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Estado de Minas CELEBRAÇÃO

'Exu não é o diabo': povos de terreiros de Minas falam sobre a entidade

Desfile de Grande Rio, grande campeã do Carnaval do Rio de Janeiro, levou a um aumento de 418% da palavra Exu no Google


02/05/2022 11:10 - atualizado 02/05/2022 18:33

Imagem de Demrson D'Alvaro que interpretou Exu
Demerson D'Alvaro interpretou Exu na comissão de frente da Grande Rio (foto: Mauro Pimentel/AFP)

As buscas pelo nome Exu aumentaram 418% depois da apresentação da escola de samba Grande Rio no Carnaval exteporâneo do Rio de Janeiro em abril. O Estado de Minas conversou com lideranças de terreiros em Minas para saber quem é essa entidade e de que forma a apresentação dela na avenida ajuda a quebrar preconceitos e reduzir a intolerância religiosa.

A Grande Rio, que trouxe a entidade como tema do defile, foi a vencedora do Carnaval carioca de 2022, e colocou em evidência  as religiões de matriz africana e suas entidades sagradas: orixás, inquices e voduns. A entidade africana foi representada na comissão de frente por Demerson D'Alvaro.
 
"Eu, como sacerdote de matriz africana, achei muito importante para nossa tradição falar de ancestralidade. O candomblé mostra que temos nossas origens, descendência de matriz africana, e que Exu não está ligado ao diabo, como tantas outras denominações religiosas pregam", afirma Márcio Robeerto  Dandalunda, sacerdorte do Terreiroiro Bakisso Ty Dandalunda.
 
Marcio Roberto destaca que Exu é o mensageiro, o porta-voz que abre os caminhos. "É Exu que traz um bom emprego, um bom trabalho e uma boa saúde. A maldade não está no Exu e sim nos seres humanos." Ele comemora o aumento na procura pelo nome Exu, conforme demonstrou levantamento feito pelo Google Trends a pedido de O Globo. A procura aumentou cinco vezes na semana que se seguiu ao desfile em relação às semanas anteriores.
 
O sacerdote de matriz africana lembra que as pessos recorrem a Exu para pedir bom caminho. Nesta manhã de segunda-feira, dia dedicado a Exu nas religiões de matriz africana, Márcio Roberto realizava um ebó, ritual de limpeza espiritual, em uma pessoa que o procurou para pedir proteção.
 
"Estou passando um ebó de Exu para um delegado para tirar as coisas negativas dele, para ele ficar próspero", afirma Márcio Roberto, que tem 34 anos de iniciado no candomblé. O ritual é realizado para tratar mazelas e para que Exu traga equilíbrio e prosperidade.

Intolerância religiosa

Tatetu ojunyfá (Márcio Roberto de Dandalunda), homem negro com cabelos, barba, e roupas brancos, com árvore ao fundo
Marcio Roberto afirma que "A maldade não está no Exu e sim nos seres humanos." (foto: Arquivo pessoal)
 

As lideranças de terreiros avaliam que o desfile contribuiu para a redução da intolerância religiosa. "Penso que a intolerância religiosa vai reduzir sim. Sabemos que temos que continuar batalhando, colocar a nossa cara e mostrar para sociedade que não fazemos culto nenhum ao diabo e ao satanismo", diz Márcio.

A apresentação da Grande Rio deu visibilidade a Exu de maneira lúdica, o que permite desmistificar a imagem negativa que se construiu dessa entidade no Brasil.  Nas religiões de matriz africana não existe a dualidade entre bem e mal, como é apresentado nas religiões cristãs, portanto Exu não é a representação do mal.
 
"Mais uma vez a cultura popular nos traz, de forma lúdica e irreverente, a quebra de paradigmas e preconceitos. Exu é uma divindade extremamente importante no panteão africano", diz makota Célia Gonçalves Souza, coordenadora nacional do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-brasileira (Cenarab).
 
Exu é a divindade africana mais perseguida devido ao racismo religioso. Exu é irreverente e o orixá mais próximo do humano."O racismo religioso se impõe. É como se apropriassem do nosso sagrado para traz3r um ótica a partir do racismo religioso. 

Exu é a palavra

 
Makota Kidoialê, mulher negra com roupas e turbante branco, sorrindo para a câmera
A Makota Kidoialê destaca que, nas religiões de matriz africana, Exu é o reinício. (foto: Igor Viana/Divulgação)

A presença de Exu na avenida para os povos de terreiro simboliza o recomeço para a humanidade. Exu simboliza a comunicação, a palavra. "Para nós de terreiro foi uma maravilha a Grande Rio ter compreendido essa importância e necessidade de ampliar a palavra", afirma Makota Kidoialê, do Quilmbo Manzo, terreiro em Minas tombado pelo patrimônio histórico.
 
A makota destaca que, nas religiões de matriz africana, Exu é o reinício, depois de dois anos  nos quais a humanidade sofreu com a pandemia de COVID-19. "É um movimento de retomado depois desse silêncio que foi a pandemia. É necessário ampliar a palavra e Exu é a palavra. É necessário que a gente volte a se comunicar e Exu é a palavra", diz.
 
Makota Kidoialê destaca a simbologia dessa entidade que significa encontro. "Exu é a fecundação. É quando dois corpos se encontram para renascer não só uma nova vida, como projetos e a possibilidade de realizações de sonho. A gente não caminha só e Exu se faz presente para esa conjunção." 

Povos de terreiro em Minas

Makota, mulher negra com turbante amarelo com detalhes rosa, posa em fundo branco sorrindo para a câmera
Makota Celina fala sobre Exu e desmistifica a imagem negativa da entidade (foto: Arquivo pessoal)

Exu é considerado um orixá nos terreiros que são ligadodos à cultura iorubá. Nos terreitos ligados  à nação banto, ele é um enquice. Dos negros escravizdos, que vieram para Minas, os bantos foram maioria.  
 
Minas é um estado com forte presença das religiões de matriz afrifana, om preponderância da umbanda. Na formação histórica de Minas, há uma forte presença dos povos bantos. 
 


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