Os jovens Isabela Mota e Guilherme Lima

Guilherme Lima e Isabela Mota, ambos de 15 anos, integram o Coral Infantojuvenil do Palácio das Artes, iniciativa criada na década de 1980 para incentivar a formação de cantores

Ramon Lisboa/EM/D.A.Press


À primeira vista, parece a imagem do caos: crianças correndo numa pequena sala, brincando e gritando, e jovens conversando em alto tom. A calma se estabelece quando o regente Bruno Thadeu levanta a batuta e indica qual canção o grupo vai ensaiar. Rapidamente, aquelas 30 crianças e jovens barulhentos assumem a forma do comportado Coral Infantojuvenil do Palácio das Artes que o público costuma ver nas apresentações promovidas pela Fundação Clóvis Salgado (FCS).

Criado na década de 1980, o coral nasceu com o objetivo de estimular a formação de jovens cantores entre 8 e 17 anos. O projeto tem dado certo, visto que os integrantes manifestam o desejo em seguir carreira na música.

A jovem Isabela Mota, de 15 anos, é um bom exemplo disso. Desde os 8, quando ouviu do avô que cantava bem, pôs na cabeça que queria ser cantora. Começou a se apresentar em festivais da escola, até entrar para o coral do Palácio das Artes, no final de 2019.
 

Mozart

Na ocasião, a FCS estava recrutando jovens cantores para participarem da montagem da ópera “A flauta mágica”, de Mozart, que acabou tendo sua estreia adiada por causa da pandemia. “Logo que comecei no coral, veio a pandemia”, lembra Isabela. 

Como alternativa, a Fundação continuou com o coral de maneira remota. “Mas acabou que desanimei de continuar dessa forma”, conta a adolescente. “Saí e voltei no ano passado, quando as atividades voltaram a ser presenciais.”

Em pouco mais de um ano no coral, ela gravou “Espanhola”, de Flávio Venturini, com o próprio autor da música; cantou “Carmina Burana” junto com o Coral Lírico e a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e, finalmente, participou da montagem de “A flauta mágica”, realizada em setembro do ano passado.

“Uma das experiências mais marcantes, contudo, foi quando tocamos num hospital da cidade, para pacientes e funcionários”, conta Isabela.

Guilherme Lima, que também tem 15 anos, é outro integrante do Coral Infantojuvenil que pretende seguir profissionalmente na música. Ele entrou para o coral junto com Isabela, na mesma seleção que a FCS fez para a ópera de Mozart.

Diferentemente da colega, durante a infância Guilherme não tinha muito interesse em cantar. Só entrou para o primeiro coral, aos 7 anos - era um coral de igreja, em Santa Luzia -, incentivado pelo melhor amigo. “Por fim, ele saiu e eu continuei”, diverte-se o jovem ao lembrar.

O interesse foi tanto que ele quis se inscrever no coral da FCS para aprimorar sua técnica vocal, aprender teoria musical e estar mais próximo do repertório erudito, que conheceu quando ingressou no primeiro coral, em Santa Luzia.

Na FCS, contudo, Guilherme não canta apenas música clássica. Somente nos últimos meses, por exemplo, apresentou com os colegas de coro parte das trilhas sonoras dos filmes “O senhor dos anéis” (2001), de Peter Jackson, e "A voz do coração" (2004), de Christophe Barratier, entre outras canções populares. “Acho isso muito legal, porque não são músicas comuns de corais cantarem”, comenta.

Coral Jovem do Sesc

O Coral Jovem do Sesc de Minas Gerais também se preocupa em montar um repertório eclético. O projeto conta com aproximadamente 60 integrantes, entre 15 e 20 anos. 

Para ingressar, contudo, é necessário ter entre 15 a 18 anos, mas não há limite de idade para permanecer no coral, conforme explica a coordenadora de Serviços Sociais do Sesc em Minas, Ana Clara Buratto.

Em suas apresentações, o Coral Jovem interpreta desde músicas eruditas até canções de Tim Maia, Ney Matogrosso, Rita Lee e Queen. Por ter como principal objetivo a formação musical com caráter social, são oferecidos aos alunos benefícios como vale-transporte, lanche e doação de instrumentos (no caso de quem também optar por integrar a orquestra do Sesc).

Carlos Eduardo Santos Siqueira, de 16 anos, é um dos alunos. Ele entrou para o coral aos 11. Cantar em grupo, no entanto, não foi a primeira opção do jovem.

“Entrei na orquestra como violonista. Só que, obrigatoriamente, a gente tinha que fazer parte do coral. Fui e me apaixonei. Decidi continuar na orquestra e, paralelamente, cantar no coro”, conta.
 
Mais do que aprender técnicas de canto, conta Carlos, o projeto o ajudou a perder a timidez, que era uma de suas principais características. “Eu tinha certa dificuldade até para me expressar, me comunicar”, revela o rapaz.

Situação semelhante viveu sua colega Lara Fernanda Louzeiro, de 19 anos. Ela procurou o Sesc para ser violista na orquestra, há quatro anos e, quando teve que fazer parte do coro, decidiu não largá-lo mais.

“Sempre tive vontade de ser cantora solo, mas, quando entendi como funcionava o canto em grupo e descobri que há outras formas de trabalhar com o canto, decidi que é isso que quero fazer”, afirma.

Isabela, Guilherme, Carlos e Lara pretendem ser músicos profissionais, cada um ao seu estilo e com suas preferências. Contudo, com o mesmo reconhecimento de que a experiência em grupo foi responsável por acurar o ouvido deles, fazer novas amizades e conhecer várias culturas e línguas.

MÚSICA DOS ANOS 1980 

Com Coral Jovem do Sesc. Nesta quinta-feira (13/7), às 19h30, no  Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). O evento celebra a formatura da turma de jovens músicos da Orquestra de Câmara Sesc. Ingressos podem ser adquiridos por R$ 5 pelo site Sympla ou trocados por 1 litro de leite na bilheteria do teatro. Informações: (31) 3270-8100.