
Dos 7,1 milhões de inscritos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2013, mais de 2 milhões, ou quase um terço deles (29%), não compareceram aos locais de prova. O prejuízo gerado pelas faltas chegou a R$ 60 milhões, preocupando o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado do Ministério da Educação (MEC). Para o ano que vem, o órgão já estuda mecanismos para diminuir as abstenções. Algumas medidas estão em análise: cobrar a taxa de inscrição em dobro ou extinguir a isenção em edições futuras para os que faltarem sem justificativa ou abrir um prazo para que candidatos cancelem a inscrição dias antes da impressão dos cadernos, em julho.
Nessa segunda-feira, o presidente do Inep, Luiz Cláudio Costa, disse que o número de ausências é preocupante. “Queremos um Enem inclusivo, mas 29% de ausência é um dado que chama a atenção e é um custo para o Brasil. Temos de fazer um trabalho de conscientização”, afirmou. Em 2012, a taxa de abstenção no exame foi 27,9%, e em 2011, 26,4%. Segundo ele, a ideia é antecipar as ausências previstas e evitar impressões de provas, cartões de convocação, formação de salas e contratação de equipes. As sugestões, no entanto, dependem de lei aprovada no Congresso. Hoje, a taxa para fazer o Enem é de R$ 35, mas alunos de escolas públicas matriculados no 3º ano do ensino médio e quem apresenta declaração de carência socioeconômica são isentos. De acordo com Luiz Cláudio, o Inep fará um levantamento por amostragem com inscritos que faltaram ao exame para identificar o motivo.
Para o professor de física e matemática do Colégio e Pré-Vestibular Elite, no Vale do Aço, Átila Silva Zanone, o universo de candidatos do Enem é muito heterogêneo e dele fazem parte pessoas que nunca fizeram a prova, idosos, alunos que fazem com o objetivo de conseguir vaga nos programas federais como Prouni e Financiamento Estudantil, entre outros. “Ele atende uma gama de funções muito grande e tem atraído um público heterogêneo. No primeiro dia, quando veem mais conteúdo do ensino médio, muitos nem voltam no segundo, quando tem a matemática, que é o bicho-papão, e a redação”, afirmou.
DECOREBA A aposta era de que o Enem deste ano trouxesse questões vez mais analíticas e interpretativas, que exigissem mais raciocínio e menos conteúdo. Mas, segundo professores, os itens vieram com uma tendência de mudança no perfil, pedindo dos alunos mais memorização. Eles avaliam que é a aproximação do exame com o vestibular. No primeiro ano como única forma de entrada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), após adesão no Sistema de Seleção Unificado (Sisu), o Enem está mais parecido com os antigos processos seletivos da instituição.
Para Átila, que é professor, mas todos os anos faz a prova, a cobrança do conteúdo foi mais nítida no primeiro dia no caderno de ciências da natureza (química, física e biologia). “Foi fácil perceber de qual área era cada questão. A prova abordou questões clássicas da Unicamp (Universidade de Campinas), da Universidade Federal de Santa Maria, como um vestibular mesmo”, disse. O professor defende que a avaliação continue nesse caminho e cumpra o papel de processo seletivo. “É importante para ela ser capaz de selecionar os candidatos de alto nível”, avaliou.
Jussara Valeska Chamon, professora de história do Colégio Magnum Agostiniano, considera que a prova foi mais difícil que a de 2012, além de cobrar mais conteúdo. Para ela, essa mudança já era esperada, pela participação das universidades na elaboração das questões. “Acho que é um retrocesso. O ‘conteudismo’ serve para eliminar, não avalia necessariamente quem tem compreensão, leitura de mundo mais abrangente.”
Já para o professor de literatura e português do Colégio Santa Marcelina Jair Alves Corgozinho Filho, a prova de ciências da natureza estava mais difícil e cobrava mais conteúdo, enquanto a de códigos e linguagens permaneceu exigindo interpretação. “Considero que a prova tem melhorado a cada ano e esse é o caminho, porque você demonstra para o aluno que o ensino é sério, não se pode banalizar o conhecimento”, disse. (Com agências)
