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Estado de Minas Afroempreendedorismo

Conheça o Back to Black Afro Pub: um espaço que exalta a cultura negra

Localizado no Bairro Floresta, o pub nasceu com a missão de quebrar barreiras, esbanja personalidade e recebe diversos eventos culturais e gastronômicos


04/08/2021 11:00 - atualizado 04/08/2021 12:42

Fachada do Back to Black Afro Pub, no bairro Floresta.(foto: Reprodução)
Fachada do Back to Black Afro Pub, no bairro Floresta. (foto: Reprodução)


Os espaços pretos têm que ser sempre no baixo centro? Os eventos pretos têm que ser em algum lugar escondido? José Lucas Ramalho, Fernando Calleb Rodrigues e Warley Barros se fizeram essas perguntas. A resposta veio com a inauguração do Back to Black Afro Pub, na Avenida do Contorno, no segundo semestre de 2019.
 

A ideia é desmitificar o estereótipo de que pessoas negras só frequentam a periferia e demonstrar que os espaços nobres da capital mineira também podem e devem ser ocupados por elas.

 

Investiram na abertura do pub com um cardápio diversificado nas bebidas que vão de chopps a drinks mais elaborados. Na parte dos pratos, a aposta são os hambúrgueres artesanais. "Criamos um espaço que nós gostaríamos de frequentar em BH, não só em festas, mas um lugar que eu possa ir em uma terça-feira, tomar um chopp, ouvir uma música, conversar com os meus, sem sofrer nenhum tipo de preconceito sabe? E me sentir bem em estar nesse espaço. Acolhemos toda essa galera, todo mundo é bem-vindo" conta José Lucas.


(foto: Reprodução)
(foto: Reprodução)

 

O ambiente é rodeado por ilustrações que remetem à cultura afro, com quadros, filtro dos sonhos, desenhos e mensagens nas paredes, além de adesivos nos espelhos, como forma de contribuição dos frequentadores. Todos os estilos musicais são acolhidos: "A gente toca Black Music em geral, porque pra gente Black Music é toda música tocada por preto, desde o Gilberto Gil a Mc Rebecca, à Beyoncé, Hihanna, a um forrozinho, regae ou hip hop."

 
ESPAÇO DE COLABORAÇÃO

Com o tempo, o Afro Pub passou a ser mais do que um bar, ele se transformou em um espaço de incentivo à cultura negra, recebendo apresentações musicais e de dança, exposição de arte, saraus e slams. Eles estão de braços abertos para todo tipo de manifestação artística,  com a filosofia de que a união de forças entre pessoas, entidades e empresas vem para somar e conquistar cada vez mais espaços.

 

"A gente tem que tirar essa idéia do preto escravizado. Nós não somos descendentes de escravos, nós somos descendentes de um povo que foi escravizado, mas se a gente for olhar a história são todos descendentes de reis e rainhas. De poderes que foram tirados da gente. Então a única coisa que estamos fazendo é retomando os nosso espaço. Que é o espaço de direito de todos", declara Fernando. 

 

O empreendedor destaca a diferença entre os públicos em diferentes espaços de Belo Horizonte. "As pessoas que passam aqui na Avenida do Contorno não são as mesmas pessoas que passam embaixo do viaduto. Eu quero todas as pessoas tenham a visão da cultura preta, da cultura afro, da cultura hip-hop, da cultura periférica no mesmo patamar, essa é a idéia do Afro Pub", completa.


Os proprietários do Back to Black afro Pub, José, Fernando e Warley, em evento com o restaurante Malewa Food(foto: Reprodução)
Os proprietários do Back to Black afro Pub, José, Fernando e Warley, em evento com o restaurante Malewa Food (foto: Reprodução)

 

O pub já fez eventos em parceria com o Malewa Food, restaurante de comidas típicas africanas aqui de BH, com Nesganega, restaurante de culinária afro-brasileira, com o Afrolíricas, criadoras do AfroSarau e com o Bloco Afro Magia Negra, responsável por um dos momentos mais especiais da história do bar, durante o carnaval de Belo Horizonte.

OS DESAFIOS 

Com apenas seis meses em funcionamento, o Afro Pub teve que encarar os desafios da pandemia. Depois de três meses completamente fechados, tiveram que reformular totalmente o plano de negócios para implementar o modelo delivery. Além disso,  recorreram à vaquinha online para arrecadar investimentos, rifas e parcerias com músicos para divulgação em lives.
 

"A gente foi na fé exatamente da mesma forma que a gente fez quando abriu o Afro Pub, totalmente na fé, porque dinheiro a gente não tinha muito e não tinha oportunidade para errar", relata Fernando. Agora o foco dos sócios é no ano que vem, com a perspectiva do avanço da vacinação e a volta da normalidade à Belo Horizonte.

 

"Como eu disse, o Afro Pub não é só um bar. Ele não é importante só para nós, ele é importante pra muita gente, para artistas que estão começando, pessoas que sabem que aqui é um ponto de encontro, um ponto de apoio. Então nós nos agarramos com todas as forças e falamos 'não vamos abrir mão do Afro Pub' e estamos aí até hoje", conta José.

 

Além das dificuldades impostas pela COVID-19, há a resistência da vizinhança à presença de um bar assumidamente afro em uma área nobre da capital. Eles relatam que constantemente recebem denúncias de perturbação da ordem em diversos horários dos dias, comentários nas redes sociais e avaliações que visam diminuir o ranqueamento do pub na internet.

 

Outro relato é de viaturas policiais paradas à porta do bar para o cumprimento do horário de fechamento do estabelecimento, o que não é observado com outros bares da região, que seguem em funcionamento, mesmo depois do horário imposto pela prefeitura.

 

José conta que em uma madrugada, quando ele foi ao pub, uma vizinha acionou a polícia, denunciando invasão ao estabelecimento. Ele relata o desconforto sentiu ao ter a condição de dono de um estabelecimento questionada.

 
FUTURO

Ao planejarem o futuro, os empreendedores destacam a necessidade de uma inclusão efetiva, que vá além de leis e ações pontuais. "Espero entrar na minha loja de madrugada e ninguém chamar a polícia pra mim, eu abrir com a chave e entrar", confidencia José.

 

Para Fernando  a representatividade real é ver pessoas pretas se dando bem, pessoas pretas empreendendo: "E quando eu falo que no futuro eu gostaria de ver um Afro Pub em cada capital é justamente porque eu sei que lá em São Paulo, no Rio, no Tocantins, no Piauí... existe alguma pessoa como eu, como o Lucas, que é capaz mas que é mal visto e é diminuído o tempo todo e a única coisa que essas pessoas precisam é de uma oportunidade ou pelo menos de alguém que acredite nelas para que as coisas deem certo".

 

*estagiária sob a coordenação de Márcia Maria Cruz 


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