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Estado de Minas

Projeto desenvolvido no Museu de Artes e Ofícios ensina restauração a alunos carentes


postado em 15/03/2011 09:03

Alunos executam as orientações do professor Adriano Ramos no laboratório(foto: BETO NOVAES/ EM/ D.A PRESS)
Alunos executam as orientações do professor Adriano Ramos no laboratório (foto: BETO NOVAES/ EM/ D.A PRESS)


O futuro de jovens carentes da Região Metropolitana de Belo Horizonte passa agora pela preservação do passado. Um curso de qualificação de estudantes do ensino médio da rede pública da capital e de Nova Lima tem como base lições de proteção e resgate do patrimônio histórico de Minas e abre portas no mercado de trabalho para quem aprende a dar os primeiros passos na profissão. As aulas de conservação e restauração de peças e bens culturais fazem parte do projeto Valor Social, desenvolvido no Museu de Artes e Ofícios (MAO), na Praça da Estação, no Centro de BH, e reúne, na atual edição, 30 alunos com idade entre 17 e 21 anos.

Com pincéis, tintas, lixas e muito talento nas mãos, os jovens mergulham na riqueza das pinturas e trabalhos feitos em madeira e papel e aprendem as técnicas da profissão de assistente de restauração. Num moderno laboratório montado no MAO, eles manuseiam lupas, microscópios e câmeras de vidro e participam de aulas práticas com profissionais do Grupo Oficina de Restauro. Mas o contato com a arte e a cultura não para por aí. O curso também inclui pesquisas e trabalhos de campo em cidades históricas repletas de bens históricos tombados, como Ouro Preto, Sabará, Congonhas e Caeté.

Esta é a quarta edição do projeto, que já formou 90 jovens em situação de vulnerabilidade social. Desses, mais de 70% já conseguiram lugar no mercado de trabalho e hoje atuam como conservadores e assistentes de restauração. Desenvolvida pelo Instituto Cultural Flávio Gutierrez, a iniciativa mobiliza os estudantes durante seis meses, com uma carga de 420 horas/aula. As atividades têm o patrocínio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e contam com o apoio da Fundação Dom Cabral, das prefeituras de Belo Horizonte e de Nova Lima e das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais.

Da criatividade e do talento dos alunos João da Luz Fernandes Neto, de 17 anos, e Prislen dos Santos, de 18, nasce um bonito oratório, cuja construção mescla elementos modernos com técnicas usadas nos séculos 18 e 19. E a peça ganha uma pintura especial nas mãos de David Edgar da Cunha, de 18, estudante do 3º ano do ensino médio, para quem o curso significa mais que o aprendizado de uma profissão. Ele conta que descobriu, nas aulas do Valor Social, a resposta para uma pergunta temida entre os adolescentes: “O que você quer dar vida?”.

“Estou na fase de definir meu destino, escolher qual caminho seguir, mas eu não sabia o que fazer da vida. Agora, já sei o que quero para o futuro: trabalhar com restauração. Eu amo arte, museus e estou aprendendo lições de ética e cidadania que vou levar para sempre comigo”, diz David. Além das aulas gratuitas, os estudantes recebem uma bolsa-auxílio de R$ 150, material didático, vale-transporte, alimentação e uniforme para participar do curso.

Segundo a coordenadora-geral do projeto Valor Social, Naila Mourthé, a seleção dos candidatos é dividida em três etapas. A partir de uma lista de nomes de estudantes da rede pública encaminhada pelas prefeituras de Belo Horizonte e de Nova Lima, técnicos do Instituto Cultural Flávio Gutierrez convidam todos os interessados para uma série de palestras. Em seguida, é feita uma entrevista e uma avaliação técnica, para medir a habilidade dos jovens, e, por último, ocorre uma visita domiciliar. O curso tem um módulo técnico, com disciplinas específicas da área de restauro e conservação, e outro integrador, com matérias, como história, física, biologia, fotografia, empreendedorismo, ética e cidadania.

Menina dos olhos

Ao longo do projeto, os estudantes fazem visitas ao Arquivo Público de Belo Horizonte, ao Museu Abílio Barreto e ao Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Cecor), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “O projeto é a ‘menina dos olhos’ do MAO e preenche uma lacuna no mercado de trabalho da restauração. Além das técnicas de conservação, o curso se transforma numa oportunidade para os jovens assumirem as rédeas da vida deles. Eles desenvolvem o potencial empreendedor e encontram um foco diferente na escola e na família”, explica Naila.

O jovem Kelvin Mckolen Martins, de 19, é prova do poder de transformação do projeto. Aluno da primeira turma do curso, em 2008, ele hoje é funcionário do setor educativo do MAO e ainda comemora a aprovação no último vestibular da UFMG para o curso de museologia. “Tenho muito orgulho de hoje ser um mediador das visitas no museu. O projeto me abriu as portas para uma nova vida e, nas aulas, aprendi mais que as técnicas de restauração. Elas me incentivaram a correr atrás dos meus sonhos”, conta Kelvin.


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