
Rayanne sempre foi muito estudiosa e se cobrava bastante. Durante todo o ano, não largou os livros e pouco saía de casa, apesar dos estímulos da mãe de que ela precisava relaxar. Maria Mônica sofreu muito quando a jovem conferiu o gabarito do último Enem aos prantos, decepcionada com o resultado. E resolveu ajudar: comprou uma revista de atualidades, leu todas as redações da filha e arguiu as fórmulas químicas, para que Rayanne se sentisse segura, com tudo na ponta da língua.
SEM BALADA A rotina regrada favorece as revisões do conteúdo e o lazer. Rayanne sai cedo para o cursinho e, depois do lanche com os pais e a irmã, ainda estuda até as 22h. Especialistas dizem que o melhor, nesta reta final, é eleger alguns pontos importantes e relaxar. “A parte do estudo que agrega conhecimento já foi vencida. Os pais devem monitorar os estudantes, observando a alimentação saudável e leve, o repouso, o bem-estar físico e mental”, afirma Guilherme José Barbosa, pedagogo e consultor educacional. “Vale chamar para atividades lúdicas , culturais e esportivas, exceto aquelas de muita disputa ou competitividade, que pode deixá-los mais estressados”, sugere.
Para o especialista, os pais devem proibir a balada e alertar para os riscos da bebida alcoólica neste momento. Ele diz que os exageros podem interferir na concentração e no cansaço. “Grandes agitos causam desgaste físico e mental. Então, acho que devem estar fora dessas últimas semanas”, pontua.
Segundo ele, os pais devem estar mais próximos, mantendo um clima positivo. “É hora de ouvi-los, de conversar sobre as dificuldades, estimular o encontro do grupo de amigos, já que todos estão no mesmo barco, e discutir superação”, acredita o especialista.
RELAXAMENTO A professora Soraia Anderson Dias de Souza, de 47, mora em Muzambinho, no Sul de Minas, mas passa uns dias com a filha Daniela, de 17, antes do Enem. A menina vai tentar medicina e está muito nervosa e irritada. “A cobrança é muito grande. Ela estuda sem parar e tenho tentado tranquilizá-la, dizendo que ainda é nova, que se não passar pode tentar de novo no ano que vem, que não vai existir só estsa vez.”
Soraia diz que cansou de pedir que a filha não descuidasse dos passeios e momentos de lazer. Mas, no feriado do Dia do Professor, Daniela assistiu a um plantão de oito horas de aulas sobre o conteúdo de física. “Chamo para tomar um sorvete, dar uma volta no shopping, mas ela não relaxa”, conta a mãe, que está programando chamar as amigas da filha para uma pizza no fim de semana. “No sábado passado elas se encontraram. Daniela achou ruim e não queria ir, mas quando voltou estava mais feliz e aliviada.”
Na casa da aposentada Marinete Macário dos Santos, de 47, a ordem é medir o tempo para não deixar Natália, de 17, exagerar na reta final. O som da sala toca sempre músicas calmas e, à noite, os pais a chamam para ver televisão. “Tem sempre aquela dúvida que fica martelando e, se deixar, ela não para de estudar.” Por causa disso, a mãe interrompe para lembrar a hora do lanche e diz a hora de encerrar.
Ontem, por exemplo, as duas foram lanchar no shopping. “Ela está muito tensa”, percebe Marinete. A irmã mais velha também foi uma boa aliada, sugerindo testes vocacionais e separando informações sobre os cursos de interesse. Natália ainda está em dúvidas se faz psicologia ou direito ambiental.
ALUNO PERGUNTA: Como a física é cobrada no Enem? Qual deve ser o foco dos estudos?
Guilherme Zica, de 17 anos, candidato ao curso de direito
PROFESSOR RESPONDE
O Enem baseia-se em cinco eixos cognitivos: dominar linguagens, compreender fenômenos, enfrentar situações-problema, construir argumentação e elaborar propostas. Assim, o item normalmente traz uma informação que seja pertinente à resolução da questão ou que contextualize o que será tratado. De posse dessa informação, que poderá se apresentar sob as mais diversas formas (textos, gráficos, tabelas), o candidato deve observar atentamente o que está sendo pedido. Muitas vezes, o candidato se confunde entre as colocações do enunciado da questão, respondendo algo pertinente ao ponto de vista científico, mas que foge ao questionamento do item. No caso da física, é importante que o candidato saiba principalmente diferenciar formas de energia, conversão e geração. O entendimento de como funciona o processo em uma usina de geração de energia ajuda. O conhecimento básico de como funcionam equipamentos elétricos como chuveiros e lâmpadas é relevante. Além disso, saber calcular o consumo de energia, e como economizá-la, e a potência desses dispositivos. Importante também saber diferenciar os principais fenômenos ondulatórios como reflexão, refração, difração e interferência, suas aplicações e o uso da equação v=lf.
Marcos Guimarães Rodrigues, professor de física do Colégio e Pré-Vestibular Bernoulli
PALAVRA DE ESPECIALISTA: JANE PATRÍCIA HADDAD, PSICOPEDAGOGA
O momento é de descanso
“Tudo o que tinha que ser feito para assimilar conteúdo ficou para trás. O momento deve ser de estímulo a hábitos saudáveis, descanso e tranquilidade. Os pais ficam mais ansiosos que os alunos, mas são eles que devem esclarecer que essa é a primeira pressão de muitas. Eles devem abrir espaço para que os estudantes falem de suas inseguranças e dificuldades, e precisam estimular o que eles têm de melhor. Boa dica é evitar brigas e comunicar decisões que possam trazer muita mudança. Os pais devem estar juntos, propor passeios, programas tranquilos, podem ajudar a reunir a documentação e a escolher a melhor rota até o local de prova, para evitar imprevistos. As tarefas rotineiras podem ser mantidas, até para que eles façam outras coisas em casa, que não só estudar.”
