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Estado de Minas DIVERSIDADE NA TV

Bruna Aiiso, atriz da Globo, afirma ter perdido trabalho por ter mãe negra

Intérprete de Laurita na novela "Terra e Paixão" contou que ela e sua mãe foram tiradas de uma campanha publicitária por não possuírem fenótipo semelhante


16/08/2023 15:28 - atualizado 16/08/2023 16:08
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Bruna, à esquerda, é uma mulher amarela de cabelos longos, lisos e pretos. Ela usa uma camisa branca e sorri para a foto. Ao seu lado direito está sua mãe, Lia, uma mulher preta de cabelos longos, crespos e castanhos. Ela usa uma blusa branca e sorri para a foto, usando um batom vermelho
Bruna Aiiso afirmou que foi cortada de campanha publicitária de Dia das Mães porque sua mãe, Lia, é negra, e não amarela (foto: Instagram/Reprodução)

A atriz da Globo Bruna Aiiso, que interpreta Laurita na novela de Walcyr Carrasco “Terra e Paixão”, revelou recentemente que ela e sua mãe perderam um trabalho em uma campanha de Dia das Mães por não serem fisicamente parecidas. Filha de uma mulher preta e de um homem amarelo, de ascendência japonesa, a atriz puxou mais ao pai e conta que já vivenciou diversas situações de racismo envolvendo sua mãe.

De acordo com Bruna, recentemente, as duas estavam prestes a assinar um contrato para uma campanha de Dia das Mães de uma empresa de dermocosméticos, mas acabaram sendo cortadas quando a equipe responsável percebeu que dona Lia, sua mãe, era uma mulher preta, e não amarela. Para a atriz, o que ocorreu foi um sinal de racismo estrutural.

“Ninguém nunca vai chegar até mim e dizer que não vai me contratar porque a minha mãe é negra. Fica uma coisa subentendida. Disseram que a campanha não rolaria porque haviam pensado que a minha mãe era asiática. Desde pequena vi minha mãe passar por situações racistas, mas apenas de uns anos para cá me dei conta disso. As fichas vão caindo e a gente vai entendendo e dando nome para as coisas. Ela passou por mais essa, mas não ilesa. As feridas se acumulam”, disse Bruna.

Debate sobre raça

A atriz também relembrou que, durante a infância, a mãe foi vítima de racismo constante não só por ser negra, mas também por ter uma filha de pele clara.

“Talvez ela não tivesse consciência das microagressões que sofrera desde sempre. Quando eu era levada à escola, as pessoas perguntavam quem era a mãe daquela criança, ou se ela era a minha babá. No mercado, as pessoas a perseguiram por achar que ela não poderia estar ali. Hoje, mais adulta, sabendo como as coisas acontecem, tenho a consciência de que ela sofria racismo”, explicou.

Atualmente, elas superam barreiras juntas. Apesar de aquela campanha de Dia das Mães não ter dado certo para elas, a atriz afirma que “foi até bom não ter acontecido naquele momento” e que as duas chegaram a estrelar outras campanhas juntas.

“O audiovisual tem o vício de estruturar as famílias de forma óbvia, sendo que na vida real as coisas não são bem assim. O Brasil é múltiplo. Fomos convidadas para várias campanhas e eu acredito que ocupar e construir espaços é a melhor resposta. Pretos e pretas no topo, empregados, protagonizando e enriquecendo é o que queremos”, afirmou.

Para além dos debates sobre protagonismo preto, Bruna também é conhecida por falar sobre pautas envolvendo a comunidade amarela no Brasil. Para ela, estrelar como Laurita na novela das nove da Globo é uma grande conquista não só para ela, mas também para o que ela representa.

“Só o fato de ter uma atriz em uma novela da faixa das nove em uma papel relevante já é motivo para se comemorar. A comemoração é ainda maior quando Walcyr Carrasco brilhantemente dá a ela um péssimo caráter e um vilanismo que chega a ser não só antiético, mas também cruel”, enfatizou.

A atriz também expressou satisfação pela personagem não corresponder ao estereótipo recorrente de “minoria modelo” – quando o grupo étnico é percebido como possuidor de um grau de sucesso socioeconômico superior à média da população, com fortes valores morais e comportamentos exemplares, geralmente para justificar a miséria de outros grupos vulnerabilizados e, dessa forma, também servindo como instrumento de fortalecimento da branquitude.

“Nós, artistas amarelos, podemos interpretar qualquer personagem. Não somos estrangeiros. Somos brasileiros de várias classes sociais, realidades, personalidades e experiências de vida. E uma médica amarela antiética é extremamente possível. Walcyr arrasou nessa sacada”, comentou.

“Trata-se de uma mulher interessante, com muitas camadas e coisas surpreendentes. Não é uma personagem que vai passar pelos outros, mas sim ter importância na trama”, completou.

Protagonismo amarelo

Bruna afirma que faz parte de um avanço no audiovisual, e que pretende continuar dessa forma. “Ainda que haja pessoas que pensem que estou reclamando, não estou. Não é sobre mim, mas sobre uma classe inteira que não teve oportunidades. Nós, amarelos, existimos”, explicou ela, que também administra uma página no Instagram onde procura divulgar o trabalho de outros artistas amarelos, o “Somos Brasileiros”.

Para ela, apesar da existência dos avanços, eles ainda são lentos. Com o protagonismo da comunidade asiática no Oscar deste ano, Bruna acredita que o Brasil tende a seguir os mesmos passos e ampliar a discussão sobre a presença de atores e atrizes amarelos em seus produtos de entretenimento.

“Enxergo avanços, mas é algo muito devagar. Acho que o Brasil tende a copiar tudo o que vem dos EUA. Há um delay [atraso], mas esse espelho é presente. O Oscar tem regras rigorosas quanto às inscrições, às cotas para pessoas racializadas e à diversidade; e tem havido, aqui no Brasil, um movimento para que haja ao menos um ator ou atriz amarelo no elenco. Acho que deve haver essa discussão na maior emissora da TV brasileira e uma das maiores do mundo”, afirmou.

“É uma felicidade para a classe artística brasileira perceber que as coisas podem tomar um rumo diferente. Neste ano, Michelle Yeoh, ao ganhar o Oscar, disse que ‘esse prêmio é para todas as meninas e meninos que se parecem comigo’. Para mim, ali ela já disse tudo”, complementou.

Outros trabalhos

Além da novela, Bruna já está confirmada em outros trabalhos no segundo semestre de 2023. Ela estará presente no filme que aborda o sequestro do apresentador e empresário Sílvio Santos, e em outro, chamado “Um dia cinco estrelas”. Nas plataformas digitais, estará em “Desejos S/A”.

Para ela, são personagens que possuem um arco dramático, diferentemente de outros papéis que ela já havia interpretado.

Bruna já havia participado de outra novela, “Bom Sucesso”, em que viveu um relacionamento com um homem negro, Léo, vivido por Antônio Carlos Bernardes, também conhecido como Mussunzinho por ser filho do humorista Mussum. Na ocasião, o personagem dele não teria um par romântico claramente estabelecido e dividiria suas possibilidades de relacionamento entre a personagem de Aiiso, uma japonesa, e uma francesa, vivida por Rhaissa Batista.

Em uma votação popular, 90% dos telespectadores apoiou que Léo se casasse com a personagem de Bruna. “O público gosta [de diversidade], e é algo que dá certo. Não cabe uma desculpa para não ousar em colocar pessoas [de outras etnias] em cena”, disse a atriz.
 

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