Ministério Público quer anulação das provas em todo o país
Vazamento de questões em escola de Fortaleza põe o exame nacional em xeque pelo terceiro ano consecutivo
GTGlória Tupinambás
postado em 27/10/2011 07:34
Candidatos esperam portão abrir na Fafich. Em Minas, 441 mil estudantes fizeram o Enem (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) decepciona milhões de estudantes que buscam vaga na universidade e põe em risco a segurança e a credibilidade da prova pelo terceiro ano consecutivo. Desta vez, a polêmica gira em torno da suspeita de vazamento de questões em Fortaleza (CE), onde um colégio divulgou apostilas e simulados, duas semanas antes da avaliação, com questões idênticas às aplicadas no último fim de semana para cerca de 4 milhões de candidatos.
A Polícia Federal foi acionada para investigar o caso e o Ministério Público Federal (MPF) pediu anulação dos testes em todo o país. O Ministério da Educação (MEC) reconheceu a antecipação de questões e decidiu cancelar o exame dos 639 alunos da instituição acusada de vazar as perguntas. As denúncias surpreenderam as 11 universidades federais em Minas que usam o Enem para substituir os vestibulares ou como parte da seleção de estudantes.
As questões do simulado foram divulgadas no início desta semana na internet e comentários de estudantes indicavam a relação entre o material e um simulado aplicado no Colégio Christus, de Fortaleza. Em um perfil da rede social Facebook, havia 14 itens – cinco idênticos e um similar aos aplicados no Enem, segundo o MEC.
A Polícia Federal, que instaurou inquérito sobre o caso, vai investigar a hipótese de que as questões teriam vazado pelo pré-teste do exame. Isso porque, a cada ano, o MEC aplica prova para alunos de diferentes escolas do país para testar o nível de dificuldade das perguntas. Os estudantes que participam do pré-teste são escolhidos aleatoriamente e, depois de responder às questões, devolvem o material, que deve ser incinerado. Após serem testadas, as questões passam a integrar um banco de itens para a elaboração do Enem.
Em outubro de 2010, alunos do Colégio Christus participaram do pré-teste. Mas, em nota, a escola afirma que os itens incluídos no simulado faziam parte de um banco de questões mantido pela instituição e que é abastecido por alunos e professores. A escola argumenta que “como há o pré-teste de questões utilizadas no Enem, existe a possibilidade de que essas questões caiam no domínio público antes da realização oficial do exame, as quais eventualmente podem compor o banco de dados de professores e de outros profissionais da área de educação”. Por fim, o Christus afirma que “agiu em estrita conformidade com os princípios da ética e da licitude”.
No entanto, o Ministério da Educação entendeu que o fato “configura quebra de isonomia” e informou que caso a Polícia Federal comprove o envolvimento da instituição ou de terceiros eles serão processados civil e criminalmente. Com base nas evidências, o MEC também decidiu anular as provas feitas pelos 639 alunos do colégio. Esses candidatos poderão fazer novamente os testes em 28 e 29 de novembro, datas em que o exame será aplicado nas unidades prisionais de todo o país.
CANCELAMENTO A providência tomada pelo ministério foi criticada pelo procurador da República no Ceará Oscar Costa Filho, que disse que vai pedir que o MEC anule o Enem 2011 em todo o país. “’Não há como isolar o Ceará e garantir que as questões não vazaram para alunos de outros estados”, disse Costa Filho.
Em recomendação oficial, o representante do Ministério Público Federal informou que havia constatado a existência no exame de 13 questões idênticas às do simulado do colégio cearense. São elas: 32, 33, 34, 46, 50, 57, 74 e 87 do caderno de provas amarelo de sábado, primeiro dia da avaliação; e 113, 141, 154, 173 e 180, de domingo, também da prova amarela.
Para o procurador, o problema se repete, apresentando mais uma vez caso de vazamento no Enem. Em nota, Costa Filho afirmou que “já há provas constituídas para determinar uma atitude do MEC quanto à irregularidade, que não é mais pontual e atinge todos os inscritos no país”. Segundo ele, “é necessário que se imponha, de uma vez, a constitucionalidade no Enem, que significa o direito de recorrer em caso dos candidatos se sentirem prejudicados.”
Fala, estudanteVOCÊ ACHA QUE O NOVO VAZAMENTO ABALA A CREDIBILIDADE DA PROVA?Leandro Júnior
21 anos, tenta medicina na UFMG
“Em todos os anos houve falhas no Enem. Os alunos vão perdendo a confiança no exame. Esperávamos que este ano desse certo. Infelizmente, se a prova era para equiparar os candidatos, acho que piorou.”Camila Subirá
17 anos, treineira
“É o terceiro ano com problemas. Um candidato pode perder a vaga injustamente. Tem de haver mais seriedade para um exame nacional como este. Além disso, a prova é muito grande, deveria ter questões mais difíceis e ser menor.”Mateus Pimenta
18 anos, tenta medicina na UFMG
“Em comparação ao ano passado melhorou. E o exame aumentou o nível neste ano. Mas o fato do Ceará me surpreendeu bastante. Espero que não seja um grande transtorno”Isabel Sophia Alves
16 anos, treineira
“A gente que fez como treineiro fica pensando como vai ser no ano que vem. Isso é um desânimo para nós. O MEC é desorganizado. Minas inteira está correndo risco de sofrer com essas falhas”