e depois tentarem transferência para cursos mais concorridos. A reportagem conversou com estudantes na Ufop que usaram essa estratégia para mudar do curso de turismo para direito, e de engenharia de produção para arquitetura. Eles pediram para não serem identificados.

REGRAS ALTERADAS Como os cursos estão na mesma área, os estudantes entram no turismo e depois pedem transferência para o direito. Para evitar essa mudança, que causava ociosidade em alguns cursos, as regras para a transferência foram alteradas na Ufop. Antes as vagas eram prioritariamente ofertadas internamente e depois abria-se a concorrência para a comunidade externa. A partir desse semestre, cada curso poderá estabelecer as regras de como essas cadeiras serão compostas e o percentual destinado para alunos internos ou para pessoas externas à universidade. Será um edital único. “O aluno percebe que não é o curso que quer e, com o Sisu, tem possibilidade de mudar de curso e faculdade. O lado positivo é que pode corrigir escolha que possa ter feito errado. Se ele percebe que não é a escolha adequada, ele muda.”

Na UFMG, os números da mobilidade com a implementação do Sisu são bastante expressivos. No primeiro semestre de 2011, quando o Enem substituía a primeira etapa das provas, apenas 0,4% dos estudantes mudaram de curso ou de instituição. O índice passou para 12,15% em 2014. Metade das trocas de cursos ocorreu dentro da própria instituição, e a outra metade para escolas federais do interior ou de outro estado. A universidade também passou a receber um número maior de alunos. Cerca de 25% que ingressaram na universidade de 2014 já estavam matriculados em cursos superiores – dentro da própria UFMG ou oriundos de outras faculdades. (MMC)

 

UFMG: ALUNOS TEMEM ATRASO Alunos da UFMG temem que o início do segundo semestre letivo seja adiado devido à greve dos servidores ténico-administrativos. Embora ainda não haja nenhum posicionamento oficial da Reitoria, a instituição admite que, se a paralisação continuar, pode haver alteração no calendário acadêmico. Em greve há 45 dias, os funcionários que atuam nas secretarias e outros setores também auxiliam no processo de matrícula. O cadastro dos veteranos, que deveria ser feito até o dia 18, e dos calouros foi adiado por tempo indeterminado. O Sindicato dos Trabalhadores de Instituições Federais (Sindifes) tem reunião marcada com representantes do Ministério do Planejamento no dia 21.

 


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