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Sustentabilidade sem rótulos no Haiti


postado em 15/10/2019 04:00

Júlio Souki Amaral
Engenheiro civil, empresário e consultor sênior na Unops - Escritório de Serviços de Projetos das Nações Unidas (ONU)



A sustentabilidade está relacionada a um modo de pensar e criar soluções adequadas ao contexto. Se perguntarmos qual é a fonte de energia mais sustentável para o funcionamento de uma maternidade, considerando placas solares ou um gerador a diesel, o senso comum responderá que são as placas solares. Mas para maternidades construídas no interior do Haiti, após o terremoto de 2010, a solução sustentável combinou as duas fontes de energia.

Embora a tecnologia solar seja menos poluente, naquele contexto não havia manutenção disponível nem reposição de peças. Um defeito poderia deixar a maternidade inoperante por um longo período. O gerador era a garantia de manter o serviço funcionando. E nada mais insustentável que uma maternidade onde crianças não podem nascer. 

Esse é um dos muitos aprendizados que tive atuando no Haiti como membro do Escritório de Serviços de Projetos das Nações Unidas (UNOPS). Lá coordenei duas iniciativas de reconstrução, nos anos posteriores ao terremoto, que deixou mais de 200 mil vítimas fatais e milhares de desabrigados. Uma foi a reconstrução da principal avenida de um dos bairros mais pobres de Porto Príncipe. A outra foi a construção de 15 maternidades no Haiti.

Nesse cenário desafiador, o mais difícil não era botar as edificações de pé. O ponto sensível era torná-las funcionais e eficazes, de acordo com a realidade local.

No caso das maternidades, além de construir e equipar os prédios, era preciso formar as parteiras que iriam operá-las. A solução veio da Costa do Marfim - ex-colônia francesa como o Haiti. Lá, capacitamos as profissionais para criar a Universidade das Parteiras.

A mesma visão sistêmica impactou a forma de contratar a mão de obra para a construção civil. A velocidade das obras era um aspecto importante, mas empregar os cidadãos locais era igualmente necessário. Priorizamos a rotatividade da mão de obra. Assim, a renda foi distribuída para um número muito maior de famílias. 

Outro problema que exigiu uma abordagem inovadora foi a ausência de lotes para construir casas para os desabrigados. A solução foi convencer outros moradores a ceder seus terrenos, onde residiam em moradias precárias, para que estas fossem demolidas e, em seu lugar, fossem construídas residências em dois pavimentos. A família dona do terreno ficou com a nova casa no andar de baixo e uma família desabrigada ocupou o andar de cima. Ambas ganharam com a negociação. 

Decisões de gestão foram importantes para um resultado mais sustentável. Cada empreendimento tinha metas que precisavam ser alcançadas para que a próxima etapa fosse ativada. Esse conceito simples, mas fundamental, impediu que construções fossem levadas adiante de forma incompatível com a capacidade local de gerenciar, suprir e manter as estruturas. 

No caso das maternidades, por exemplo, foram construídas menos unidades. A realidade mostrou que não havia condições de operar todas as 15 instalações previstas. Já o número de casas construídas foi maior que o projetado. Ou seja, o olhar da sustentabilidade no projeto evitou desperdício de recursos em uma ponta e, em outra, ampliou o resultado e o impacto social. 

A resposta para uma mesma questão, em contextos diferentes, pode não ser igual. A opção sustentável em Belo Horizonte pode ser uma placa solar. No Haiti, é construir estruturas robustas, de baixa manutenção e que não dependem de eletricidade para funcionar.

O legado para a sustentabilidade: considerar a função, analisar o contexto, não copiar soluções sem refletir, conectar execução e gestão.


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