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Estado de Minas EMPREGO

Mentira no currículo tem perna curta: pesquisa flagra profissionais no Brasil e no mundo

Alto índice de informação desonesta, inconsistente e dados supervalorizados desmascaram trabalhadores que põem em xeque a carreira


postado em 01/04/2018 11:18 / atualizado em 01/04/2018 12:19

(foto: Ivana De Battisti/Freeimages )
(foto: Ivana De Battisti/Freeimages )
 

Hoje é 1º de abril, o Dia da Mentira. Quem já não pregou ou caiu em alguma peça ou lorota de alguém que resolveu brincar com a data? Dependendo da situação, pode até ser divertida. Não no ambiente profissional. Aí não tem graça nenhuma.

 

Uma pesquisa feita pela Robert Half aponta que experiência de trabalho, qualificações (ensino/educação) e habilidades técnicas são os campos mais “maquiados” por profissionais do Brasil ao montar o currículo. A empresa de recrutamento especializado seleciona trabalhadores para oportunidades permanentes nas áreas de finanças, contabilidade, mercado financeiro, seguros, engenharia, tecnologia, jurídico, RH, marketing e vendas e cargos de alta gestão.

 

Os dados da pesquisa revelaram que 75% dos 303 diretores brasileiros entrevistados já excluíram candidatos de um processo seletivo depois de detectarem dados supervalorizados ou omitidos em seus currículos. Números coletados em julho de 2017 são um alerta àqueles que usam essa alternativa para atrair a atenção dos recrutadores, diante da relação desproporcional entre candidatos e vagas. Parece absurdo, descalabro, inverídico. Mas não, é real.

 

O profissional mente ao montar seu currículo, decide correr o risco e pode pagar caro por informações falsas. Vanessa Aguiar, gerente de recrutamento de RH da Robert Half, afirma que mentiras sempre ocorreram, mas vieram mais à tona pelo momento econômico do país, pelo volume menor de vagas e a maior concorrência. “O profissional mistura o lado emocional pressionado pela falta de oportunidade e tempo na fila de espera.” Vanessa Aguiar deixa claro que isso ocorre de forma global. “Na nossa pesquisa, o Chile é o líder, seguido de Emirados Árabes e Brasil e Alemanha, em terceiro lugar.” E pelo visto, formação educacional, conhecimento ou graduação profissional não interferem: “O Chile é uma potência na América Latina e o comportamento, certamente, é insuflado por determinado momento que o faz omitir informações. Nos países da Europa, é menor a frequência, mas também é pontuado. Infelizmente, na América Latina, os destaques são o Brasil e o Chile”.

 

Vanessa Aguiar, gerente de recrutamento da Robert Half, diz que mais cedo ou mais tarde a mentira será descoberta (foto: Robert Half/Divulgação )
Vanessa Aguiar, gerente de recrutamento da Robert Half, diz que mais cedo ou mais tarde a mentira será descoberta (foto: Robert Half/Divulgação )
Conforme Vanessa Aguiar, o currículo é o cartão de visita do profissional e é errado inserir informações falsas: “Ele é importante e, mesmo indo bem na entrevista, será checado e os dados maquiados serão descobertos”. A gerente destaca três mentiras mais comuns nos currículos. “A primeira é a experiência. Mente não só sobre o tempo que ficou numa empresa como também o motivo da saída. O segundo é o domínio do idioma, bem frequente. E o terceiro, chama a atenção, para a formação, a graduação. Muitos dizem que é ela completa, mas é incompleta ou falta matéria a cumprir.” O que as pessoas esquecem, alerta Vanessa Aguiar, é que são informações facilmente checadas, a maioria basicamente com documentação. Muitos mentem ainda sobre salário, o que também é muito simples para o recrutador comprovar.

 

Na pesquisa, como já foi falado, o Chile é o país onde um maior número de diretores relatou ter tido problemas com informações desonestas ou exageradas em currículos (80% dos entrevistados). Em contrapartida, na França, mais da metade dos entrevistados (53%) nunca precisou desconsiderar um candidato por encontrarem informações desonestas no currículo. No total, a pesquisa da Robert Half mapeou a percepção de 2.710 diretores de 10 países ao redor do mundo.

 

IMPACTOS Não é só quem está começando a carreira ou pleiteia cargos inferiores que mentem. Executivos, surpreendentemente, também: “Eles omitem informações que impactam na decisão de negócio da empresa (fusão ou aquisição), assim como na exposição da organização, na economia, na credibilidade, na queda de ações na bolsa e na tomada e direcionamento da empresa no mercado. É assustador. Hoje encontramos profissionais, executivos tarimbados e experimentados que maquiam seus dados. Mas a mentira é detectada. Muitas empresas investem em ferramentas disponíveis no mercado, o processo de seleção se torna mais extenso, há confronto de dados e documentação e controle de informação para encontrar todos os deslizes”.

 

Vanessa Aguiar avisa que é possível minimizar os riscos, já que não existe como acabar com a mentira ao lidar com pessoas: “No entanto, mais cedo ou mais tarde, a mentira será descoberta. Essa atitude influencia na trajetória profissional. Não faça isso. Seja transparente e coerente para ter a oportunidade profissional concretizada”,afirma a gerente.

  

Informações falsas

 

*Diretores que já excluíram o candidato de um processo após descobrirem no currículo informações desonestas ou exageradas:

1º Chile 80%

2º Emirados Árabes 79%

3º Brasil/ Alemanha 75%

4º Bélgica 74%

5º Holanda 71%

6º Austrália/ Suíça 68%

7º Reino Unido 62%

8º França 47%


*Campos do currículo onde os diretores brasileiros mais encontraram informações inconsistentes:

Experiência de Trabalho 56%

Ensino/Graduação 46%

Habilidades Técnicas 44%

Idiomas 39%

Tarefas de trabalhos anteriores 35%

Habilidades de liderança 27%

Estágios 26%

Habilidades em gerenciamento de projetos 18%

Salários anteriores 16%

Outros 1%

 

*Fonte: Robert Half 

 

 

Questão de ordem ética

Andiara Martins, diretora executiva da Martins & Bueno Assessoria em RH, afirma que a mentira começa no nível operacional e vai até o executivo(foto: Martins & Bueno/Divulgação)
Andiara Martins, diretora executiva da Martins & Bueno Assessoria em RH, afirma que a mentira começa no nível operacional e vai até o executivo (foto: Martins & Bueno/Divulgação)
 

Para muitos, há mentiras e mentiras. Não dentro do mercado de trabalho. Principalmente na hora da seleção e recrutamento. Se o profissional decide mentir e é descoberto, a atitude será interpretada como trapaça, embuste, e ele será visto como falso e impostor. Adjetivos que não contribuem para quem procura por colocação e recolocação. Não existem meias verdades.


Para Andiara Martins, diretora-executiva da Martins & Bueno Assessoria de RH, empresa de gestão estratégica de carreira, no mercado desde 1999, “a mentira ocorre com frequência e a nossa percepção é que começa desde o nível mais elementar, do profissional operacional, passando pela média gerência até o executivo. O tom da mentira é que é diferente. O operacional pode omitir sobre a formação acadêmia e o executivo mentirá sobre o resultado que não alcançou, sobre ter uma expertise em área que não domina. Todos pensam que, de alguma maneira, a mentira abrirá portas.”

Mas Andiara Martins alerta que qualquer entrevistador experiente descobre, facilmente, a mentira: “Ele pode, por exemplo, fazer a mesma pergunta de forma diferente, uma no início da conversa e outra no fim, se alguma informação lhe despertou dúvida ou não foi convencido. O candidato nem percebe e vai se contradizer. É quando ele é pego e ocorre a comprovação de que, o que respondeu, não é procedente”.

Andiara Martins lembra que hoje, infelizmente, é preciso confirmar tudo. Mas ela garante que a área de RH tem pessoas capacitadas para lidar com a mentira dos candidatos: “Mentir não vale a pena. E se descoberto, é constrangedor”. A diretora-executiva alerta ainda que os profissionais de RH conversam entre si, trocam informações e fato como esse (o da mentira) é falado e repercute negativamente (o meio vai saber).

Na lista das mentiras que os candidatos ainda insistem em colocar no currículo ou mesmo falar durante a entrevista, Andiara Martins destaca, infelizmente, o voluntariado. “Como está na moda, pega bem para a imagem, muitos colocam que fazem parte de um projeto social e, quando são confrontados a falar a respeito, engasgam, não têm nenhum conhecimento.”

 

Cinco mentiras mais comuns

 

Se você já se sentiu tentado a, ao menos uma vez, aumentar um pouco alguma informação no currículo ou durante uma entrevista de emprego (especialmente para aquela vaga dos sonhos), não caia nessa armadilha. Segundo a Pesquisa dos Profissionais Brasileiros feita pela Catho, 92,2% dos recrutadores afirmam que já flagraram mentiras de candidatos em etapas de um processo seletivo. Elen Souza, psicóloga e assessora de carreira da empresa, listou as cinco mentiras mais comuns contadas pelos candidatos e mostra como é fácil identificá-las.

1 – Mentir sobre experiências profissionais: normalmente, ao se sentir inseguros, profissionais acabam aumentando a descrição e/ou explicação sobre suas atividades desenvolvidas.

Por que não fazer isso? é muito fácil o selecionador descobrir essas informações, seja com o uso da internet para verificar os dados ou até mesmo buscando as referências do profissional ligando na empresa, conversando com o seu antigo gestor ou em redes voltadas ao uso profissional.
Recomendação: no seu currículo, resuma as atividades desenvolvidas em suas experiências, isso já ajuda o recrutador a entender o seu perfil e competências e na hora da entrevista não precisa aumentar ou inflar suas experiências, apenas conte com mais detalhes o que foi inserido no seu CV.

2 – Formação: muitos profissionais colocam no currículo cursos de especialização que não fizeram ou aumentam a carga horária de cursos pequenos, como se fossem de longa duração. Um curso de duas semanas, por exemplo, vira uma pós-graduação.

Por que não fazer isso? não caia na tentação de fazer isso, pois é possível verificar junto ao MEC se a informação é verdadeira ou pedir a apresentação de um certificado e descobrir a verdade.
Recomendação: em vez de mentir, prefira dizer que ainda não conseguiu investir no determinado curso, mas que está disposto a fazê-lo, caso consiga a oportunidade de trabalho.

3 – Habilidades técnicas: muitos candidatos acreditam que quanto mais melhor e por isso acabam aumentando seu nível de conhecimento e até mesmo mentindo sobre suas habilidades. É comum, então, falar que pode executar determinada atividade e não ter realmente experiência no assunto.

Por que não fazer isso? o entrevistador pode submetê-lo a algum tipo de teste prático e pedir que a tarefa seja executada e vai ficar evidente a falta de habilidade
Recomendação: cite em seu currículo quais habilidades técnicas você tem mais conhecimento. O currículo deve ressaltar sempre o que há de melhor em você, por isso dê relevância para o que domina.

4 – Idioma: muitas pessoas acabam falando que têm um segundo idioma fluente ou avançado e quando chega no momento da entrevista pode acabar sendo descoberto.

Por que não fazer isso? o entrevistador pode pedir que o candidato responda no idioma que disse dominar, por exemplo, e se esse profissional não tiver o nível que colocou no currículo, o momento pode ser bem constrangedor.
Recomendação: deixe claro qual seu nível de fluência. Caso ainda não seja avançado/fluente explique que é um ponto que pretende melhorar e investir. Dessa forma o recrutador já perceberá a sua preocupação em evoluir nesse requisito.

5 – Resultados: alguns profissionais acabam falando de resultado que não obtiveram, que não são reais ou foram atingidos por outra pessoa da equipe.

Por que não fazer isso?
o selecionador pode pedir para descrever em detalhes como o resultado foi alcançado e se, de fato, o profissional não foi o executor, vai ser muito difícil explicar o planejamento por meio do qual a meta foi atingida.
Recomendação: antes da entrevista, avalie quais foram os resultados obtidos em sua carreira, talvez eles pareçam pequenos, mas vale a pena contar suas contribuições em outras experiências. O recrutador certamente conseguirá entender a importância de sua contribuição.

 


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