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Estado de Minas

Jovem que cumpre medida socioeducativa no DF é convocado pelo Sisu

Adolescente da unidade de internação de Planaltina é o único convocado das instituições de menores infratores do Distrito Federal


postado em 18/01/2013 07:31 / atualizado em 18/01/2013 07:34

Os olhos verdes do garoto de 19 anos ficaram tímidos com a situação inesperada. As mãos, que se apertavam, uniram-se ao sorriso de orgulho que aparecia no rosto do jovem. João* foi o único interno de instituições socioeducativas em sistema fechado do Distrito Federal convocado em primeira chamada no Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Ele conseguiu média de 410 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e poderá fazer o curso de tecnólogo em agropecuária em uma instituição pública do DF pelo Sisu e ainda poderá ingressar numa faculdade particular de contabilidade com essa nota. “Quando soube da prova pensei: vou tentar, se eu conseguir, vou poder melhorar minha vida”, relembra.

Incentivado pela mãe, pelo irmão e por professores, que o acompanham há mais de um ano na Unidade de Internação de Planaltina (UIP), o jovem viu na realização da prova a possibilidade de transformar a realidade em que está inserido. Do lado de fora da unidade, o irmão dele está se formando no mesmo curso e tem planos de abrir a própria empresa. João já foi convocado ao trabalho e à transformação. “Minha família quer me ver de outro jeito. Vou me formar e sair daqui para ajudar meu irmão”, garante.

Em todo o DF, seis jovens infratores, incluindo João, foram aprovados no Enem. Na Unidade de Internação do Recanto das Emas (Unire), quatro dos 18 que fizeram a prova conseguiram a aprovação. Desses, apenas dois poderão se inscrever no Programa Universidade para Todos (Prouni), além de ainda haver a possibilidade de serem convocados na segunda chamada do Sisu. Na Unidade de Internação do Plano Piloto (UIPP, antigo Caje), os adolescentes que fizeram o Enem não conseguiram média para ingressar na faculdade pelo Sisu, entretanto, um deles foi aprovado no Exame e 26 obtiveram certificação de nível médio em razão das notas alcançadas.

Outros 44 participantes vieram da UIP, destes, apenas João foi aprovado. Gabriela Rodrigues, chefe da unidade educativa do local, ressalta que, embora a maioria dos adolescentes não tenha atingido pontuação necessária para a aprovação, grande parte deles conseguiu boas médias na maior parte das disciplinas. “O resultado não foi ruim. Eles conseguiram médias entre 380 e 400. Alguns tiraram até notas maiores, mas, infelizmente, não conseguiram o certificado do ensino médio”, destaca. Para conseguir a certificação, a média em todas as disciplinas da prova deve ser, no mínimo, 450. Ainda assim, Gabriela enfatiza que a possibilidade de fazer a prova trouxe reconhecimento e valor a jovens como João. “A aprovação foi algo maravilhoso. Foi a efetivação do direito a educação que ele possui. Um modo de inserção na sociedade que traz muitas esperanças.”

Exemplo

De segunda a sexta-feira há aulas na Unidade de Internação de Planaltina. Os professores são cedidos pela Secretaria de Educação do DF (SEDF). “Tudo acontece normalmente. Há cobrança como em todos os lugares. As condições de ensino são difíceis, muitos se dedicam mais que outros, mas estudar é a maneira que os jovens têm de ter novas oportunidades”, explica a coordenadora da unidade educativa da UIP Cíntia Matos.

Além de ter frequentado as aulas da 3ª série do ensino médio no ano passado, João era estagiário da área de informática dentro da UIP. Considerado bom aluno, Gabriela garante que ele tem bom comportamento e vontade de mudar de vida. “Sei que ele vai se sair muito bem. Ele se tornou um exemplo para os outros que não conseguiram. Uma referência.”

Os familiares de João agora correm atrás da autorização judicial para que ele possa sair diariamente da unidade de internação para estagiar e fazer a faculdade. Todos os dias, até o fim da pena, que se encerra em maio deste ano, ele precisará retornar à UIP para prosseguir com as medidas socioeducativas. “Eu esperava passar, porque me esforcei”, afirma João. “Quando estava do lado de fora nunca tinha sonhado em fazer faculdade. Nem queria saber fazer uma, mas agora meu desejo é poder terminar o curso, voltar para casa, trabalhar e ser alguém.”

*Nome fictício em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)


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