Ator Woody Harrelson olha para a câmera e tem atrás de si, desfocadas, figuras de jogadores

Woody Harrelson faz o papel do treinador Marcus, que aprende com seu time a compreender a diversidade humana

Gold Circles/divulgação


Antes de ser visto como cinema, o filme “Campeões” pede para ser visto como um gesto de ação social. Numa época em que se busca romper com preconceitos e pressupostos antigos na busca de integrar o que até pouco tempo parecia impossível, o filme dirigido por Bobby Farrelly procura convencer da necessidade de aceitar em nosso convívio as pessoas com deficiência intelectual.

Antes de convencer o espectador, no entanto, ele precisa convencer o técnico de basquete Woody Harrelson, um sujeito ao que parece muito competente, mas bastante estourado. Tanto que após brigar com um colega e tomar um porre acaba preso por trombar no carro da polícia.
 
Levado a julgamento, é condenado a treinar, durante três meses, um time de pessoas com deficiência de aprendizado em Des Moines, Iowa. Não é a melhor perspectiva para um cara que se julga bom para trabalhar em times da NBA e assemelhados. Mas é melhor do que passar um ano e meio preso, ele entende. 

Ao primeiro olhar, o técnico parece se arrepender da escolha. Como formar um conjunto a partir de garotos de hábitos não raro caóticos, pouco dispostos a aceitar qualquer disciplina, com visões às vezes muito particulares sobre o jogo? Parece impossível.
 
 

Inteligência emocional

Aos poucos, o técnico começa a assimilar a mesma lição que o filme pretende dar a nós, os que julga “normais”. Pessoas com deficiência de aprendizado são, para começar, pessoas; segundo, são afetivamente muito capazes, ao contrário do técnico. E, ao contrário do que aprendemos a acreditar, desenvolvem capacidades que os tornam perfeitamente aptos a desenvolver uma série de ofícios. É o caso de alguns dos rapazes – e da moça que chega um pouco depois – em questão.

Para surpresa geral, em pouco tempo o time ganha forma. Enfrenta com brio outros times da categoria. Woody Harrelson começa a tomar algum gosto por treiná-los e, mais ainda, por conhecê-los. Inútil dizer, nós os conhecemos ao mesmo tempo e também reconhecemos neles pessoas, afinal, como nós.

Ajuda muito o fato de esse técnico, até então solitário, dar umas transadas com a irmã de um dos rapazes. E das transadas passa a um namoro etc. Impossível não notar que tudo converge para uma xaropada que Bobby Farrelly tenta contornar o máximo que pode, mas que, afinal de contas, é fatal.

Para o resultado simpático conta o fato de Bobby, junto com o irmão Peter, ter começado a carreira com um filme que no Brasil atende, não sem razão, pelo nome de “Debi e Lóide”. Uma bela comédia, por sinal.

Leveza e humor

Outras anomalias não intelectuais pontuam sua filmografia. De certo modo isso o torna a pessoa certa para essa conversão aos tempos de integração e ruptura de preconceitos. Mais: a direção consegue conferir leveza e algum humor ao tema em princípio árido.

Com isso, “Campeões” se afirma como uma espécie de conto de fadas que transmite com razoável eficiência as boas intenções do original. Fica muito aquém de empreitada similar levada por Peter Farrelly, irmão de Bobby, em “Green book”, onde se tratava de condenar o racismo.

Ah, sim, Woody Harrelson continua ótimo ator e ajuda muito para essa empreitada chegar a bom termo. 


“CAMPEÕES”

• EUA, 2023
• Direção de Bobby Farrelly. Com Woody Harrelson, Katilin Olson e Matt Cook
• Filme em cartaz em salas das redes Cinemark e Cineart