A comerciante Elaine Avila fez compras ontem em um sacolão e disse ter percebido a redução no valor das batatas, mas o mesmo não observou em relação ao preço dos tomates

A comerciante Elaine Avila fez compras ontem em um sacolão e disse ter percebido a redução no valor das batatas, mas o mesmo não observou em relação ao preço dos tomates

Túlio Santos/EM/D.A Press


O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial, calculada pelo Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou uma queda importante no item “alimentação e bebidas” no último mês de agosto. O levantamento divulgado ontem revelou uma deflação de 0,85%, com um recuo ainda mais acentuado no subitem “alimentação no domicílio” - 1,26%. A queda nos preços revela a importância de analisar os itens que compõem o IPCA de maneira isolada. Essa é a terceira queda consecutiva no item, que apresenta um recuo acumulado de 0,31% no ano, apesar da alta de 1,08% nos últimos 12 meses. Em junho a deflação foi de 0,66% e em julho de 0,46%.

“Temos observado quedas ao longo dos últimos meses em alguns itens importantes no consumo das famílias como, por exemplo, a carne bovina e o frango”, afirmou André Almeida, gerente do IPCA no IBGE, que atribui esta redução a uma maior oferta. Mesmo com a deflação dos alimentos, o levantamento do IBGE também confirmou que o IPCA teve alta de 0,23% no último mês, elevando a inflação para 4,61% nos últimos 12 meses, 3,23% até o momento em 2023. Segundo o instituto, a principal influência do mês veio do item Habitação, com destaque para o subitem energia elétrica residencial, com um aumento de 4,59% e impacto de 0,18 p.p. no índice geral. Apesar de subir 0,23% a inflação ficou abaixo das expectativas do mercado de uma alta de 0,29%.

“O aumento na energia elétrica foi influenciado, principalmente, pelo fim da incorporação do bônus de Itaipu, referente a um saldo positivo na conta de comercialização de energia elétrica de Itaipu em 2022, que foi incorporado nas contas de luz de todos os consumidores do Sistema Interligado Nacional em julho e que não está mais presente em agosto”, explica o gerente do IPCA/INPC, André Almeida.

Já Belo Horizonte e sua região metropolitana seguem em recuo de preços. O IPCA na região caiu em 0,08%, um acumulado no ano de 3,22%. Na última quarta-feira, um levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), vinculada à Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG (Face), revelou que a inflação em BH teve queda de 0,3% em agosto. A redução na capital mineira se deve a queda no preço da tarifa do Ônibus, que em julho caiu de R$ 6,00 para R$ 4,50 ocorrida após mais de dois meses no maior patamar.

Consumo


Segundo o vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Lourival de Oliveira, o recuo no preço dos alimentos, analisando o contexto econômico, se dá pela regulação da oferta no mercado. “A população ainda está com uma renda muito comprimida, então se começa a regularizar as condições de oferta dos preços. A solução é que preço caiu para que as pessoas tenham condições de comprar”, explica.

O cenário, por tanto, não significa uma explosão no consumo, já que com o orçamento mais apertado as pessoas estariam comprando o essencial, um reflexo de um período longo de preços elevados. Segundo o IBGE, a queda no preço se destaca em itens como batata-inglesa (12,92%), feijão-carioca (8,27%), tomate (7,91%), leite longa vida (3,35%), frango em pedaços (2,57%) e carnes (1,9%).

A comerciante Elaine Ávila, de 48 anos, fez compras em um sacolão da capital ontem e diz ter notado a diferença em preços de alguns produtos. “Percebi a diminuição (do preço) da batata, mas do tomate, não”, conta Elaine. “Por um lado, se regulariza as condições de oferta desses produtos, por outro as famílias estão mantendo um padrão de consumo nesses produtos por causa de restrições no orçamento doméstico. Então se não tem explosão de consumo é normal essa redução de preços”, emenda Lourival.

A regulação da oferta também é destaque do IBGE, que cita a maior disponibilidade de carne no mercado interno como uma contribuição para a queda nos últimos meses. O economista Gelton Pinto Coelho, também membro do Corecon-MG, afirma que esse aumento da produção se dá por todo um contexto de melhora econômica. “Quando se tem um sentimento melhor da economia, se tem a volta do investimento. Então, isso aumenta a produção e, obviamente, quando você atinge uma maior base, você tem a lucratividade. Antes você estava produzindo o básico com um preço mais alto. Hoje se consegue produzir mais e ofertar o produto com o valor mais baixo”, explica Gelton.

O economista, lembra que saímos de um período atípico de preços baixos devido à conjuntura política, onde os preços eram forçados para baixo com intuitos eleitorais. Agora, se entra em um período de normalidade, no entanto, ele também ressalta que é importante observar as condições de produção agrícola ao analisar a variação do preço.

“É uma deflação que tem muito haver com a sazonalidade, com o período do ano. Inclusive nós temos que ver nos próximos meses se a condução econômica vai ser a mesma que foi nos primeiros. Por exemplo, estamos sofrendo as consequências do El Nino. O Sul é um importante produtor agrícola, então temos que ver como isso vai impactar nos próximos meses. A tendência é uma ampliação na inflação, não vai ser anormal se isso acontecer”, explica.

Juros


Em contraste, segundo o IBGE, a alimentação fora do domicílio registrou alta de 0,22%, variação próxima ao do mês de julho, 0,21%. As maiores altas foram no lanche (0,3%) e da refeição completa (0,18%). O setor sofre impacto não apenas da produção e do preço do alimento, mas também do custo de pessoal e estrutura. Os preços  foram impactados em agosto pelos aumentos nos setores de habitação (1,11%), saúde e cuidados pessoais (0,58%) e transportes (0,58%), afetados principalmente pelos aumentos na gasolina.

Devido a uma melhora na inflação após o impacto da pandemia e a guerra na Ucrânia, o Banco Central do Brasil iniciou em agosto um ciclo de “flexibilização” da elevada taxa básica de juros (Selic), com um corte de 0,50 ponto percentual para 13,25%, a primeira queda em três anos. A consultora Capital Economics considera que o Banco Central manterá a flexibilização apesar da aceleração da inflação, embora estime que o ciclo será mais gradual.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva insiste em uma redução das taxas de juros para baratear o crédito, incentivar o consumo e os investimentos. O mercado projeta que o país termine 2023 com uma inflação de 4,93%, segundo a última pesquisa Focus, divulgada pelo Banco Central.