
A complexidade é tanta que um aluno que acertar menos questões pode ter mais pontos que outro estudante com maior número de acertos. Outro ponto curioso é que até o velho conhecido chute pode ser identificado pela TRI. Isso porque as questões, também chamadas de itens, são agrupadas de acordo com o grau de dificuldade, em três conjuntos – fáceis, médias e difíceis. E o método ainda consegue calcular o comportamento do aluno em cada questão. Ou seja, se o candidato vai bem nas perguntas mais difíceis, o sistema supõe que ele, necessariamente, acertou questões fáceis. Caso contrário, a TRI entende que ele chutou a resposta difícil. A explicação para isso é a seguinte: conforme a teoria, não é possível alguém errar uma operação básica de matemática e, mesmo assim, solucionar uma questão de física que depende de uma fórmula com muitas contas, por exemplo.
Para o professor Dalton Francisco de Andrade, titular do Departamento de Informática e Estatística da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em avaliações nas quais o acerto casual é possível deve-se considerar o padrão de respostas do estudante. “Dois alunos com o mesmo número de acertos podem receber da TRI diferentes valores de proficiência (desempenho). Receberá maior proficiência aquele aluno que apresentar respostas às questões de forma mais coerente com a capacidade que está sendo medida”, diz o especialista.
EXPLICAÇÃO
Em nota, o Ministério da Educação faz questão de esclarecer que o método de correção não tem qualquer relação com o sistema de pesos, em que uma questão vale mais que a outra dependendo de sua complexidade ou importância. “Tomando como exemplo uma prova do Enem de 45 questões, que permitem acerto casual: se duas pessoas acertarem 20 questões – se não forem as mesmas 20 – dificilmente elas terão a mesma nota. Não porque uma questão tenha peso maior que a outra, mas porque o sistema está montado de forma que quem acertou itens dentro de um padrão de coerência tenha notas melhores. Há um algoritmo estabelecido para cada traço que o item deverá medir.”
Apesar de tantas explicações, a TRI continua como uma incógnita na cabeça dos candidatos que fizeram o Enem no fim de semana. E tantas dúvidas ainda criam desconfiança sobre a idoneidade da correção da prova. “É uma confusão, pois a gente compara o gabarito com o dos colegas e, no fim das contas, as pontuações são diferentes”, diz Túlio Henrique de Faria, de 18 anos, aluno do 3º ano do ensino médio da Escola Estadual Álvaro Laureano Pimentel, no Bairro Cardoso, Região do Barreiro.
“Como não conseguimos entender a lógica da correção, começamos a duvidar se ele é realmente sério. Ainda mais num histórico de problemas como o do Enem, que já teve vazamento, troca de gabarito e suspeitas de fraude”, acrescenta Thalissa Cássia Amaral Abílio, também de 18. Aluna da Escola Estadual Jorge Catarina, em Contagem, na Grande BH, ela fez o exame no fim de semana para disputar vaga no curso de administração. O resultado final do Enem será publicado a partir de 4 de janeiro de 2012.
HISTÓRIA
A teoria de resposta ao item foi criada na década de 1950 para contrapor a teoria clássica das medidas, que atribui notas a partir do número de acertos menos o de erros. A principal vantagem da TRI é que ela permite a comparação do resultado ao longo dos anos, ao contrário da outra, que só possibilita a análise do desempenho de estudantes que tenham feito as mesmas provas. No país, o método é usado desde 1995 no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), e posteriormente, na Prova Brasil. Em âmbito internacional, a teoria é aplicado no SAT (Scholastic Aptitude Test ou Scholastic Assessment Test), exame educacional padronizado dos Estados Unidos que serve de critério para admissão nas universidades norte-americanas. O TRI também é base para o exame de proficiência em língua inglesa (Toefl).
