Músico Mário Lúcio toca violão de olhos fechados

O músico Mário Lúcio, ex-ministro de Cultura de Cabo Verde, faz show e participa de debate nesta sexta

Jorge Simão/divulgação

Nascido duas décadas atrás como Mostra Internacional de Música de Olinda e renomeado, algum tempo depois, Mimo Festival, o evento itinerante dedicado à música do mundo estreia em Itabira nesta sexta-feira (19/5). Depois de edições em São Paulo e no Rio de Janeiro ao longo deste mês, o festival encerra sua versão 2023 com três dias de shows, debates, workshops e exibição de filmes.

Como está na cidade natal de Carlos Drummond de Andrade, o Mimo ainda terá visita guiada pelo Centro Histórico, além da apresentação “Chuvas de poesia”, com poemas de grandes autoras brasileiras, muitas delas mineiras – Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Ana Martins Marques e Adriana Versiani dos Anjos.

O Mimo leva à cidade mineira um grupo diverso de artistas, tanto em estética quanto em nacionalidade. No time de brasileiros destacam-se Arnaldo Antunes, em dobradinha com o pianista Vítor Araújo, a banda Gilsons e as cantoras e atrizes Simone Mazzer e Maíra Baldaia.

O cantor, compositor e multi-instrumentista cabo-verdiano Mário Lúcio encerra a noite desta sexta. Ao longo do fim de semana, haverá atrações de Portugal (Valter Lobo), do Congo (Jupiter & Okwess), da Argentina (Nico Sorin), da Inglaterra (o produtor Prince Fatty e a cantora Shniece McMenamin com o MC brasileiro Monkey Jhayam).

Migração em debate

Antes de subir ao palco da Concha Acústica na noite de hoje, Mário Lúcio participa, à tarde, da mesa-redonda “Migrantes de ontem e de hoje”, ao lado de Jupiter. O título do debate remete não só à trajetória do cantor e compositor, como também a seu mais recente álbum, “Migrants”, lançado em novembro de 2022.

Um dos principais representantes dos estilos tradicionais de sua terra, como a morna, o funaná, o batuque e a coladeira, ex-ministro da Cultura de Cabo Verde (cargo que exerceu até 2016) e autor de cerca de 600 canções, Mário Lúcio vai se apresentar com a banda Os Kriols.

O grupo é formado por instrumentistas da região do Porto, Norte de Portugal, que ele reuniu para o registro de seu álbum, que explora a sonoridade da música crioula. Falando tanto sobre o disco quanto o tema do debate, Mário Lúcio comenta que a diferença entre as migrações ao longo da história é enorme.

“A migração mais antiga que conhecemos é aquela em que nossa espécie saiu do continente africano e chegou à Islândia e à China. Isso há 65 mil anos. Outras migrações vieram depois, como a própria escravidão, a migração forçada. Hoje ela também é forçada, porque as pessoas fogem da fome, da guerra. Ou seja, aquilo que começou como uma bela epopeia humana virou sinônimo de drama.”
 

'Quando chegamos aqui, o Brasil desconhecia Cabo Verde (...) Hoje não é um show distante. As pessoas cantam minhas músicas, vão ver o artista Mário Lúcio'

Mário Lúcio, cantor e compositor

 

Parceria com Chico Chico

Há 30 anos, Mário Lúcio se apresentou pela primeira vez ao país. “Quando chegamos aqui, o Brasil desconhecia Cabo Verde. Não sabia nem sequer que Minas Gerais tinha uma cidade chamada Cabo Verde (no Sul do estado). Mas depois das gravações com (Gilberto) Gil, Milton (Nascimento), Paulinho (da Viola), Leo Gandelman, com as músicas tocando em rádio, e depois com a internet, hoje não é um show distante. As pessoas cantam minhas músicas, vão ver o artista Mário Lúcio.”

Essa proximidade acabou o surpreendendo. Chico Chico (filho de Cássia Eller) o descobriu na internet. Em uma entrevista, comentou de seu encantamento pela música de Mário Lúcio. Uma fã do cabo-verdiano enviou a entrevista para ele que, de surpresa, mandou para Chico mensagem no aniversário.

 

“E ele fez uma música com as minhas palavras”, conta Mário, sobre a canção “Fortuna e paz”, single que os dois lançaram em 2021. “Foi como irmãos desconhecidos se encontrando.”

 

Músico Valter Lobo posa para foto na janela de antigo casarão

Artista da cena independente, o cantautor português Valter Lobo está impressionado com a recepção dos brasileiros a seu trabalho

Gabriela Mo/divulgação
 


Se a história de Mário Lúcio com o Brasil está solidificada, a do cantautor português Valter Lobo apenas começa. Mas já se mostra próspera. Em menos de um ano, é a segunda vez que ele faz shows no país.

Com carreira que está completando sua primeira década e três álbuns, o mais recente deles “Primeira parte de um assalto” (2022), Lobo chegou à música por vias tortas. Advogado de formação, autodidata no violão, em certo momento resolveu deixar o terno e a gravata para se dedicar à criação. Sozinho ao violão, faz o primeiro dos shows de sábado (20/5) do Mimo.

“Sempre tive paixão por música, mas escrevia coisas só para mim. Fiz alguns projetos sem relevância e a certa altura decidi gravá-lo. Fui ganhando uma base de pessoas que ouviam meu trabalho, e sempre de forma independente, pois sou eu que gravo e edito. Nunca houve crescimento gigante, mas fui adquirindo uma base fiel de fãs”, conta.

Felicidade infeliz

Valter Lobo só grava o que compõe. “São as únicas que sei defender”, diz. Suas letras são pessoais, em geral sobre uma relação romântica melancólica.
 
“É sobre estar numa espécie de felicidade infeliz, na busca constante por um amor romântico. Mas é muito mais sobre a imaginação, quase cinematográfica”, completa.
 
Quando estreou no Brasil, em agosto de 2022, em São Paulo, Rio de Janeir e Porto Alegre, ele ficou impressionado com a recepção. Os ingressos para o show no auditório paulista do Sesc Pinheiros se esgotaram.
 

'Fui ganhando uma base de pessoas que ouviam meu trabalho, e sempre de forma independente, pois sou eu que gravo e edito'

Valter Lobo, cantor e compositor

 

Na plateia da capital gaúcha, havia fãs que saíram de Curitiba para vê-lo. “Como na primeira vez reparamos que havia muita gente a me ouvir – não milhões, mas grupos de pessoas, o que já era significativo –, resolvemos arriscar nesta nova investida.”

A segunda temporada brasileira de Lobo termina justamente amanhã, em Itabira. “É uma tarefa difícil (o músico português tentar entrar no Brasil). O público brasileiro nem está habituado com o português de Portugal. Mas sei também que há pessoas completamente dispostas e interessadas. E que os brasileiros andam apaixonados por Portugal”, finaliza.

SHOWS

. Sexta (19/5)

20h – Simone Mazzer, na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade
20h30 – DJ Vini Brown, na Concha Acústica
21h30 – Arnaldo Antunes e Vítor Araújo, na
Concha Acústica
23h – Mário Lúcio & Os Kriols, na Concha Acústica

. Sábado (20/5)

18h – Valter Lobo, na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade
20h – Orquestra de Câmara da FCCDA, na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade
20h30 – Don Letts, na Concha Acústica
21h30 – Nico Sorin – Piazzolla Electrónico, na Concha Acústica
23h – Jupiter & Okwess, na Concha Acústica

. Domingo (21/5)

16h – Manuel de Oliveira, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos
17h – Bruno Capinan, na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade
18h – Prince Fatty convida Monkeyjhayam e Shniece, na Concha Acústica
19h30 – Maíra Baldaia, na Concha Acústica
21h – Gilsons, na Concha Acústica

MIMO FESTIVAL

Desta sexta-feira (19/5) a domingo (21/5), em Itabira. Entrada franca. Para os shows na Concha Acústica, ingressos devem ser retirados no link sympla.com.br/produtor/mimofestival. Informações: mimofestival.com