![Inspirada pelas lembranças do escritório onde o pai trabalhou, a arquiteta Isabela Vecci criou um ambiente de repartição pública(foto: Jomar Bragança/Divulgação) restaurante do palacio](https://i.em.com.br/ukJPZJJEfjE3qJjGPvqXVfnDMp8=/790x/smart/imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2022/10/23/1410061/restaurante-do-palacio_2_187631.jpg)
Até então, mal se podia passar perto do portão. O Palácio das Mangabeiras era cercado por seguranças e segredos. Agora os belo-horizontinos podem, não só visitar toda a propriedade, como se sentar para comer na sala da casa do governador. Com menu assinado pelos chefs André de Melo e Paulo Vasconcellos, do bufê Bravo, o Restaurante do Palácio se abre para uma nova história.
Não estava nos planos dos sócios ter um restaurante, apesar dos inúmeros pedidos e propostas. Mas os olhos deles brilharam com o convite para ocupar um lugar simbólico, cujas paredes são testemunhas da nossa história.
“É um orgulho poder explorar, através da gastronomia, um lugar que envolve uma mística e gera muita curiosidade”, define André. “Nós também sentimos isso.”
Aos poucos, enquanto subimos a ladeira, os detalhes da casa branca se revelam. Com fachada curva e janelas de cima abaixo, fica no ponto mais alto do terreno.
Inaugurado em 1955, o Palácio das Mangabeiras foi construído para ser a residência oficial dos governadores de Minas Gerais. Há três anos, virou Parque do Palácio. O projeto arquitetônico original é de Oscar Niemeyer.
![Árvore de polvilho e chips de tubérculos com coalhada seca, homus e guacamole(foto: Victor Schwaner/Divulgação) arvore de polvilho e chips de tuberculos restaurante do palacio](https://i.em.com.br/E4JW9CTg39cK5bF0aKm7OI8ETGU=/332x/smart/imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2022/10/23/1410061/arvore-de-polvilho-e-chips-de-tuberculos-restaurante-do-palacio_1_100241.jpg)
As portas se abrem e nos levam a um encontro com a exuberante escada que dá acesso ao segundo andar. Mais alguns passos e estamos no meio da sala do governador.
Chama a atenção o revestimento de madeira nas paredes e pilastras, que, inclusive, inspiraram o projeto de Isabela Vecci.
A arquiteta se lembrou do escritório onde o pai trabalhava, no Centro de BH, e criou um ambiente de repartição pública, com fotos e objetos antigos, como máquina de escrever, relógio, televisão e mesa de telefonista.
Dos arquivos de metal, “brotam” plantas que exibem toda a sua vivacidade. “Quando vi as plantas 'nascendo' dentro das gavetas, tive a mesma sensação de quando vi o palácio Angkor Wat, no Camboja, que foi tomado pela natureza”, comenta o chef.
No restaurante, o verde é uma extensão da Serra do Curral, que “abraça” o palácio, da mata ao redor e dos jardins de Roberto Burle Marx.
Não tem como explicar a sensação de se sentar em uma mesa posta para comer no palácio, que até então existia apenas no nosso imaginário, em um dia qualquer. Só vivendo.
A sala ao lado, onde o governador fazia os despachos, pode ser reservada para aniversários, almoços de negócios ou por quem busca um momento de mais privacidade.
O menu passeia pela pluralidade de culturas e sabores que existem em território mineiro, a começar pela mistura de povos. “Eu mesmo tenho uma avó francesa, outra italiana, um avô brasileiro e um pai libanês. Sou de uma família com origem em quatro países”, conta André.
![Filé Wellington com purê de batata e alho-poró trufado e espinafre(foto: Victor Schwaner/Divulgação) bife Wellington restaurante do palacio](https://i.em.com.br/eA-lESXkwdYtRgxMx12j3iP0Ru8=/332x/smart/imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2022/10/23/1410061/bife-wellington-restaurante-do-palacio_8_114863.jpg)
O trabalho sem fronteiras tem a ver com a própria vocação histórica do palácio. Imagina, enquanto casa do governador, quantos convidados passaram por ali, de várias nacionalidades.
A sugestão é começar pela árvore de chips de tubérculos e crocante de polvilho. Não só pelos sabores, mas pela história que conta.
“Quando comecei a frequentar o palácio, sempre que chegava a hora do pôr do sol, chamada de golden hour, via que as árvores iam mudando de cor e isso me encantava. Pensei: tenho que criar um prato consiga levar essa vivência para a mesa.”
Apoiadas no tronco e nos galhos de ferro, as “folhas” de batata inglesa, batata-doce, banana-da-terra e o polvilho representam as diferentes tonalidades do pôr do sol, um dos atrativos do Parque do Palácio.
Para acompanhar, coalhada seca, homus e guacamole, o que gera infinitas possibilidades de combinações. Segundo o chef, essa entrada simboliza o que ele busca na gastronomia: além de bonita e gostosa, a comida tem que ser divertida e, sempre que possível, compartilhada.
O pastel de bobó de camarão com catupiri é outro exemplo. Para começar, a surpresa. O recheio, bem farto, vem do lado de fora da massa, então cada um pode comer como e quanto quiser. Muitos clientes falam que aquele é o pastel mais recheado que já comeram na vida.
O varal de parma com azeitonas marinadas, muçarela de búfala e focaccia propõe a mesma “brincadeira”.
Homenagem aos clássicos
De longe, o prato mais comentado e fotografado é o inglês bife Wellington. Muito pelo ineditismo, porque não se encontra fácil em restaurante. André teve essa ideia por acreditar que fazia sentido servir, em um ambiente clássico, uma receita clássica.![Ravioli de funghi com molho de queijo canastra e cogumelos defumados(foto: Victor Schwaner/Divulgação) Ravioli de funghi com molho de queijo canastra e cogumelos defumados restaurante do palacio](https://i.em.com.br/dCQagfIwgGf6rwGI8bqfANMaXUM=/332x/smart/imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2022/10/23/1410061/ravioli-de-funghi-com-molho-de-queijo-canastra-e-cogumelos-defumados-restaurante-do-palacio_3_103877.jpg)
“Essa foi a maneira que encontrei de homenagear uma comida clássica, que não é de autor. Nem sempre precisamos ser o mais inovador e o mais criativo. Podemos fazer uma comida confortante, para que as pessoa sintam todos os sabores.”
O chef prepara como manda a tradição. Envolve o filé, selado, em patê de cogumelos salteados na manteiga com tomilho, presunto parma e massa folhada. São dois dias, considerando os intervalos de descanso na geladeira, para ficar pronto.
O momento em que o garçom chega à mesa para partir o Wellington é o mais aguardado. Todos da mesa param para ouvir o som da crocância da casca e ver a carne rosada surgir, bem suculenta.
Este é o único prato principal para compartilhar (serve duas pessoas). André gosta de oferecer a possibilidade de vivenciar com mais alguém a mesma experiência gastronômica. Os acompanhamentos também são clássicos: purê de batata e alho-poró trufado e espinafre.
Muitos preparos são finalizados na brasa. André “surfa” na onda que ganha força neste momento em que a cozinha se volta para o rústico.
O restaurante tem como trunfo um forno a carvão, de onde saem, por exemplo, o magret do arroz caldoso de pato e o bacalhau servido com caramelo cítrico de pancetta e cebola. “Queremos colocar ainda mais coisas na brasa. Isso dá uma profundidade de sabor interessante.”
O sabor defumado é marcante em dois pratos com cogumelos, que são o ravioli de funghi com molho de queijo canastra (o mais vendido até agora) e o carpaccio de denver steak ao molho de mostarda dijon e grana padano.
![Mil-folhas de batata com polvo, aioli de pimentão defumado e salsa picante(foto: Victor Schwaner/Divulgação) Mil-folhas de batata com polvo, aioli de pimentão defumado e salsa picante restaurante do palacio](https://i.em.com.br/8Yc9c4KFnmubRUZYkDck48jXDmk=/332x/smart/imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2022/10/23/1410061/mil-folhas-de-batata-com-polvo-aioli-de-pimentao-defumado-e-salsa-picante-restaurante-do-palacio_4_105751.jpg)
Também está presente no aioli de pimentão que acompanha o delicado mil-folhas de batata com polvo e salsa picante, homenagem do chef à Espanha, onde trabalhou por seis anos.
Pratos emblemáticos da história do Bravo podem ser encontrados no menu do Restaurante do Palácio. Qual é a ideia? Apresentar a comida do bufê para quem não conhece e dar a oportunidade, para quem já conhece, de comê-la a qualquer hora, sem ser em eventos.
Alguns dos escolhidos são Caça às trufas (croquete de joelho de porco defumado e trufado) e Limoeiro (mousse de limão siciliano em casca de chocolate branco com recheio de geleia de limão e hortelã).
Também não poderia faltar o crocante em formato de jornal, que virou marca registrada. A massa de rolinho primavera, com escritos de tinta de lula, acompanha o steak tartare, nada comum, de filé-mignon angus curado com queijo e casca de laranja.
Borboletas no estômago
Outro dia, André de Melo ouviu a seguinte pergunta de um cliente: você que é o chef do palácio? Sim, ele respondeu, e logo refletiu sobre como esse “cargo” é grandioso e histórico.![Mousse de limão siciliano em casca de chocolate branco com recheio de geleia de limão e hortelã(foto: Victor Schwaner/Divulgação) Mousse de limao restaurante do palacio](https://i.em.com.br/ScUftuSKGl1xiGFVgM1kiDC0EDs=/790x/smart/imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2022/10/23/1410061/mousse-de-limao-restaurante-do-palacio-_5_81806.jpg)
Por coincidência, o belo-horizontino estudou em um colégio nas proximidades e lembra-se de acompanhar, todos os dias, a movimentação dos seguranças em volta da residência. Mal dava para se aproximar do portão, quanto mais enxergar o que havia lá dentro.
“Hoje, sendo chef do palácio, é quase como receber o título de cidadão honorário de BH”, compara André, que ocupa a mesma cozinha onde eram preparadas as refeições para o governador.
O chef sabe da responsabilidade, mas se sente pronto para assumi-la. “O projeto chegou em momento que já temos vivência, conhecimento e expersite para abraçar uma causa de tamanha grandeza”, aponta. O bufê acaba de completar 11 anos e, como empresa, buscava novos desafios.
Não estamos falando apenas de ocupar, de forma inédita, o palácio. Para quem tinha como rotina fazer eventos, operar um restaurante traz emoções diferentes. O serviço é muito mais vivo e intenso, já que cada prato, cada mesa conta uma nova história e exige um esforço único para atender às expectativas.
“Os eventos também são um desafio, mas você sabe quantas pessoas, o que vão comer e o horário em que vão chegar. Em restaurante, todo dia é uma surpresa”, comenta o chef, que costuma circular pelo salão e interagir com os clientes.
André também valoriza a liberdade de pode incluir um novo prato, de um dia para o outro, no menu (e tudo bem se precisar volta atrás), o que não consegue no bufê.
Pessoalmente falando, o chef estava com vontade de voltar a sentir borboletas no estômago. Como estava há 11 anos na mesma função, a emoção em lidar com o novo quase não aparecia mais.
“Estou em plena idade produtiva, querendo abraçar o mundo, e o projeto vem de encontro a esse meu momento pessoal. Por isso, encarei. Se estivesse cansado, em fase criativa ruim ou com a 'casa' bagunçada, não poderia ou não conseguiria”, analisa.
![Pastel de bobó de camarão com catupiri(foto: Victor Schwaner/Divulgação) Pastel de bobo de camarão com catupiri restaurante do palacio](https://i.em.com.br/SLXO0J9OQ1NHMVv5mrU2i-nJN7A=/332x/smart/imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2022/10/23/1410061/pastel-de-bobo-de-camarao-com-catupiri-restaurante-do-palacio-_7_89575.jpg)
Mais do que tocar uma nova cozinha, o desafio é apresentar o Parque do Palácio como uma opção de lazer para os belo-horizontinos.
Além do restaurante, fazem parte do complexo o Café Magrí e a Margô Drinkeria. Juntos, eles querem aliar gastronomia a algo a mais, como música, moda, arte, design e arquitetura, para que os visitantes encontrem sempre uma nova diversão.
“Queremos que seja um parque de diversão para gente grande. Aqui temos uma mistura muito rica de arquitetura, natureza, vista para a Serra do Curral, pôr do sol, gastronomia”, enumera.
André adianta alguns planos. Um deles é lançar uma feijoada na área da piscina, com caipirinha e chorinho, para que vire um programa clássico de sábado aos pés da Serra do Curral.
Outra ideia é convidar chefs para assinar o menu por dois meses. Assim como um parque, ele entende que o restaurante deve ser um ambiente dinâmico e democrático, onde cabem várias gastronomias. O palácio também está de portas abertas para todo tipo de evento (já tem três casamentos agendados).
Pastel de bobó de camarão com catupiri
Ingredientes400g de mandioca cozida; 250g de pimentão vermelho picado; 150g de cebola branca picada; 1⁄2 maço de coentro picado; 20g de gengibre ralado a gosto; 5g de pimenta dedo-de-moça picada sem as sementes; 2 folhas de louro; 40g de alho picado; 150g de tomate italiano picado; 50ml de azeite de dendê; 150ml de leite de coco; pimenta-do-reino a gosto; sal a gosto; 1kg de camarão cinza limpo; 500g de massa de pastel; 400g de catupiri; 500ml de óleo de soja
Modo de fazer
Bata a mandioca, deixando alguns pedaços. A intenção é que o creme não fique completamente liso. Tempere os camarões com sal e pimenta e refogue com o azeite de dendê em uma panela já aquecida. Retire os camarões e reserve. Na mesma panela, refogue os demais ingredientes. Acrescente a mandioca, o leite de coco e deixe ferver. Acerte o sal e a pimenta e acrescente os camarões. Reserve. Corte a massa de pastel no formato desejado e frite. Reserve. Em uma travessa ou tábua reta, coloque o bobó de camarão e, por cima, algumas porções de catupire. Finalize com a massa de pastel por cima do bobó. Decore com coentro picado ou brotos.
Serviço
Restaurante do PalácioRua Professor Djalma Guimarães, 157, Mangabeiras
(31) 99582-5610