Jards Macalé, que gravou o disco 'Síntese do lance' com João Donato, despediu-se do parceiro no Theatro Municipal

Jards Macalé, que gravou o disco "Síntese do lance" com João Donato, despediu-se do parceiro no Theatro Municipal

Tatiana Rêgo/Agência Brasil
 
 
Folhapress, Agência Brasil e Augusto Pio
 
A bandeira do Acre sobre o caixão e um boné sobre a cabeça. Assim o corpo do músico João Donato, morto aos  88 anos, foi velado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na capital fluminense. A cerimônia de cremação ocorreu ontem no Memorial do Carmo, restrita à família.
 
Muitos fãs e artistas compareceram ao Municipal. Foram até lá Jards Macalé, Caetano Veloso, Robertinho Silva, Thalma de Freitas, Mario Adnet, Mariana de Moraes, Gustavo Ruiz e Tulipa Ruiz.
 
“Viemos de São Paulo de madrugada para nos despedirmos do cara mais legal e generoso da música brasileira”, afirmou a cantora Tulipa Ruiz.

Zeca Pagodinho e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, enviaram coroas de flores.

Viúva diz que João Donato 'é paz'

“O João é paz. O João é muito carinho e muito amor por qualquer um, e todo mundo é qualquer um. Ao longo do nosso relacionamento, eu vi que o mesmo amor que ele dedicava a mim, ele dedicava a todo ser humano que encontrasse e visse. Ele sempre emanava esse amor”, afirmou a viúva do compositor, Ivone Belém.
 
“Estou fazendo mestrado, um estudo da obra dele. O João é um dinossauro”, comentou. “Ele esteve presente em todas as fases da música brasileira. Renovou quando foi precursor da Bossa Nova e agora ele chega com toda essa juventude”, afirmou Ivone.
 
Integrantes da Orquestra Sinfônica do Municipal homenagearam o compositor tocando peça de Mozart. Ao final do velório, as pessoas cantaram músicas de João Donato, sob aplausos.
 
João Donato foi velado com o boné que o acompanhou fora e dentro do palco

João Donato foi velado com o boné que o acompanhou fora e dentro do palco

Tatiana Rêgo/Agência Brasil
 
 
O tecladista Donatinho, filho do compositor, foi um dos primeiros a chegar. Ele contou que não teria como seguir carreira diferente diante da intensa convivência com a música, desde menino.
 
“Não deu tempo de escolher outra coisa. Quando eu vi, já estava dentro. Foi natural para mim. Quando eu vi, já estava fazendo”, afirmou.
 
Para ele, o legado do pai não tem tamanho. “Uma das coisas do Donato é que ele é totalmente singular. A música dele é única, não tem ninguém que se pareça com ele.”

Marcos Valle: 'Ele deixou a marca da alegria'

O compositor Marcos Valle recebeu a notícia da morte do amigo João Donato em Seul, na Coreia do Sul, uma das cidades de sua turnê internacional, que será encerrada em 26 de agosto, na cidade alemã de Erfurt.
 
“João era meu companheiro. O conheço desde Los Angeles, lá da época quando ‘Samba de verão’ estourou. Sempre fui fã dele, antes mesmo de começar profissionalmente. Depois, pude produzir para ele aquele disco ‘Quem é quem’”, relembrou o cantor e compositor, por telefone ao Estado de Minas, da capital sul-coreana.
 
“Fizemos vários shows pelo Brasil e exterior, a gente se dava maravilhosamente bem. João deixou a marca dele, inconfundível, aquele piano suingado, aquele toque latino, urbano. E deixou também a marca da alegria e da felicidade dele. Lá se vai o João, a gente queria mais, mas a vida é assim mesmo. São 88 anos que ele viveu da maneira que ele queria. Viva João Donato!”, disse Valle, emocionado.
 
“Excelente pianista, ele é um compositor que será sempre lembrado por todos pelo legado maravilhoso que deixou”, afirmou Amilton Godoy, pianista do Zimbo Trio.
 
“A música brasileira tem no João Donato um grande suporte de sua identidade. Sua contribuição foi muito valiosa. Espero que ele receba tudo o que merece no plano espiritual por tudo o que fez de bom aqui para todos nós.”  (AP)