Cena de 'Rota polar - A travessia da Passagem Noroeste na era das mudanças climáticas'

A exibição do filme sobre a travessia será amanhã, no UNA Cine Belas Artes; um desafio era mover o barco à vela quando não havia vento

Reprodução

Desde o século 19, centenas de expedições tentaram, sem sucesso, encontrar uma rota comercial entre Europa e Ásia passando pelo Ártico. O intento não se mostrou viável, mas tornou célebre a chamada Passagem Noroeste, que, entre junho e setembro do ano passado, os velejadores Beto Pandiani e Igor Bely cruzaram em um barco à vela – apenas três outros barcos desse tipo já tinham realizado tal feito.

O resultado da aventura é o documentário “Rota Polar – A travessia da Passagem Noroeste na era das mudanças climáticas”, que terá exibição gratuita em BH, nesta quarta-feira (11/10), em sessão seguida de um bate papo com os diretores Beto Pandiani e Sylvio Rocha.

Velejador que já cruzou o Oceano Pacífico, o Atlântico e fez as rotas austral e boreal, Pandiani diz que a ideia de realizar a Rota Polar remonta há mais de 10 anos, quando foi procurado pelo Discovery Channel, interessado em exibir um programa a respeito. A viagem acabou não acontecendo.

“Ressuscitei essa ideia em 2018, liguei para o Igor e começamos a estudar as possibilidades. Veio a pandemia, o que, por um lado, ajudou, já que pudemos estudar mais. Foram três ou quatro anos de preparação”, destaca. Ele diz que expedições como essa demandam uma preparação objetiva, logística e física, que envolve nutricionista e acompanhamento médico, mas também uma “interiorização”.

“Você vai mentalizando o roteiro e as situações que podem acontecer, sempre pensando em uma solução. Não é uma coisa que você tem um manual ou que você vai rapidamente encontrar uma resposta. Quando você se propõe a fazer uma viagem sem precedentes, é normal que você tenha mais perguntas do que respostas, o que é um incentivo. O coração do entusiasmo é esse, é como essas perguntas te movem”, ressalta.

Você vai mentalizando o roteiro e as situações que podem acontecer, sempre pensando em uma solução. Não é uma coisa que você tem um manual ou que você vai rapidamente encontrar uma resposta. Quando você se propõe a fazer uma viagem sem precedentes, é normal que você tenha mais perguntas do que respostas. O coração do entusiasmo é esse

Beto Pandiani, velejador


Degelo 

A Passagem Noroeste abriu por causa do degelo, mas, segundo ele, ainda assim a Rota Polar impõe muitos desafios, especialmente para quem decide atravessá-la num barco sem motor. Pandiani diz que era necessário encontrar uma maneira de fazer a embarcação seguir adiante nos dias sem vento. A solução encontrada foi um sistema de pedais, com hélices movidas por eles.

“Esta foi a única, entre as oito viagens de que participei, em que não sabíamos o lugar da chegada, porque o mar no verão do Ártico não degela de maneira uniforme. Você tem alguns pequenos destinos, comunidades que têm vida. O lugar de chegada tem que ter aeroporto, por exemplo, porque tínhamos que voltar para casa; não dá para terminar num pedaço de gelo”, diz.

Outra questão, conforme aponta, diz respeito à energia. Como no Círculo Polar Ártico o sol está sempre muito baixo, não é possível contar com a energia solar. “A gente comprou um gerador a álcool alemão, muito interessante, que não polui. O legal desses projetos é que você descobre tecnologias para poder empregar num barco como o nosso.”
 
Navegadores do filme Rota Polar

Dupla de navegadores iniciou sua epopeia sem conhecer o lugar da chegada

Reprodução
 

O documentário faz uma reflexão sobre as mudanças climáticas, mostrando imagens que mesclam o degelo com paisagens deslumbrantes, de uma natureza ainda intocada, além de entrevistas com cientistas ligados a pesquisas no Hemisfério Norte. “Viajamos com o intuito de abordar o tema mudanças climáticas, que é muito sensível, deveria ser discutido só pela ciência, mas hoje virou uma celeuma política, ideológica, infelizmente”, diz Pandiani.

“O que me deixou satisfeito e realizado em relação ao filme é o fato de ele tocar as pessoas pela beleza do lugar, despertar nelas a sensibilidade no que diz respeito à vida dos animais e a consciência de que tudo está interligado, não importa se você mora no Sul, no Norte, no Ocidente ou no Oriente. O planeta é um só e temos que cuidar dele”, afirma.

O mais impactante da viagem para ele foi a questão humana, os problemas sociais que os inuit, povo originário da região, têm atualmente.
 
“Como em todos os lugares do mundo onde a cultura ocidental prevaleceu sobre a cultura indígena, a cultura dos povos originários, você tem muitos problemas sociais, alcoolismo, vandalismo, crime, violência, isso numa vila de 1.800 pessoas. Naquele lugar maravilhoso, isolado do mundo, acontecem coisas que poderiam acontecer no Rio de Janeiro ou em São Paulo”, ressalta. 

"ROTA POLAR – A TRAVESSIA DA PASSAGEM NOROESTE NA ERA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS"

Exibição do documentário seguida de bate-papo com os diretores Beto Pandiani e Sylvio Rocha, nesta quarta-feira (11/10), às 20h, na sala 1 do UNA Cine Belas Artes (Rua Gonçalves Dias, 1.581, Lourdes). Entrada franca. Informações: (31) 3252-7232.