A prova de linguagens ano a ano não traz uma expectativa diferente quanto aos resultados numéricos. Estes, sempre baixos, o que se explica por vários motivos. Entre eles, podemos citar o baixo interesse, sim, do aluno pela área do conhecimento e a precarização do ensino no país que não faz superar certos índices de analfabetismo funcional. Esses dois motivos são graves. O primeiro, porque ter desmazelo pela nossa língua é ter desmazelo em relação a nosso país, a nossa pátria, a nossa brasilidade (que parece existir apenas no conceito), enfim, um desmazelo com nós mesmos. Ora, língua é identidade. O segundo, porque uma educação precarizada não é capaz de formar sujeitos críticos (o analfabetismo funcional distancia o sujeito do senso crítico, pois é um limite à compreensão dos textos, dos discursos, ou seja, da realidade que cerca o indivíduo). Sem pensamento crítico, não há transformação social.
O pífio desempenho na prova Linguagens revela, diante disso, graves problemas que margeiam a educação, a formação identitária, a consciência política (em sentido amplo, que dialoga com Aristóteles). A prova de Linguagens do ENEM denuncia os problemas acima discorridos porque é uma avaliação que privilegia a habilidade de leitura. É uma prova que, de fato, conseguiu distanciar-se de uma perspectiva tradicional que, durante décadas, embasou a avaliação linguística do brasileiro. Antes, o tecnicismo exacerbado, o rigor gramatical, indigente com a variedade linguística do país, o que exige do falante uma instrumentalização unilateral do idioma. Hoje, uma prova mais reflexiva, focalizada nos usos e na multiplicidade linguística do país; uma avaliação que tenta priorizar a interpretação dos recursos linguísticos e não somente o emprego racional, seco, de regras, muitas vezes, já desgastadas e distanciadas dos anseios de uma língua, que é, essencialmente, um organismo vivo. A prova tira o protagonismo do conteúdo pelo conteúdo e desloca-o para a interpretação, para o uso, a aplicação. Tanto o faz (e há, sim, críticas também a esse abandono, por parte da banca elaboradora, do fator técnico, linguístico) , que o aluno, de forma equivocada e leiga, negligencia essa área do conhecimento porque, na visão inocente e imatura, “o ENEM, em linguagens, só cobra interpretação”. Como se interpretar fosse simples, subjetivo. Ledo engano. O resultado ao longo dos anos, assomado aos resultados de outras avaliações – como o PISA – , revelam o contrário.
Somos analfabetos funcionais; a nossa leitura é inefetiva. Após essas reflexões, críticas, que nos levam a repensar nossa forma de valorizar a área de Linguagens, seja tanto pelo professor, seja quanto pelo aluno, seja quanto pela escola, passemos a umas dicas, já quase à véspera da prova, numa espécie de último suspiro.
Conteúdos mais cobrados
Caro, estudante, procure revisar conteúdos como Funções da Linguagem, Variação linguística e Tipos e Gêneros textuais, para o contexto de língua portuguesa; e revisar modernismo (porque , de certa forma, nos leva a contextos pretéritos da literatura brasileira), arte contemporânea, arte popular, história da arte, as vanguardas, para o contexto da literatura. Mais importante que saber nomes é entender os conceitos e saber interpretá-los e aplicá-los.
Para resolver as questões, não use a lógica da eliminação. Isso, porque, na prova de Linguagens, as opções trazem análises corretas sobres os textos-base, porém nem sempre relacionadas ao que foi perguntado. Na pressa e no cansaço, você pode ser atraído, confundido por essas opções. Para fugir desse risco, leia o texto, o enunciado da questão... pare... responda mentalmente à pergunta. Respondeu? Busque nas opções aquela que dialoga ou que se aproxima do que você pré-elaborou como resposta. Perceba que a leitura, em sequência, do enunciado com a opção correta forma um pequeno parágrafo que, na verdade, é uma análise do texto base. Essa leitura em sequência é uma forma de conferir se há coerência na resposta.
No mais, resta-nos desejar confiança, tranquilidade, concentração e, assim, sucesso no dia de novembro.
Alison Leal é professor de Português do Percurso Pré-Vestibular e ENEM.