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Estado de Minas

A seis meses do Enem, alunos de todos os perfis se preparam para a universidade


postado em 21/05/2012 07:58 / atualizado em 21/05/2012 08:07

Faltam seis meses para milhões de estudantes de todo o Brasil colocarem à prova os conhecimentos que os levarão direto para a universidade. Até 3 e 4 de novembro, datas marcadas para a aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o tempo é longo, se consideradas a espera e a ansiedade. Mas curto demais quando se pensa na lista de providências a tomar. As definições ganharão contornos ainda mais visíveis com as inscrições para o teste, que devem ser abertas até o início do próximo mês. A partir daí, se torna mais urgente revisar conteúdos, aprender novas matérias, manter o ritmo de estudo, driblar o cansaço e evitar o estresse. Que o digam os estudantes Bárbara Luíza Soares Rocha, Bruno Morato Faria, ambos de 17 anos, e Dorvalina das Graças de Jesus, de 42. Eles nunca se viram, têm histórias diferentes e vivem realidades distintas, mas têm em comum a batalha pelo sucesso no teste. O Estado de Minas vai acompanhar a trajetória desses três personagens até o dia D e hoje apresenta os anseios e as expectativas desses alunos, que retratam a diversidade de candidatos na corrida pelo Enem.

Incansável
Família e a vitória, suas inspirações


(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)


Aluna do 3º ano da Escola Estadual Pedro II, na região hospitalar de Belo Horizonte, Bárbara Luíza Soares Rocha está decidida a deixar a concorrência para trás na disputa por uma vaga no curso de engenharia mecânica. Há até pouco tempo, a dúvida pairava forte entre engenharia mecânica, civil e de produção. Mas projeções de mercado e acadêmicas surgidas a partir de uma conversa aqui e outra ali a levaram a praticamente afastar as incertezas. “Sou fanática por números, gosto de lógica, da coisa certa, que confirme algo. Em humanas não sei se é certo, se realmente aconteceu como diz a história”, justifica a preferência.

O colégio onde ela estuda desde o 1º ano do ensino médio tem um projeto claro de preparação para o Enem. Não adianta bobear, a cobrança é grande. “Pelo menos uma vez ao dia um professor nos lembra que temos que nos esforçar ainda mais, pois é ano de vestibular”, diz a garota, moradora do Bairro Ipiranga, na Região Nordeste de BH. As provas que eram bimestrais agora são semanais, principalmente de matemática. Os trabalhos, escritos e com conteúdos de mídia, também aumentaram, e para não acumular as tarefas é preciso jogo de cintura, pois, além da aula pela manhã, ela cumpre uma jornada de trabalho das 14h às 22h, como auxiliar-administrativa na padaria do pai. Se o serviço não dá uma folguinha para espiar os cadernos, Bárbara estuda madrugada adentro.

E se engana quem pensa que por trabalhar em família a rotina é menos puxada. A cobrança, aliás, vem dela mesma. “Gosto desse esforço, dessa correria, vejo que estou fazendo algo significativo. É uma forma de dar valor à vida, pois ela vai me cobrar isso”, afirma. O grande espelho para tanta maturidade nessa idade é o pai, que começou a trabalhar aos 15 anos vendendo bala. Em pouco tempo, era dono de padaria e supermercado: “Vejo o esforço e a trajetória dele e me inspiro a ter também uma história de conquista”.

Cobrança na vida pessoal e acadêmica. Agora é hora de apertar o passo e aprender as matérias que não foram dadas na escola. Ela diz que fica tranquila quando pensa na prova, mas acha que vai “bater um desespero” na hora H, em matérias como português e geografia. “A gente chora, fica com raiva, mas fazer o quê? Tem que continuar”, ressalta. A avaliação nacional já é familiar, o que dá mais confiança. No ano passado, ela prestou o exame para conhecê-lo. “Cansativo”, resume. Este ano, preparação afiada e boas noites de sono para não ter o mesmo baque. A dedicação é grande. Apenas o domingo para descansar e aproveitar o dia com a família, o principal lazer.

A depender do próprio esforço, a menina vai longe. Bárbara vai se inscrever “em quase tudo quanto é vestibular” das federais e alguma particular de Minas, Rio e São Paulo. Na escola, ela vai aguentando o ritmo. “Está muito puxado. A professora de gramática diz que não está nos preparando para o Enem, porque já sabemos como é a prova, mas sim para a segunda etapa da Federal (UFMG). Ela acredita que somos capazes de passar e isso dá muita força.”

Determinado
Para ser médico, uma rígida rotina

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)


Aluno do 3º ano do Colégio Bernoulli, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, Bruno Morato Faria, decidiu muito cedo o que queria ser na vida: médico. A paixão por cavalos o fez pensar em ser veterinário, mas, depois de uma cirurgia de apendicite, quando ele tinha apenas 7 anos, logo mudou de ideia. A área de atuação também é quase certa: cirurgia. Dúvida apenas se será neurocirurgia ou alguma especialidade torácica.

De Patos de Minas, no Alto Paranaíba, onde completou o 8º ano do ensino fundamental, para BH, a mudança acadêmica foi grande. Segundo Bruno, o ritmo é completamente diferente. Haja vista a frequência de provas, que desde então passaram a ser semanais. No 3º ano, nem os sábados são mais totalmente livres, por causa dos simulados. No colégio, há mais de um professor por matéria. Algumas, como matemática e química, chegam a ter cinco professores, que dividem as disciplinas em temas específicos. Uma vez por semana o aluno tem aulas no período da tarde. Todos os dias, seis horários compõem a carga horária das aulas regulares.

Bruno, morador do Bairro de Lourdes, na Zona Sul, também já tem experiência de sobra com o exame nacional, tendo feito as duas últimas avaliações. Na primeira, teve pouco mais de 70% de aproveitamento, e na segunda, cerca de 80%. “Não daria para passar em medicina, mas parte do conteúdo eu também não havia estudado ainda”, reconhece. A prova, considerada cansativa, não o agrada, na comparação com o antigo modelo de vestibular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

“O sistema antigo é mais justo. Se acertou, acertou. Se errou, errou. Era mais claro. O Enem facilita, pois não precisamos mais fazer testes em tantos lugares, mas, ao mesmo tempo, ficamos na mão dele, sem ter certeza de nada, por causa da TRI, a teoria de resposta ao item, que ninguém consegue explicar o que é”, afirma. “Costumo dizer que a prova do Enem é uma espécie de enduro, é resistência, não mede o conteúdo de fato”, completa.

 Bruno segue uma rotina rígida, também por opção. E conta que a preocupação real com o vestibular veio recentemente: “Antes, ligava muito para nota. Este ano, comecei a ver e a ler jornais e a correr atrás de conteúdos passados”. Ele acorda às 5h30 para chegar à escola antes da abertura dos portões e, assim, garantir os melhores lugares na sala de aula. Mas o corpo já começa a dar sinais claros da ansiedade: ele não consegue mais dormir à noite. A maior parte do tempo fora da escola é dedicada ao estudo. Somente este ano, já fez mais de 100 capítulos de exercícios, de olho em vestibulares de universidades da Região Sudeste e na Universidade Federal de Tocantins, no Norte.

Descanso só no domingo, quando vai à igreja. “Parei de sair para as festas por opção, para não ficar tão cansado”, relata. Novos hábitos, como comer verduras, também entraram para a rotina: “Tenho como meta não ficar doente. A ansiedade é causada pelo momento decisivo. Você passa o ano inteiro voltado para algo que pode dar errado e que não depende só de você”.

Batalhadora
Sempre é tempo de recomeçar

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)


Na sala de aula, a atenção fixada nas palavras dos mestres e a concentração para anotar no caderno as informações precisas não deixam transparecer a longa jornada já vivida durante o dia. Estudante do 2º ano do ensino médio da Escola Estadual José Heilbuth Gonçalves, no Bairro Santa Branca, na Pampulha, Dorvalina das Graças de Jesus enfrenta o desafio de concluir o nível básico e ainda driblar uma defasagem de mais de 20 anos longe da sala de aula. No passado, ela estudou até os primeiros dias da antiga 7ª série (hoje 8º ano) do ensino fundamental, mas, por causa da dificuldade em conciliar livros e trabalho, preferiu parar.

O retorno foi em 2010, quando completou o fundamental em apenas quatro meses. “Tinha muita vontade e necessidade de voltar a estudar, porque, com o passar dos anos, percebi a dificuldade de arrumar empregos melhores tendo pouca escolaridade”, diz. Para ela, o ano passado, o 1º ano do médio, foi o mais difícil, pois foi a estreia de matérias até então desconhecidas. E haja jogo de cintura para dar conta do trabalho diário, da casa e das tarefas escolares.

Dorvalina acorda às 5h30, sai de casa no Bairro São Tomás, na Pampulha, às 7h, e trabalha como doméstica até as 15h para uma família com quem está há 17 anos. Quando sente muita dificuldade em alguma matéria, aproveita o período da tarde para se dedicar a aulas de reforço, sem deixar de lado a arrumação da própria casa. À noite, o tempo é da escola, onde fica das 19h às 21h55. Mas a correria é amenizada pelo carinho da família – o marido, a filha, de 11 anos, os pais e irmãos –, que lhe dá todo apoio na nova empreitada.

Em julho, Dorvalina passará para o 3º ano, de olho em possibilidades ainda maiores. Ela ainda não decidiu em qual universidade se inscreverá, mas é certo que entrará na disputa por uma vaga no curso de assistência social. Ela fez o Enem no ano passado, mas agora confessa estar muito mais preparada. “Queria apenas experiência. É uma prova bastante cansativa, com muitas questões e textos longos. Acho que destsa vez sentirei menos dificuldade, porque terei mais conhecimentos”, relata.

Sua filha é uma das principais incentivadoras e grande companheira de estudos. As duas se ajudam, esclarecem juntas as dúvidas e compartilham conhecimentos. “Voltar a estudar despertou meu desejo de entrar para a universidade. Quando você para, perde um pouco o entusiasmo. Mas o interesse logo é recuperado no retorno às atividades”, diz.

Na sala de aula, os professores não dão moleza e incentivam ao máximo a turma, que tem a maioria dos alunos em idade madura, a seguir em frente e fazer o exame nacional. “Os professores disseram que de agora em diante vão nos ajudar ainda mais a nos preparar melhor, para que tenhamos bons resultados. Espero que o Enem seja mais tranquilo, mais fácil e que eu tenha uma boa nota.”

 

 


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