Rapper Thiago Veigh olha para a câmera

Letras de Veigh falam de fama, pobreza, família, sexo, luxo, superação e desilusão amorosa

Denys Lacerda/EM/D.A Press
 
 
De “moleque que até ontem não tinha nada”, como o rapper se descreve na faixa “Clickbait”, para o posto de maior estreia nacional do Spotify. Criado na Cohab 1, em Itapevi, na Região Metropolitana de São Paulo, Thiago Veigh experimentou uma virada de chave radical após o lançamento do álbum “Dos Prédios Deluxe”.

Aos 22 anos, o artista da gravadora Supernova Ent. colhe os frutos de seu segundo disco. Lançada em 19 de maio nas principais plataformas de streaming, a produção reúne nove músicas, com participações de TZ da Coronel, Niink, Derek, G.A, Luccas Carlos, L7NNON e Caio Luccas.

Os números arrebatadores na primeira semana fizeram de “Dos Prédios Deluxe” o maior lançamento brasileiro na história do Spotify, com mais de 6,5 milhões de streams. O álbum também foi a estreia mais escutada na plataforma em todo o mundo durante esse período.
 
 

Em entrevista ao Estado de Minas, Veigh comentou o impacto do crescimento exponencial da carreira em sua vida, a quebra de recordes no streaming e o processo de produção de seu novo trabalho.

“Não durmo direito desde o lançamento do álbum. Estou anestesiado, demorando para acreditar que é verdade tudo isso o que está acontecendo. Sem saber como esperar a próxima notícia boa que vai vir. Quem vem de onde eu venho sempre espera alguma coisa ruim no dia após. Sempre espera alguma notícia triste, uma informação ruim ou que irá faltar alguma coisa. Aí, quando você recebe uma sequência de notícias boas, como essa quebra de recordes, você acaba ficando surpreso”, diz o cantor.

Furando a bolha do rap

Lançada em novembro de 2022, a primeira versão de “Dos Prédios” foi o pontapé inicial para que Thiago Veigh furasse a  “bolha” do rap e atingisse novos públicos.

Com quase 50 milhões de visualizações no YouTube, a faixa “Vida chique” viralizou por meio de coreografias no TikTok e se consolidou como o maior sucesso do disco. Outras canções, como “Mandraka” e “Perdoa por tudo vida”, também se tornaram trends na plataforma de vídeos.
 

"Não durmo direito desde o lançamento do álbum. Estou anestesiado, demorando para acreditar que é verdade tudo isso o que está acontecendo. (...) Quem vem de onde eu venho sempre espera alguma coisa ruim no dia após. Sempre espera alguma notícia triste"

Veigh, rapper

 

Para Veigh, lançar o álbum era passo necessário para atingir mais visibilidade dentro da indústria musical. O artista define esse trabalho como a “peça que faltava” em sua carreira.

“Nós sempre batíamos nessa tecla. Estávamos em um ponto em que as pessoas pensavam que o Veigh já estava estourado e fazendo dinheiro, só que não era aquilo. Eu tinha um som de 1 milhão de visualizações e os outros não batiam nem 100 mil visualizações direito às vezes. Pô, isso não é estourar. Estourar é você ser reconhecido”.

Sair da “bolha” é complicado, revela Veigh. “É mais difícil você conseguir furar a bolha do que chegar no nível de começar e ficar conhecido no seu nicho. Os fãs que estão em volta começam a falar ‘pô, ele estourou’, mas não é isso. Você precisa sair da bolha para realmente estourar, ganhar relevância e chegar em outras pessoas. Paramos várias vezes para conversar sobre isso e buscar uma solução para fazer com que eu fosse realmente conhecido e as pessoas soubessem o que eu faço”, revela.
 
Veigh concluiu que o álbum era a peça que faltava. “Para um artista se consolidar no game, ser importante, ele precisa ter um trabalho sólido. Graças a Deus, quando lançamos o álbum, ele gerou esse movimento todo”, comenta.

Depois de seis meses do lançamento original, Veigh apostou na versão deluxe para dar seguimento ao sucesso de “Dos Prédios”. “Algumas faixas estavam prontas há muito tempo e outras fizemos nos meses após o lançamento (do original). Quando sobrava um tempo, íamos passando uma voz aqui, depois outra, e aí foi ficando de boa”, detalha.

“Já tínhamos a ideia de fazer um deluxe para colocar as músicas que não couberam no original. Depois fomos adicionando outras, no processo de consumo do álbum pelo público. Fizemos um plano para ver em quais nós acreditávamos mesmo, e metemos marcha”, diz ele.
 
Veigh sentado no capô de carro aponta para o sol

Veigh no clipe 'Perdoa por tudo vida', em frente a prédios da Cohab

Reprodução

Repertório 'bomba' no Spotify

Entre as nove faixas escolhidas para “Do Prédios Deluxe”, a de maior impacto foi “Novo balanço”, que atingiu o terceiro lugar entre as mais tocadas no Spotify Brasil. Já “Engana dizendo que ama” ocupou a 11ª posição do ranking, enquanto “Clickbait”, lançada como single, chegou à 15ª.

“Estou aproveitando bastante este momento e tudo o que vem acontecendo. Quero soltar mais coisas na pista, mas preciso dar um tempo. Acabei de soltar um álbum e uma continuação, o que mais eu quero agora? Então, vou dar essa respirada e ver o que preciso fazer. Vou arquitetar melhor os próximos passos para que, quando eu der, eles sejam acertos também”, diz Veigh.

Nas letras, ele aborda luxo, fama, volta por cima, desilusões amorosas, sexo e a vida nas periferias de São Paulo. Vertente mais popular do hip-hop, o trap é o estilo preferido do artista. A maior parte de suas bases são produzidas pelos beatmakers Toledo, Bvga Beatz e Nagalli.
 

'Graças a Deus, hoje posso ajudar todos aqueles que me deram a mão no passado. Hoje estou em uma posição em que consigo dar uma força para a minha mãe e a minha irmã. Dentro de casa, virei o homem que faz as paradas acontecerem. Minha mãe sempre foi o %u2018homem da casa'',

Veigh, rapper

 

Muito apegado à família, Veigh tornou as pessoas ao seu redor conhecidas pelo público. O rapper vive com a mãe, Miriam, a irmã mais velha, Lyllian, e o sobrinho Ryan, citados na faixa “Mil maneiras”, em que fala de passar pela escuridão para atingir os próprios sonhos.

A canção diz assim: “Rodeado de falsos amores/ Querendo sugar do pouco que eu tenho/ Mas o pouco, com Deus, sempre é muito, né/ Cê entendeu ou quer que eu desenhe?/ Noites em claro, só pensamentos, gasolina que nóis' dividia/ Dentre situações de tormento, mãe, eu vou te tirar dessa vida/ Um sorriso no rosto da Lyllian, o Ryan vai tá forte, de fato/ Vai andar só com peça da moda, o tênis do mais foda e, com 18, um carro”
 

Criado por mãe solo, Veigh busca retribuir para a família o apoio que recebeu no início de sua trajetória no rap. O artista se orgulha de ter se tornado referência para crianças e adolescentes dos lugares em que cresceu.

“Graças a Deus, hoje posso ajudar todos aqueles que me deram a mão no passado. Hoje estou em uma posição em que consigo dar uma força para a minha mãe e a minha irmã. Dentro de casa, virei o homem que faz as paradas acontecerem. Minha mãe sempre foi o ‘homem da casa’, sempre movimentou tudo. Hoje eu consegui tirar ela do trabalho e deixar a minha irmã bem”.

Apesar de ter morado em diversos locais durante a infância, Veigh carrega profunda identificação com a Cohab 1, em Itapevi. A ligação com o conjunto habitacional é tão forte que virou referência no título e na capa do disco “Dos Prédios”, além de ter rendido a ele o apelido de “Moleque dos Predinhos”.
 
 

Carisma e destaque no TikTok

O astral positivo de Veigh é outro trunfo de seu sucesso. Carismático, o paulista ganhou notoriedade com as trends de suas músicas no TikTok. Ele tem mais de 1 milhão de seguidores na rede social.

“Faço minhas resenhas, gosto de zoar, e acho que até hoje ninguém acabou se ofendendo com nenhuma brincadeira que fiz. Espero que a rapaziada entenda que gosto de brincar muito, sempre estou zoando no Twitter, no Instagram… Eu gosto de zoar demais (risos)”.

Nas semanas seguintes ao lançamento de “Dos Prédios Deluxe”, Veigh confirmou, em publicação nos stories do Instagram, que seu cachê havia dobrado, atingindo R$ 120 mil.

“A gente merece muito essa valorização. Fazer show, ficar fora de casa indo de estado em estado, não é fácil. Trabalhar na noite, de madrugada, não é fácil. Lidamos com pessoas, situações adversas, frio, sono e várias outras coisas. É um jogo de dois lados. A gente ganha, mas os contratantes ganham também. Além da gente suprir (o desejo) dos fãs com esse momento juntos”, pontua o rapper.

A conta de Veigh no Instagram ultrapassa a marca de 3,1 milhões de seguidores. Ao ser perguntado se o sucesso na internet é natural ou fruto de estudo de marca, ele responde que busca levar o seu jeito de ser para o público, mas estuda os conteúdos que posta.

“Muita coisa é do meu jeito de ser, sempre fui esse mano (engraçado). Sou na internet o mesmo que sou pessoalmente. Óbvio que tem coisas pensadas antes de fazer, até mesmo na rede social, onde as pessoas podem associar de outra forma alguma coisa que você fala. É necessário ter um cuidado maior”, finaliza o rapper de Itapevi.
 

Confira a entrevista completa:

 
 

Capa do album do rapper Veigh traz rapaz vestido de anjo sentado sobre carro, com braços erguidos e tocando a mão nos dedos de Deus. Ao fundo, veem-se prédios da Cohab ao fundo

Capa do album do rapper Veigh traz rapaz vestido de anjo sentado sobre carro, com braços erguidos e tocando a mão nos dedos de Deus. Ao fundo, veem-se prédios da Cohab ao fundo

Supernova Ent./reprodução

"DOS PRÉDIOS DELUXE”

• Álbum de Veigh
• Nove faixas
• Supernova Ent.
• Disponível nas plataformas digitais