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Estado de Minas Redação

A prova de redação é também uma prova de interpretação

Os professores Filipe e Vivi explicam sobre a competência 2 na prova de redação para o Enem


23/10/2020 13:39 - atualizado 23/10/2020 13:49

“ O que você quer ser quando crescer?”. Acreditamos que muitos já tenham sido questionados dessa forma, pois essa frase é comum de ser ouvida e faz parte da infância de muitas crianças Brasil afora. Porém, mal sabem os meninos e as meninas que uma pergunta aparentemente ingênua como essa, muitas vezes, está atrelada a diferentes questões, entre elas passar por uma boa preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio, e isso passa também pela preparação de escrever excelentes redações. No Enem, a nota da redação tem função importante para compor a nota total do candidato e definir as conquistas dele, como entrar em uma universidade e fazer um curso superior, às vezes, o tão sonhado desde a infância. E, como nós desejamos o sucesso dos alunos no Enem, continuaremos refletindo sobre o processo de escrita eficiente da redação do PRINCIPAL exame de seleção para ingressar em universidades públicas no Brasil. Afinal, muita gente quer se dar bem nesse exame de peso.
Professores de redação Vivi e Felipe explicam sobre a competência 2(foto: Arquivo pessoal)
Professores de redação Vivi e Felipe explicam sobre a competência 2 (foto: Arquivo pessoal)

Em matéria anterior, consideramos a importância de se dominarem as regras gramaticais para o candidato ter um bom desempenho tanto na prova de linguagens quanto na prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio. Porém, para alcançar as notas mais elevadas -acima de 900- na redação do Enem, não basta apenas saber utilizar a língua padrão avaliada na competência 1, pois há mais quatro competências que também vão medir o desempenho do candidato na redação. Então, neste texto, vamos continuar nosso importante trabalho de análise da grade de correção da redação do Enem e entender o que é esperado do texto do candidato para se conquistar o nível mais elevado, agora, da competência 2.

Nesse sentido, muitos devem se perguntar qual é a necessidade de se entenderem as competências de correção para tirar acima de 900 pontos na redação. Nós respondemos: o candidato deve produzir a própria redação de acordo com a expectativa do corretor, ou melhor, de acordo com aquilo que será contemplado em cada competência da grade de correção. Assim, o aluno deve escrever o que será procurado pelo corretor a partir do que cada competência estabelece. No caso da competência 2, três pontos importantes devem ser considerados: o tema, o conhecimento de mundo do candidato e o tipo de texto.

A avaliação da competência 2 deve ser muito cuidadosa, porque um candidato que não escreve sobre o tema solicitado e não produz o tipo textual exigido - dissertativo-argumentativo-  pode ter sua redação anulada, NOTA ZERO! Deus nos livre desse infortúnio... Além disso, a competência 2  define a nota em outras competências no que diz respeito à abordagem do tema, porque, quando não há fuga, o candidato pode realizar uma abordagem completa do tema ou abordar apenas um aspecto dele. A primeira opção obviamente é a desejável e, nesse caso, o participante deve considerar todos os elementos importantes da frase temática. O segundo aspecto, tangenciar o tema, indica que apenas parte dos elementos essenciais da frase temática foi compreendida e abordada. Assim, percebe-se que, para escrever uma redação que aborde completamente o tema, é preciso realizar um excelente trabalho de interpretação da proposta.   

O quê?  Interpretação de novo? Mas a prova não é de redação? 

Isso mesmo, INTERPRETAÇÃO mais uma vez. A prova de redação é, primeiramente, uma prova de interpretação. Inicialmente, é preciso compreender corretamente a frase-tema e identificar, de imediato, seus elementos essenciais. Para ilustrar isso, vamos citar como exemplo a proposta de 2017, “Desafios para a formação educacional dos surdos no Brasil”. Nesse exemplo, as palavras-chave são “desafio”, “educação”, “surdos”, “ Brasil”, e, caso esses elementos não sejam abordados durante toda a produção textual, a nota da redação será bastante comprometida. Por isso, é muito importante fazer referência, por toda a redação, aos elementos essenciais da temática, e uma estratégia que evidencia a abordagem completa do tema pode ser por meio de repetição vocabular do próprio tema ou por meio do uso de sinônimos das palavras mais importantes, que, para a proposta de 2017, poderia ser “ deficiente auditivo”, “não ouvinte”, “dificuldades de ir à escola”, “empecilhos educacionais”, entre outros.

Já, para exemplificar o que seria tangenciar esse tema de 2017, o aluno abordaria apenas um aspecto da frase temática, o qual poderia ser: as dificuldades enfrentadas pelos surdos sem citar o contexto escolar; ou a educação dos deficientes auditivos sem apontar os desafios; ou, ainda, as dificuldades enfrentadas por todos os deficientes no contexto escolar. Dessa forma, com uma dessas abordagens incompletas, a nota máxima na competência 2 é apenas 40 pontos, nível 1, conforme evidencia a grade a seguir:
 https://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2020/Competencia_2.pdf
https://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2020/Competencia_2.pdf
 

Entretanto, essa interpretação equivocada da frase-tema compromete não só a nota na competência 2, como também em mais duas competências. A abordagem incompleta da temática implica, obrigatoriamente, uma argumentação também parcial, bem como uma proposta de intervenção impertinente ao comando, já que tudo o que foi desenvolvido na redação está relacionado apenas a uma parte do tema; dessa maneira, além de perder ponto na competência 2 por tangenciar o tema, há uma perda de pontos também nas competências 3 e 5 respectivamente. Isso é muito sério, não é? 

Nesse exercício de interpretação da proposta, além de identificar as palavras importantes da frase temática, é preciso analisar, por exemplo, se a frase-tema já apresenta o problema explicitado, como, no Enem 2018, “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados” (manipulação do comportamento do usuário) ou, no Enem 2015, “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira” (a violência contra a mulher). Pode-se analisar, também, se a frase temática defende a importância ou a necessidade de determinada ação ser realizada como, na primeira aplicação do Enem 2016, “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”, indicando a necessidade de se combater a intolerância religiosa. Há, ainda, a possibilidade de a frase-tema apresentar um posicionamento a ser defendido, como em 2010 com a proposta “O trabalho na construção da dignidade humana”, isto é, o trabalho deve levar à dignidade humana. E não se pode ignorar a ocorrência de a frase-tema indicar os aspectos que devem ser desenvolvidos na redação como, no Enem 2011, com o tema “Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado”. Nesse caso, o candidato deve desenvolver conteúdos que podem ou devem ser publicados nas redes sociais e aqueles que não devem ser compartilhados na internet.  Todos esses exemplos ilustram como o processo de entendimento da proposta já se inicia fazendo uma leitura atenta do tema. Além disso, é imprescindível uma interpretação cuidadosa de cada texto motivador, uma vez que eles também sugerem conteúdos que podem e devem ser explorados na redação. 

Porém, conquistar 200 na competência 2 não para por aí não, porque o candidato não pode se basear apenas na coletânea apresentada, ele deve extrapolar os textos motivadores e trazer conteúdos novos das diferentes áreas do conhecimento, como de filosofia, sociologia, química, história, biologia, literatura, geografia e outras mais possíveis. A presença desse tipo de conteúdo é importante, uma vez que é verificado se o participante fez uso de repertório sociocultural de modo produtivo, que pode ser exemplificado com o emprego de:

    •  referências a filósofos e suas teorias;
    •  fatos ou momentos históricos;
    •  poetas, autores e seus respectivos livros e/ou ideias;
    •  personagens, celebridades e personalidades públicas;
    • médicos, estudiosos, especialistas de uma área;
    • filmes, documentários, séries, poemas, obras.

As possibilidades não se esgotam nessa lista, mas servem para ilustrar as alternativas de repertório que podem aparecer no texto. É importante destacar que o repertório sociocultural deve ser legítimo, ou seja, comprovado pelas áreas do conhecimento (nada de inventar repertório sociocultural, hein?), ter relação com o tema da redação e ser produtivo. Sobre o último aspecto, ser produtivo, o conteúdo do repertório não deve ser apenas coerente com o tema, mas contribuir com o que está sendo discutido no exato momento quando o repertório for apresentado. Para ilustrar essa situação, é possível imaginar que, em um parágrafo em que se desenvolvam as causas da “obesidade infantil na atualidade” - má alimentação e sedentarismo-, não seja produtivo citar que o escritor e médico Drauzio Varella tenha listado problemas provocados pela obesidade infantil, como colesterol alto, diabetes, problemas nas articulações e bullying. Esse repertório está relacionado ao tema “obesidade infantil na atualidade”, mas não se ajusta à discussão do texto no ponto em que ele foi utilizado, o qual desenvolvia os motivos da obesidade infantil, mas não abordava as consequências do problema como o repertório indica. Além disso, quando um repertório for utilizado na redação, ele deve ser suficiente. O que é isso? É preciso considerar que um corretor de redação é um professor de português, um ser humano normal, que não domina tudo de todas as áreas do conhecimento; então, ao citar um filósofo, por exemplo, é necessário apresentar, de forma resumida, a ideia defendida por ele, mas de maneira suficiente para um leigo -o corretor-  entender o que é apresentado. Em seguida, deve-se relacionar, de preferência de forma explícita, o conteúdo do repertório à discussão do texto. Então, a questão é ler bastante, sobretudo antes de escrever redações, para se formar uma bagagem cultural eficiente, pois, no dia da prova, é somente a ela que o candidato vai recorrer.
 
As avaliações da competência 2 acabam aí? Não, há mais um aspecto, que talvez seja o mais tranquilo de se cumprir -o tipo de texto. Quanto à avaliação da tipologia textual pela competência 2, é verificado se o texto apresenta a estrutura tradicional do texto dissertativo-argumentativo: introdução, desenvolvimento e conclusão. Por essa competência, a organização das ideias e seu desenvolvimento não serão avaliados, apenas a estrutura das partes do texto dissertativo-argumentativo:  introdução menor, com a presença da tese e anúncio das informações a serem desenvolvidas; desenvolvimento maior, com o detalhamento dos aspectos antecipados na introdução; conclusão menor, com a apresentação de uma ou mais propostas de intervenção e a explicação de uma delas. Não dá nem para acreditar que é somente uma avaliação estrutural que será realizada. Mas é verdade.  O material divulgado neste ano pelo Inep sobre o processo de correção das redações mostra essa cobrança na competência 2:

Na avaliação da tipologia textual, observamos, principalmente, questões ligadas à estrutura do texto dissertativo-argumentativo clássico: introdução, argumentação e conclusão. Importante ressaltar que, na Competência II, essas partes serão avaliadas do ponto de vista estrutural, ou seja, apenas pela sua proporcionalidade, sem considerar a organização e o desenvolvimento de informações, fatos e opiniões utilizadas, aspectos avaliados na Competência III.

(https://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2020/Competencia_2.pdf )


Isso significa que o tamanho dos parágrafos da redação deve estar visivelmente em proporções diferentes para demarcar bem as três partes do texto. Talvez, para uma redação de 4 parágrafos, seria possível pensar na seguinte divisão: introdução, 5 linhas; primeiro parágrafo de desenvolvimento, 9 linhas; segundo parágrafo de desenvolvimento, 9 linhas; conclusão, 7 linhas. Esse tamanho de parágrafo é apenas uma sugestão de organização para deixar evidente a estrutura do texto dissertativo-argumentativo, composto por introdução, desenvolvimento e conclusão. É claro que, quando se avalia a tipologia textual, observa-se também se a redação não apresenta traços recorrentes de outros tipos textuais, como a descrição ou a narração ou até mesmo a injunção. 
 
Portanto, para fazer o curso superior desejado, é preciso alcançar o nível máximo, 200 pontos, também na competência 2 da grade de correção do Enem.  Para isso, três aspectos são importantes: interpretação completa da proposta, conhecimento de mundo e estrutura de texto. Agora que já se sabe isso, o que resta é praticar, afinal escrever a redação do Enem e conquistar as notas acima de 900 é completamente possível. Basta entender, primeiramente, as cobranças da grade de correção do ENEM para o candidato responder novamente à pergunta da infância: “ O que você vai ser?” 

Felipe Alves: @felipealves.professor
Viviane Faria: @professoravivifaria

Vivi e Felipe lecionam no pré-vestibular Determinante e no curso preparatório Dois Pontos: linguagens e matemática.

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