Imagem de cartões de crédito espalhados

As entidades citam pesquisa realizada pelo Datafolha encomendada pela Abranet que mostra que 75% da população tem o hábito de parcelar as compras

Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Entidades ligadas a setores de pagamentos, comércio e serviços assinaram um manifesto contra propostas de mudanças no parcelamento de compras sem juros. Em defesa da modalidade, as associações apontam riscos à economia brasileira em caso de extinção, taxação ou limitação desse tipo de operação.

 

O manifesto foi assinado por Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Abipag (Associação Brasileira de Instituições de Pagamentos), Abranet (Associação Brasileira de Internet), Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor), Abad (Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados), ACAD Brasil (Associação Brasileira de Academias), Alobrás (Associação de Lojistas do Brás), Conecta, Parcele na Hora, Euroconsumers Brasil e Univinco (União dos Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências).

 

"Do ponto de vista dos consumidores, o PSJ [parcelamento sem juros] é a oportunidade de adquirir um produto ou serviço em condições que se encaixem melhor em seu orçamento. Para o comércio, o parcelamento é uma linha de crédito para capital de giro mais barata e a chance de fidelizar clientes", diz o texto.

 

As entidades citam pesquisa realizada pelo Datafolha encomendada pela Abranet que mostra que 75% da população tem o hábito de parcelar as compras. No manifesto, as associações afirmam que, no ano passado, a modalidade representou metade das compras com cartão de crédito no país e movimentou mais de R$ 1 trilhão.

 

Mencionam também no documento uma análise feita pela consultoria LCA estimando que o impacto da restrição do parcelado sem juros poderia representar um aumento de 35% no custo do crédito, o que resultaria em uma retração de até 27% do volume concedido.

 

"Estudos indicam que a extinção do PSJ poderia causar uma perda de R$ 190 bilhões para o varejo, gerando um efeito dominó sobre os outros setores da economia", afirma Carol Conway, presidente da Abranet, em nota.

 

Segundo ela, é "inadmissível" que o parcelamento de compras sem juros seja "extinto, taxado ou alterado" e a livre concorrência "deve prevalecer". Varejistas e credenciadoras de cartões seriam os principais afetados pela limitação do parcelamento sem juros.

Os lojistas usam esse modelo de compra para atrair clientes e aumentar o volume de vendas. Já as maquininhas se beneficiam da antecipação de recebíveis demandada pelos comerciantes, com tarifas mais altas para prazos mais longos.

No Brasil, a disputa concorrencial entre os diferentes atores do mercado passa sobretudo pelo número de parcelas oferecidas, não pelas taxas de juros atreladas aos cartões. Mudanças no parcelamento de compras sem juros passaram a ser consideradas nas discussões envolvendo as altas taxas do rotativo do cartão de crédito e a elevada inadimplência.


Há expectativa de que uma proposta consolidada seja finalizada no prazo de 90 dias. Uma solução para os altos juros do rotativo é o ponto central do debate que envolve bancos, instituições de pagamentos, empresas de maquininhas de cartão de crédito, governo e Congresso.

 

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, vem dizendo publicamente que o parcelamento de compras sem juros é "muito importante" para a atividade econômica e que nenhum dos participantes envolvidos no debate sobre as altas taxas do rotativo do cartão de crédito quer tomar decisões que tenham impacto abrupto no consumo da população brasileira.