cartaz com dizeres sobre poemas

O poema aldravista consiste em seis versos, sem título, com características específicas de acordo o com o número de sílabas. Essa forma de poesia que surgiu na cidade, em 2000, tem como principal característica a concisão das palavras

Diivulgação) arquivo pessoal
A primeira forma de poesia brasileira, chamada de Aldravia, torna-se patrimônio histórico, cultural e imaterial mineiro, com a aprovação do PL 381/2023 na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nessa terça-feira (22/8). Criada na cidade de Mariana, na região Central de Minas Gerais, a forma minimalista de fazer poesia ganhou adeptos interessados na divulgação da literatura e das artes plásticas como forma de democratizar o acesso à cultura. Pela sua simplicidade, a poesia é lida em diversas academias de letras do mundo e se tornou um recurso didático nas escolas municipais de Mariana e em unidades prisionais do estado.
 
A integrante da Academia Marianense de Letras e escritora do Movimento de Arte Aldravista, Andreia Donadon, explica que o poema aldravista consiste em seis versos, sem título, com características específicas de acordo o com o número de sílabas. Essa forma de poesia, que surgiu na cidade em 2000, tem como principal característica a concisão das palavras.
 
A escritora conta que o fazer poético da Aldravia representa uma inovação na área da literatura brasileira com poemas escritos de forma simples, mas com a capacidade de produzir reflexões sobre a vida, os caminhos da literatura, das artes plásticas e da música. A escritora destaca que é a primeira vez que a literatura brasileira se depara com algo dessa natureza, um produto literário 100% nacional, que não sofre nenhuma adaptação de forma estrangeira.
 
“Os resultados dessas reflexões já estão nos estudos de nossas obras em monografias de conclusão de cursos em universidades, em dissertações de mestrados e em teses de doutorado de diversas universidades”.
 
Donadon relata que a poesia Aldravista ultrapassou as fronteiras brasileiras antes de se tornar Patrimônio Cultural e Imaterial de Minas Gerais, sendo uma das principais conquistas o reconhecimento de forma brasileira de poesia pela Academia de Letras de Lisboa, em Portugal, e em outros países da língua portuguesa.
 
“Em 2012, a Divine Académie Français de Arts, em Paris, promoveu o Encontro de Escritores Mineiros e, a partir de então, a Aldravia começou a ser reconhecida e publicada na França. Também houve encontros na Sociedade dos Poetas, no Chile”, ressalta Donadon.  
 

Aprovado em 1° turno

 
Aprovado por unanimidade em 1° turno, nessa terça-feira (22/8), a proposta do Projeto de Lei 381/2023, de autoria do deputado estadual Thiago Cota (PDT), foi distribuída às Comissões de Constituição e Justiça e de Cultura para receber parecer, nos termos do art. 188, combinado com o art. 102, do Regimento Interno.
 
Cota destaca que o projeto veio dar luz à cultura de Mariana e esse reconhecimento coloca a Aldravia dentro do calendário cultural do estado e possibilita diversas iniciativas. “Agora a Aldravia deve ser valorizada e divulgada, além de ser objeto de estudos nas universidades”.
 

Por dentro dos muros

 
detentos sentados em cadeiras e escrevendo poesias

O produto final do Projeto será a publicação digital em um coletânea com as Aldravias produzidas pelos indivíduos em privação de liberdade

Reprodução/Arquivo pessoal
 
Por ter em uma de suas missões a democratização da cultura, a Aldravia ultrapassou os muros do sistema prisional de Minas Gerais e, de acordo com a Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Estado de Minas Gerais (Sejusp), 39 presídios e 13 unidades da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) fazem parte do projeto ‘Nas Sendas das Aldravias’ .
 
Ao todo foram 1.200 indivíduos privados de liberdade participantes do projeto. A diretora de Ensino e Profissionalização do Depen-MG, Maristela Esmério Pessoa, destaca que para a realização das aulas foram capacitados 114 servidores e voluntários das unidades prisionais e APAC’s para o desenvolvimento do projeto.
 
O resultado, segundo a diretora, é que há uma média de 1.000 Aldravias produzidas e algumas delas já foram publicadas.
 

Proposta pedagógica e social

 
Como proposta pedagógica, Maristela Pessoa, diz que a Aldravia destacou-se como uma ferramenta de grande valia para o desenvolvimento intelectual dos indivíduos privados de liberdade do sistema prisional de Minas Gerais, bem como de movimento cultural.
 
“A poesia de seis versos é de fácil entendimento estrutural foi contemplada de forma efetiva para contribuir com o desenvolvimento destes sujeitos em que eles puderam abordar as suas realidades e seus anseios futuros”.
 
Ela destaca que o projeto colaborou com o sistema prisional para que as pessoas em privação de liberdade possam cumprir a pena de forma mais digna e humanizada, a partir da oferta de novas oportunidades de convívio com linguagens afetivas, possibilitando aos custodiados desenvolverem a criatividade e se expressarem a partir da poesia Aldravia.
 
“O projeto teve como proposta criar um ambiente criativo possibilitando a manifestação daquilo que os custodiados sabem, mas não sabem que sabem. O produto final do Projeto será a publicação digital em um coletânea com as Aldravias produzidas pelos indivíduos em privação de liberdade”, finaliza.