O português estará em alta no próximo vestibular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A instituição anunciou ontem mudanças na segunda etapa do processo seletivo, e a principal é a criação de uma prova de língua portuguesa e literatura brasileira para candidatos a 44 cursos de graduação. No último vestibular, o teste nessa área do conhecimento foi aplicado apenas a estudantes que disputavam vagas em quatro cursos – letras, comunicação, teatro e dança. Para essas graduações, além da avaliação de português, será exigida a leitura dos livros Espumas flutuantes, de Castro Alves; Dom Casmurro, de Machado de Assis; Joias de família, de Zulmira Ribeiro Tavares; e Infância, de Graciliano Ramos.
As novidades estão descritas em edital divulgado ontem pela UFMG, que define as provas de língua portuguesa e literatura brasileira como A (para os 44 cursos) e B (para os quatro já avaliados anteriormente). Segundo a pró-reitora de graduação, Antônia Vitória Aranha, a criação do teste se deu com base em um diagnóstico que apontou a necessidade de maior habilidade de interpretação e leitura entre os estudantes que ingressam na universidade. “Fizemos uma consulta aos colegiados de cursos que indicaram falta de maior capacidade de produção de textos e leitura. O assunto rendeu longa discussão interna e optamos por iniciar a cobrança, já no próximo vestibular, em 44 cursos”, explica a pró-reitora.
Segundo Antônia, os candidatos a esses 44 cursos devem se preparar para questões abertas de conhecimento geral em língua portuguesa e literatura brasileira, de interpretação de textos e de diferenciação de estilos literários. O programa das provas está disponível no site www.ufmg.br/copeve. Assim como no ano passado, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) vai substituir a primeira etapa do vestibular e, no mês que vem, a universidade divulga as datas de inscrição no processo seletivo e também da realização da segunda etapa.
REPERCUSSÃO
A criação da prova divide opiniões de educadores e estudantes. Na avaliação da professora de língua portuguesa e literatura brasileira Mariane Lemos Capelli Nogueira, coordenadora da área de Códigos e Linguagens do Colégio Sagrado Coração de Jesus, o novo teste vai valorizar o bom domínio da língua, considerado fundamental para o exercício de qualquer profissão. “A mudança é positiva, pois prepara o aluno para trabalhar textos mais elaborados e complexos, desenvolver o senso crítico e um olhar mais apurado, necessários para lidar com a linguagem acadêmica. A cobrança do português instrumental vai ainda incentivar a leitura de livros e forçar maior cuidado com a norma culta”, diz Mariane, com 23 anos de experiência em aulas para o 3º ano do ensino médio.
O professor de português e literatura Alberto Minardi, do Curso Contexto, também aplaude a maior cobrança da língua, mas critica a mudança no vestibular “nessa altura do campeonato”. “Sabemos que a UFMG tenta compensar carências do Enem com uma prova para garantir a qualidade do aluno selecionado no vestibular. A iniciativa é louvável, até porque o Enem peca por cobrar uma grande carga de leitura e interpretação e pouco conteúdo. Mas, acho desrespeitoso fazer alterações em maio, já que alunos e professores precisam de um tempo razoável de preparação”, defende Alberto, há mais de três décadas na sala de aula.
Candidata a uma vaga em direito, Raíssa Alves Silva, de 22 anos, vê prós e contras na mudança. Para ela, a maior cobrança de língua portuguesa é necessária, mas as regras do vestibular deveriam ser definidas no início do ano letivo, e não em maio. “Ainda tenho dúvidas sobre como será a cobrança na nova prova e isso gera ansiedade. Apesar da angústia, acredito que o teste é importante, pois a correção da redação do Enem é subjetiva e a UFMG poderá ter mais controle sobre a avaliação.”
Para Thalita Greggio, de 17, que pretende cursar relações econômicas internacionais, a cobrança do português é bem-vinda, mas a de literatura, não. “A língua portuguesa é uma habilidade essencial para todos que sonham em ser bons profissionais. Mas introduzir a literatura na segunda etapa vai sobrecarregar muito os estudantes, principalmente se houver exigência de conhecimentos teóricos.”
