Os atores Luise von Finckh (Jule Andergast) e Max Riemelt (Mike Atlas) em cena de  'Bastidores de uma conspiração'

Os atores Luise von Finckh (Jule Andergast) e Max Riemelt (Mike Atlas) em "Bastidores de uma conspiração"

Netflix/divulgação


Séries alemãs na Netflix? A resposta mais imediata será para a ficção científica "Dark", a primeira produção daquele país na plataforma a ter uma repercussão planetária. Alguns poderão citar ainda o drama "Nada ortodoxa" e a recente "1899", que causou polêmica (foi acusada de plágio) e foi cancelada.

Pois durante esta semana outra produção alemã entrou no ranking da Netflix, ocupando, por vários dias, a primeira colocação de séries no Brasil: "Bastidores de uma conspiração". Remake de uma série israelense de 2016, tem um mote interessante. 

Um detetive de Berlim tem um colapso mental. Abandona mulher e filha em casa e passa meses vivendo como sem-teto. Sem memória, constata que realmente há alguma coisa muito errada quando um homem coloca fogo no trailer em que ele está morando. E aí volta à ativa - mas à sua maneira.

Este é o ponto de partida de Mike Atlas (Max Riemelt). Um belo dia seu trailer é incendiado pelo irmão de um condenado de uma família muçulmana. O preso havia se suicidado em uma cela, e o irmão culpa o policial. Teria sido ele quem encontrou as provas que incriminaram o jovem pelo assassinato de um juiz. Só que Atlas não se lembra de absolutamente nada. E aí começa a montar o quebra-cabeças com seus antigos colegas.

Porém a história traz uma profusão de personagens. Há os dois colegas de esquadrão de Atlas, que são unidíssimos. Há a família do policial, com a mulher, que parece mais interessada no antigo colega do marido, e a filha adolescente, que ressente-se pela falta do pai e pelos quilos a mais. 

A personagem mais importante para além do protagonista é uma jovem promotora, Jule Andergast (Luise von Finckh), que está sofrendo com a chefe que a considera incompetente (e também pelo fantasma da mãe, que parece ter sido uma papisa do Judiciário). É esta personagem que vai acabar se unindo a Atlas para investigar a morte do juiz e o suicídio do condenado. Não demora para que outros crimes ocorram, todos relacionados com o suicídio. 
 

Profusão de tramas

É um pouco surpreendente que "Nos bastidores de uma conspiração" tenha chegado ao topo da Netflix. A história é um tanto confusa em seus episódios iniciais e, hoje em dia, a coisa mais fácil que existe é abandonar uma série pela metade. 

Para quem segue em frente, vai encontrar uma produção que, a partir da trama central, atira para vários lados. Trata da questão dos sem-teto, dos imigrantes, da violência policial, do racismo, da extrema direita, da corrupção.

É muito assunto para ser tratado em uma produção só. Tanto que as sequências são muito curtas - uma situação dá lugar a outra, e a outra, subsequentemente. As sub-tramas – como a policial negra, lésbica e solteira que quer adotar um bebê; ou a sem-teto que sofreu abuso na infância – não têm nenhuma relação com o cerne de conspiração.

A série foge dos cartões postais de Berlim, o que já é um ponto interessante. O Rio Spree, que corta a capital alemã, aparece quase como uma personagem da história, sendo cenário de um romance que desponta na narrativa e também de um crime. 

Aos trancos e barrancos, mas com algum suspense que consegue segurar o espectador, a série segue para seu fechamento. Que coloca por terra tudo o que assistimos até então. Uma solução fácil, quase banal, encerra uma trama intrincada. Com o alcance que "Bastidores de uma conspiração" obteve no Brasil, muita gente deve estar saindo dela frustrada.

“BASTIDORES DE UMA CONSPIRAÇÃO”

A série, em seis episódios, está disponível na Netflix