Casas do projeto do governo federal
O levantamento do Ministério das Cidades obtido pela Folha de S.Paulo mostra que são 1.115 empreendimentos atrasados ou paralisados, todos ainda do Minha Casa, Minha Vida. O mais antigo teve o contrato assinado em 2009, ano em que ele foi lançado, mas a maioria foi contratada entre 2014 e 2018.
Juntos, os empreendimentos já receberam aportes de R$ 4,8 bilhões, sendo que a maioria (R$ 3,8 bilhões) foi para obras paralisadas.
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Uma dessas obras paralisadas está situada no Riacho Fundo II, cidade do Distrito Federal a 28 km da Praça dos Três Poderes.
São quatro condomínios de prédios que juntos deveriam ter 924 unidades habitacionais. Os contratos com a Direcional Engenharia foram assinados em 2012, mas hoje o que se vê no local é um buraco aberto para construir a fundação de um dos condomínios.
O longo período de abandono associado à época das chuvas na região transformou o cenário em uma várzea. Ao redor da cerca, a Folha de S.Paulo encontrou cavalos pastando. Um pouco mais adiante, moradores da cidade improvisaram um campo de futebol.
Procurada, a Direcional disse que "desconhece os empreendimentos mencionados e que, em seus mais de 40 anos, jamais deixou de entregar uma obra contratada". Questionada sobre o porquê de a empresa ser identificada como a responsável pelo empreendimento de acordo com o Ministério das Cidades, a construtora informou que "está buscando esclarecimentos junto à administração pública sobre o caso".
Já o condomínio em frente a essa área, chamado Ipê Amarelo, teve o contrato assinado em 2015 e foi concluído. Tanto ele como os quatro atrasados se destinam à faixa 2 do programa habitacional --famílias com renda mensal de até R$ 4.000.
O relançamento do Minha Casa, Minha Vida é uma das prioridades do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o novo desenho está a cargo do Ministério das Cidades e da Casa Civil, que trabalham em uma MP (medida provisória) para relançar o programa.
Atualmente há cerca de 180 mil obras do programa habitacional contratadas. Uma das razões para a paralisação de empreendimentos é o aumento do custo no setor de construção civil.
No ano passado, Bolsonaro editou um decreto que aumenta os limites de subvenção econômica às famílias beneficiárias do Programa Casa Verde e Amarela -que substituiu o Minha Casa, Minha Vida anterior.
Pela norma, os novos limites para produção e aquisição de imóveis novos ou usados passam a ser R$ 130 mil em áreas urbanas e R$ 55 mil em áreas rurais.
Parte da paralisação de obras está relacionada ao estouro desse limite de R$ 130 mil.
O governo Lula avalia uma revisão desse teto. O argumento é que, enquanto a obra fica parada, há prejuízos, como furtos e depredação do que já foi construído.
O ministro das Cidades, Jader Filho (MDB), diz nas reuniões para discutir o relançamento do programa que entregar as unidades habitacionais atrasadas será a primeira tarefa do governo federal.
A preocupação com as construções paralisadas ou atrasadas surgiu ainda na equipe do governo de transição. De acordo com o relatório final sobre o tema, havia o risco de não serem entregues 44 mil moradias na modalidade para municípios com menos de 50 mil habitantes.
Para tentar remediar a situação, o grupo sugeriu a retomada de obras paralisadas em 90 dias.
O ministro Jader Filho tem se encontrado com diversos representantes do setor para estruturar a medida provisória com o relançamento do programa.
Nesses encontros, o presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), José Carlos Martins, pediu uma diminuição do prazo entre a licitação para retomada da obra paralisada e o reinício da construção.
"Isso tem demorado muito tempo e às vezes deixa fora do jogo porque na hora de assinar não vale mais a pena", explicou. Isso porque quanto maior a demora, maior a diferença entre o que foi orçado pela construtora e o preço efetivo da obra.
Evaniza Rodrigues, integrante da União dos Movimentos de Moradia, lembra que foi aprovada uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que reservou parte dos recursos necessários para obras do Minha Casa, Minha Vida em 2023. "Sem isso, não tinha dinheiro para janeiro", diz. Agora, prossegue ela, "o desafio é terminar o que está em curso e começar novas".
Segundo integrantes do Palácio do Planalto, além de retomar as obras paradas e atrasadas, Lula quer impulsionar a contratação de novos empreendimentos para a população mais pobre.
Ao criar o Casa Verde e Amarela, o governo Bolsonaro acabou com as condições dadas à faixa 1 (famílias com renda mais baixa) do antigo programa de marca petista.
No antigo Minha Casa Minha Vida, esse segmento era para famílias com renda bruta de até R$ 1.800 por mês (valor usado em 2020) que poderiam assinar contratos com subsídio de até 90% do valor do imóvel, sem juros.
Na reformulação do programa habitacional, Lula quer recriar esse segmento e também reajustar o limite de renda.

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