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Estado de Minas

Livro apresenta as 80 receitas mais típicas da cozinha de Roraima

Depois de 'A culinária de Roraima', Flávio Ferraz se prepara para lançar livros com receitas dos outros seis estados da região Norte do Brasil


09/01/2022 04:00 - atualizado 09/01/2022 13:53

ensopado de peixe
De origem indígena, a damorida é um ensopado de peixe com tucupi preto e bastante pimenta (foto: Helena Tassara/Divulgação)

É natural falar da cozinha do Norte do Brasil como se fosse uma só. No máximo, dar destaque à paraense, apontada como modelo da região. Mas a verdade é que cada estado tem suas especificidades. Interessado pela cozinha brasileira regional, o psicólogo e psicanalista Flávio Ferraz se dedica a uma série de livros com receitas típicas separadas por territórios. “A culinária de Roraima” é o primeiro lançamento.

“A minha tentativa é de contribuir, de forma bem modesta, contra o apagamento das tradições da culinária regional do Brasil. Que sobrevivam e ganhem visibilidade”, aponta o autor, que é mineiro, mora em São Paulo e já escreveu sobre receitas da cidade do Rio de Janeiro e das regiões da Itália.
 
Apesar de costumes indígenas e ingredientes amazônicos serem pontos em comum, os hábitos alimentares não coincidem em todos os estados do Norte. A ocupação dos territórios e a formação populacional não se deram da mesma maneira, o que faz com que as influências externas, igualmente determinantes para a identidade da cozinha, variem.

Flávio começou por Roraima por ser um estado longínquo e desconhecido aos olhos do Sul e do Sudeste. Ele mesmo nunca pisou lá. Além disso, é onde a tradição indígena se mantém com mais força. Roraima tem o maior percentual de índios entre os habitantes e a maior extensão de terras indígenas demarcadas. A reserva Parque Yanomami é uma das mais conhecidas.

Não por acaso, o prato que mais representa a cozinha roraimense tem raiz indígena. A damorida está para Roraima assim como a moqueca está para a Bahia e o tutu de feijão está para Minas Gerais. “É um caldo quente e bem apimentado, com temperos locais e tucupi preto, onde se mergulha o peixe para terminar o cozimento”, descreve. A receita tem variações com carnes de caça, formiga saúva e lagarta.

A damorida, na tradição indígena, é servida às visitas como forma de acolhida. Fora das aldeias, tornou-se uma receita para ocasiões especiais. “Dizem que, quando eles servem o prato para alguém que não conhecem, ficam esperando a reação da pessoa”, conta. Isso porque o caldo é bastante apimentado.

As pimentas, aliás, estão presentes em praticamente todas as receitas típicas de Roraima. Flávio chegou a ouvir que lá não se come sem pimenta. No livro, ele cita o trabalho do pesquisador Reinaldo Barbosa, que, em “Pimentas de Roraima”, catalogou 163 variedades utilizadas em todo o estado, em geral muito picantes. As mais comuns são malagueta, murupi, olho-de-boi e canaimé.

Comida original

Usando sua experiência como pesquisador, Flávio consultou trabalhos acadêmicos, livros, jornais, sites, conversou com cozinheiros e outros nativos para caracterizar a comida original de Roraima. No total, selecionou 80 receitas típicas do estado, entre doces e salgadas, para compor o livro, evitando pratos que são comuns a todos os estados do Norte. As ilustrações são da artista plástica Alice Tassara.
 
 bolo pé de moleque
A receita do bolo pé de moleque de carimã em Roraima pode levar leite de coco e banana (foto: Helena Tassara/Divulgação)

A cozinha roraimense, no fim das contas, é uma mistura de tradições indígenas e influências de imigrantes que começaram a chegar com a exploração da pecuária. As receitas com carne de sol, que são muitas, se tornaram populares com a presença nordestina. Lá eles fazem desde escondidinho e torta a paçoca com banana e picadinho com abóbora.

Atraídos pelo plantio de arroz, os gaúchos apresentaram ao povo de Roraima a roupa-velha (charque desfiado com farinha de mandioca). Já a vizinha Guiana acrescentou o curry ao tempero da comida. “Hoje em dia, por causa da ocupação venezuelana, o pepito (sanduíche) e a arepa (tortilha de milho) são comidas de rua muito populares em Boa Vista.”

Flávio testou todas as receitas. A mais surpreendente, na opinião dele, é a caldeirada de peixe no tucupi. Entre as sobremesas, chamaram sua atenção o mingau de banana-pacova (parecida com banana-da-terra) e o pé de moleque de carimã. O bolo, feito com massa puba (extraída da mandioca fermentada), é comum no Norte e no Nordeste, mas em Boa Vista a receita pode levar leite de coco e banana.
 
Depois de “A culinária de Roraima”, Flávio se prepara para lançar livros com receitas dos outros seis estados da região Norte. Os próximos são Acre, Amapá, Rondônia e Tocantins. “Espero que os leitores tenham disposição de se deixar surpreender. A culinária de lá tem uma lógica diferente da nossa, de tradição portuguesa e tropeira, mas há boas surpresas.”

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