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Estado de Minas Enem

Como a Medicina me escolheu

A família foi o meu alicerce


24/01/2022 14:26 - atualizado 24/01/2022 17:57

Fui criado em Maravilhas, interior de Minas Gerais, cresci em uma fazenda onde vivi
com meu pai, minha mãe e meus dois irmãos Camila e Zezé. Me chamo Luiz Francisco, mas sou mais conhecido como Chico, apelido que tenho orgulho, por ser o mesmo de meu pai. Durante meu ensino médio, me vieram inúmeras incertezas, sobre qual caminho seguir. Medicina veterinária, Engenharia Civil, Farmácia, Engenharia de Minas e até mesmo Culinária. Pois é, áreas diversas, que não se comunicam em ponto algum. Dentre essas opções, a que mais me atraia era a Engenharia de Minas.

 

Minha família. Minha avó, minha irmã, meu irmão, minha cunhada Renata e minha sobrinha Antônia.
Minha família. Minha avó, minha irmã, meu irmão, minha cunhada Renata e minha sobrinha Antônia. (foto: Phocus 4 fotografia)

 

Em 2010 minha vida começou a tomar novos rumos, minha irmã mais velha, Camila, ingressou na faculdade de medicina em Belo Horizonte e por desejo de meus pais mudei para lá e terminei o ensino médio no Colégio Santa Maria Pampulha.

 

A escolha sobre minha carreira não foi feita, fiz prova para engenharia, medicina, veterinária e farmácia. Os resultados vieram e lá tive aprovação de Farmácia em Itaúna e Engenharia Civil em Diamantina. Porém não me senti satisfeito. Estava completamente perdido, não sabia realmente o que escolher. Iniciei o cursinho junto a duas amigas Mariana e Nathália que queriam ser médicas, uma coisa que eu não podia ainda afirmar.

 

Aulas práticas na Liga de Medicina Legal
Aulas práticas na Liga de Medicina Legal (foto: Arquivo Pessoal)
 

 

Muita coisa mudou naquele ano, me lembro de entrar no quarto de minha irmã e ver os livros dela de Medicina, eu achava fascinante, principalmente a anatomia. Acho que foi nesse momento que criei a coragem de assumir para mim mesmo, que queria cursar Medicina.

 

Nunca fui o melhor aluno da sala, as vezes fui até o mais bagunceiro. Enfim, chegaram os vestibulares, a ansiedade tomou conta de mim, fiz as provas e nenhuma aprovação. Me frustrei. Minha mãe queria que eu me dedicasse mais, então lá fui me matricular no cursinho mais famoso de BH, na época. A ansiedade já me corroía e afirmo que ela sempre foi o meu maior obstáculo. Mais um ano de cursinho iria iniciar, porém antes de iniciar as aulas levei um baita tombo. Meu pai faleceu. Meu mundo desabou, foi um dos momentos mais complexos da minha vida. A ansiedade, a depressão e o peso do cursinho me consumiam.

 

 

Mais um ano de cursinho se passou e nenhuma aprovação. Segui por mais um ano no mesmo pré-vestibular, porém a cada dia me via mais desmotivado e cansado com o clima de competição que pairava no dia a dia. Eu ali me sentia apenas mais um aluno ansioso que sofria em busca da aprovação em medicina. Logo o resultado não poderia ser diferente,apenas reprovações. Porém nesse momento via que não dava mais para ficar onde estava, aí foi quando conheci o Determinante. Sala com poucos alunos, ambiente leve que me fazia bem. Na primeira semana de aula, o medo veio, porém algo diferente dos outros cursinhos já acontecia ali. Todos os professores queriam que cada um contasse a sua história. Ali fui criando amizades com colegas de sala, professores, funcionários que sempre estavam preocupados com o meu bem estar. Comecei a fazer de lá a minha segunda casa. Passava o dia todo estudando. A cada prova que passava, também tinha o meu momento desabafo com o prof. Renato ou com a profa. Camila, que me dava colo e escutava as minhas lamentações. Eram como meus pais ali. Infelizmente 2014 acabou e não tive mais nenhuma aprovação, mas o sentimento era diferente ao começar 2015. Continuei no Det. Já, não sentia tanto medo e nem tanta ansiedade, sentia vontade de estudar e acima de tudo, foi um dos primeiros momentos que me senti capaz de conquistar a minha vaga. Foi um ano de extrema dedicação. Listas extras de matemática, inúmeras redações por semana, simulados quase todos os sábados. Os resultados do final do ano chegaram, não tinha passado, mas tinha ficado em excedente em 3 faculdades e minhas notas haviam melhorado muito. Não fui chamado e aí iniciei mais um ano de Det. Aquele que foi o meu último.

 

O trote da minha sala com todos os ex alunos do Determinante
O trote da minha sala com todos os ex alunos do Determinante (foto: Arquivo Pessoal)
 

 

No meio do ano me senti cansado de tentar Medicina e voltei a minha ideia novamente a Engenharia de Minas, pensava "Não tem nada de saúde, então não vou ficar frustrado". E mais uma vez, Renato e Camila, meus grandes apoiadores que não perderam a confiança em mim me convenceram a fazer a minha inscrição no UniBH. Lá na época não precisava realizar a prova, poderia competir com nota do ENEM. Da minha parte foi uma inscrição tão desesperançosa que nem me preocupei com a data do resultado. Pelo SiSU em julho de 2016 fui aprovado em 1º lugar em Engenharia na UFOP. Estava pronto para ir! Porém na semana da matrícula, chegou de surpresa a tão sonhada aprovação em Medicina. Festa e muita alegria! Eu iria ser médico.

 

Organização da Jornada Brasileira de Medicina Legal e Perícias Médicas
Organização da Jornada Brasileira de Medicina Legal e Perícias Médicas (foto: Arquivo Pessoal)

 

Na faculdade vive e ainda vivo os momentos da minha vida e isso não é clichê. Fui líder de turma, representante discente dos alunos no Colegiado, fui presidente de Liga acadêmica e de Atlética, participei de iniciação científica, estágios extracurriculares, projetos de extensão, fui monitor e participei de outras inúmeras atividades que a vida acadêmica me proporcionou.

 

Última cesária no internato de Ginecologia e Obstetrícia, auxiliando a Dra. Maria Eduarda.
Última cesária no internato de Ginecologia e Obstetrícia, auxiliando a Dra. Maria Eduarda. (foto: Arquivo Pessoal)
 

 

Apesar de tantas realizações, não foram apenas conquistas, no meio do caminho perdi minha mãe, minha maior parceira e amiga, meu Tio Hélio que foi meu segundo pai em BH, minha Tia Ana que ajudou a me criar na infância, meu Avô Mozart e meu tio Agostinho. Pessoas de grande importância em minha vida. Foram quedas difíceis, que me desestimularam muito durante o curso. Porém, sempre tive em minha mente, que eles seguiam comigo e que eu iria conseguir. Não posso negar também o imenso apoio que a faculdade me deu. Colegas da instituição e de outras faculdades, professores, funcionários no geral que sempre me estimularam. Apesar dessas grandes perdas, tive ganhos enormes, como o nascimento de minha sobrinha Antônia, que a cada dificuldade, me dava motivos para rir, com sua pureza e doçura. A família sempre foi o meu alicerce e sou muito grato por tudo que sempre fizeram por mim, principalmente meus irmãos que sempre se dedicaram incansavelmente em me apoiar. Somente nós sabemos cada perrengue passado juntos.

  

Agora, mais ao final do curso, no 10° período, me descobri dentro da área. No meu internato de Ginecologia e Obstetrícia no estágio na Maternidade Odete Valadares, me senti completo. Sentia vontade de ficar por lá o dia todo, mesmo não precisando. E vamos concordar que era isso, realmente o que eu fazia. Hoje estou no 12º período prestes a concretizar o sonho de ser médico e começar um novo momento em minha vida. O sentimento no momento é de gratidão e de muito agradecimento a todas as pessoas que convivi nesses anos até aqui. Saibam que o Chico que se forma médico em Junho de 2022 tem um pouquinho de cada um de vocês.

 

Obrigado família, Renato e Camila por sempre confiarem em mim.

 

Artigo escrito pelo aluno (em breve Dr.) de Medicina Luiz Francisco

 

 

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