Dantas Suassuna posa ao lado de pintura rupestre

Filho de Ariano Suassuna, Dantas descobriu a pintura rupestre aos 10 anos, nos livros do pai

Sérgio Amaral/divulgação

Quando Ariano Suassuna lançou o Movimento Armorial com o objetivo de criar arte erudita a partir de elementos da cultura popular nordestina, Manuel Dantas Suassuna, um dos filhos do escritor, tinha 10 anos.

O garoto ficou atônito com a proposta do pai, e, a partir daquela ideia, começou a formar sua personalidade artística. “Comecei a criar na minha cabeça uma forma pictórica baseada em três linhas: pintura rupestre, gravura de cordel e símbolos do candomblé”, conta o artista, hoje com 63 anos.

O cordel é elemento muito forte na obra de Suassuna pai. Mas de onde o filho tirou suas referências aos orixás e à pintura rupestre?

“Também foi do meu pai”, responde Dantas Suassuna, surpreso com a dúvida do repórter. “Ele era fascinado pelas pinturas rupestres”, explica. “Uma das minhas primeiras memórias é a cópia que tinha lá em casa do livro ‘Indícios de uma civilização antiquíssima’, do José Azevedo Dantas”, emenda.

Guia raro

A publicação a que Dantas Suassuna se refere é documentação importante dos sítios arqueológicos do Brasil. Informa locais onde há pinturas rupestres, muitas delas localizadas em Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

“Esse livro, embora hoje seja raro, ainda serve de memorial para quem se dedica a estudar o tema”, informa Dantas.

“Meu interesse pelos símbolos do candomblé vem por causa das pinturas rupestres, pois, muitas vezes, esses símbolos se assemelham aos desenhos pré-históricos”, explica.

Isto posto, todo o trabalho de Dantas traz alguma referência a pinturas rupestres. Isso ocorre, por exemplo, no figurino da ópera “O auto da Compadecida” (2022), parceria de Tim Rescala com Rodrigo Toffolo, regente da Orquestra Ouro Preto.

“Se você reparar, o figurino da ópera está dividido em duas partes: preto e branco, quando a peça se passa na Terra, e colorida, quando se passa no céu. Tem muito grafismo rupestre na parte preta e branca”, ressalta.

Partindo das pinturas pré-históricas, Dantas Suassuna criou a oficina realizada em escolas públicas da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte com o intuito de promover a preservação da arte rupestre, levada à sala de aula. O aluno é estimulado a pintar as imagens que viu em um painel improvisado.

Depois de passar pelo Nordeste com seu projeto, Dantas Suassuna ministra gratuitamente a oficina “Pintura e símbolos – A pintura rupestre”, esta semana, em Ouro Preto.
 

'Como aqui em Ouro Preto não há sítio arqueológico, eu trouxe fotos de pinturas rupestres do Nordeste e de Lagoa Santa para os alunos reproduzirem. Ao final, a gente vai pintar juntos um grande painel, como se fosse a parede de uma caverna'

Dantas Suassuna, artista plástico

 

Na Escola Saramenha

A atividade integra a programação do Festival de Arte e Movimento, promovido pela Escola Saramenha de Artes e Ofícios, que começou ontem e segue até 30 de julho.

A programação conta com aulas de dança, oficinas de cerâmica, pintura e pintura de azulejos, além de recital de violão com Marcel Powell, filho do compositor Baden Powell (1937-2000), um dos violonistas mais importantes do Brasil.

No sábado (22/7), será realizada homenagem ao artista e produtor cultural Júlio Varella, que morreu em 2021 e foi coordenador do Festival de Inverno em Ouro Preto. A programação especial será conduzida pelo artista plástico José Alberto Nemer.

“Lá no Nordeste, eu levava os alunos para as cidades que têm sítio arqueológico. Eles reproduziam os desenhos no papel”, explica Dantas Suassuna.

“Como aqui em Ouro Preto não há sítio arqueológico, eu trouxe fotos de pinturas rupestres do Nordeste e de Lagoa Santa para os alunos reproduzirem. Ao final, a gente vai pintar juntos um grande painel, como se fosse a parede de uma caverna. Todo mundo vai pintar na lona espichada numa mesa. O produto final será a grande tela que se dá numa caverna contemporânea”, brinca Dantas.
 
O artista explica que sua oficina tem o objetivo de despertar o interesse para o “núcleo primordial artístico brasileiro”. Suassuna acredita que a partir do momento em que as pessoas entenderem a importância desse patrimônio, violações aos sítios arqueológicos serão menos comuns e mais ações de preservação serão realizadas.

“Essas pinturas são o primeiro olhar do Brasil, feitas por artistas primordiais do país, que deixaram sua obra registrada nas paredes”, conclui.

FESTIVAL ARTE E MOVIMENTO

Até 30 de julho, na Escola Saramenha Artes e Ofícios (Rodovia dos Inconfidentes, 766, Ouro Preto). Programação completa e inscrições para oficinas no site saramenhaarteseoficios.com.br.