Atores Luis Sodá, Paula Grinzpan e Romina Escobar em cena do filme Breve história do Planeta Verde

Pedro (Luis Sodá) e Daniela (Paula Grinzpan) ajudam a amiga trans Tânia (Romina Escobar) a devolver um extraterrestre a seu planeta

Embauba Filmes/divulgação


Pode soar estranha, no primeiro momento, a exibição de um filme argentino na faixa “Cinema mineiro em cartaz”, do Cine Humberto Mauro. A sessão desta quarta-feira (12/7) do longa “Breve história do Planeta Verde” (2019), dirigido por Santiago Loza,  se explica pelo envolvimento da produtora local Anavilhana, de Luana Melgaço, Clarissa Campolina e Marília Rocha, na realização do longa.

Além da exibição, será postado na plataforma Cine Humberto Mauro Mais o ensaio em que o diretor e roteirista Michel Ramos destaca elementos sutis que permeiam a produção. Sócio da Filme com Fome, pela qual realizou os curtas “Eu estou vivo” e “Temporal”, selecionados para diversas mostras e festivais, ele diz que o bom momento do cinema feito em Minas Gerais tem proporcionado esse tipo de parceria.

“O grande barato da faixa dedicada ao cinema mineiro e do que a gente tem visto no cenário independente no estado é que os filmes feitos aqui vêm tendo visibilidade cada vez maior. A indicação de 'Marte Um', da Filmes de Plástico, de Contagem, para tentar vaga na categoria de melhor longa estrangeiro no Oscar deste ano é o grande exemplo recente disso”, aponta.

De acordo com ele, a presença de produções do estado em mostras importantes e os prêmios conquistados em festivais de prestígio possibilitam maior abertura para coproduções com outros países, principalmente latino-americanos e europeus.
 

'O filme estabelece um paralelo entre a criatura de outro mundo, o trio de amigos e a protagonista, mulher trans que se sente também alienígena, só que em seu próprio planeta. Então, é mais sobre o estranhamento do olhar, sobre a dificuldade de se sentir natural, de se sentir à vontade em casa'

Michel Ramos, diretor e roteirista

 

Na época do lançamento de “Breve história do Planeta Verde”, Santiago Loza destacou a importância da Anavilhana na realização do longa. “A participação foi essencial, um ato de coragem e fé. Fizemos a finalização de som e cor no Brasil, com profissionais incríveis que permitiram que o filme fosse ouvido e visto com qualidade. Luana Melgaço participou nas decisões criativas, nas diferentes versões de edição”, disse o cineasta.

O alienígena e a vovó

A trama acompanha Tânia (Romina Escobar), mulher trans que se depara, ao lado dos amigos Daniela (Paula Grinszpan) e Pedro (Luis Soda), com o alienígena deixado pela avó antes de morrer. Em carta à neta, ela pede que leve a criatura roxa e grandes olhos pretos de volta ao lugar onde foi encontrada.

Passando por diferentes fases da vida, os três se unem para realizar o último desejo da avó de Tânia. Embarcam em uma jornada não apenas geográfica, mas também emocional, que os conduzirá a transformações pessoais.
 
 

Michel Ramos diz que se trata de um road movie atravessado pelo drama e pela ficção científica, o que o coloca  em diálogo com a mostra “De volta para o futuro”, em cartaz no Cine Humberto Mauro até 1º de agosto. O ensaio assinado por ele, disponibilizado na plataforma, aborda questões relativas ao conteúdo da obra.

“Pensei num texto que permitisse às pessoas desenvolver a experiência com o longa, ir à plataforma depois da exibição e expandir o entendimento, levantar reflexões acerca dele”, ressalta. Michel chama a atenção para o fato de o filme ser bastante intimista e um tanto quanto atípico do ponto de vista narrativo, com estrutura menos linear.

“O longa levanta questões mais sensíveis, que não estão tão dadas ali. É interessante um texto para ajudar essa percepção mais aprofundada”, diz.

Com leve surpresa e relativa despreocupação, Tânia e seus amigos se veem diante do extraterrestre, mas o mote de “Breve história do Planeta Verde” não é propriamente tratar com naturalidade o diferente, observa Michel Ramos.

“O filme estabelece um paralelo entre a criatura de outro mundo, o trio de amigos e a protagonista, mulher trans que se sente também alienígena, só que em seu próprio planeta. Então, é mais sobre o estranhamento do olhar, sobre a dificuldade de se sentir natural, de se sentir à vontade em casa”, aponta.
 

Referência a Spielberg

De acordo com Ramos, longa traz clara referência a “E.T. O extraterrestre” (1982), de Steven Spielberg, mas ela se dá na chave da alegoria. “Ele brinca com essa referência. Não é um filme de ficção, apenas se vale daquela obra dos anos 1980, mas vai em outra direção. O Spielberg é mais otimista, enquanto aqui a direção vai um pouco na contramão disso. É obra mais escura, os planos são longos, os personagens melancólicos. Tem uma natureza mais pessimista”, diz.

Na edição de 2019 do Festival de Berlim, “Breve história do Planeta Verde” recebeu o Teddy Award, conferido a filmes com temática LGBTQIAP+, além de menção especial na sessão competitiva.

O longa conquistou os prêmios ACCA, no Buenos Aires Festival Internacional de Cine Independente (Bafici); de melhor roteiro, no OutFest Los Angeles; e de distribuição, no Festival Viña del Mar, no Chile.

“BREVE HISTÓRIA DO PLANETA VERDE”

• Argentina, 2019. Direção: Santiago Loza. Com Romina Escobar, Paula Grinzpan e Luis Sodá. Sessão nesta quarta-feira (12/7), às 19h30, no Cine Humberto Mauro (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Entrada franca. Texto sobre o filme, assinado por Michel Ramos, será disponibilizado na plataforma Cine Humberto Mauro Mais