pianista, compositor e arranjador Alberto Rosenblit

Para Rosenblit, 'Passeando' é também um disco de resistência. "Delicadeza, hoje em dia, ganha um contorno mais forte, porque vivemos um tempo com violência e desacertos", afirma

Arquivo Pessoal

Há 10 anos sem lançar um disco autoral, o pianista, compositor e arranjador Alberto Rosenblit volta com força total e lança nas plataformas digitais o álbum “Passeando”. O disco traz 10 composições próprias e inéditas, bem ao melhor estilo da bossa nova jobiniana e é uma homenagem do músico carioca ao cantor, compositor e violonista capixaba, radicado no Rio de Janeiro, Roberto Menescal, que também participa do álbum tocando violão em três faixas. A produção artística é do mago dos teclados, Mu Carvalho (A cor do som), e o projeto gráfico, retratando o Morro Dois Irmãos, no bairro carioca do Vidigal, é da designer Nina Rosenblit, filha de Alberto.

Esse é o quinto disco de Rosenblit, que aproveita também para fazer citações, como na faixa de abertura, “Arpoador”, na qual faz referência à canção “Samba da benção” (Tom Jobim & Baden Powell). Em "Estrada do Joá", o pianista faz outra citação usando frase de "Samba de uma nota só" (Tom Jobim & Newton Mendonça). A pesquisadora e produtora musical e irmã de Mu, Heloisa Tapajós, (1948-2014) também foi homenageada com a canção “Losinha”, nona faixa do álbum. O músico João Donato recebeu seu tributo em “Master Donato”, que foi lançada anteriormente como single, assim como “Arpoador”.

Rosenblit conta que compôs algumas canções durante a pandemia, porém tinha outras inéditas. “Minha referência mais forte foi a bossa nova e dei sorte de cair naquelas novelas do Manoel Carlos, que também é um bossa novista de primeira linha. Acontece que faço bossa nova desde garoto. Era viciado naquelas melodias lindíssimas que os Beatles faziam e, quando eles acabaram, achei que seria, para mim, uma violência mudar para Led Zeppelin ou Black Sabbath. Pensei: preciso de uma coisa nessa delicadeza de Beatles. Aí um amigo que estudava comigo me disse: 'Vamos tocar 'Água de beber', de Tom Jobim e Vinicius de Moraes'.”

Aos 16 anos, o pianista revela que se encantou por Tom Jobim, João Gilberto, Roberto Menescal, Edu Lobo, Carlos Lyra e Nara Leão, com quem chegou a trabalhar na década de 1980, por indicação de Menescal. “Eles sempre foram referência para mim e, em 1979, gravei com Mario Adnet um LP que foi lançado no ano seguinte. Esse disco quase não tinha bossa nova, mas tinha baião, frevo e baladas. Vinte anos depois, gravei o 'Trilhas brasileiras' (2001, Biscoito Fino). Nessa época, já era da Rede Globo e compunha música para imagem, mas continuei sendo um bossa novista raiz.” De lá pra cá, vieram os álbuns “De bem com a vida” (Dabliu -2009) e “Mata atlântica” (Som Livre, 2013).

Resistência

“Em 'Passeando', pensei: vou fazer um disco e escancará-lo de bossa nova”, lembra Rosenblit. “Esse meu disco é o que mais tem bossa nova, cinco das 10 faixas. Mas não são todas iguais, algumas são um pouco mais cheias, ora um pouco mais vazias, ora um pouco mais delicadas, ora um pouco mais suaves, ora um pouco mais alegres. Tem uma que se chama 'Master Donato' que é uma bossa nova meio latina”, detalha o artista.

Para Rosenblit, o novo disco é “uma peça de resistência”. “Há alguns anos dei uma entrevista falando que procurava a estética da delicadeza. Só que delicadeza, hoje em dia, ganha um contorno mais forte, ainda de resistência, porque estamos vivendo um tempo com muita violência, desacertos, brigas e mazelas sociais. Por isso digo que esse disco é uma peça de resistência. Precisamos de mais delicadeza e é nessa que estou indo. É o mote deste álbum. Em nome da delicadeza. O disco é tão bossa nova que resolvi dedicá-lo a Roberto Menescal.”


Planos

Rosenblit revela que fará um trabalho de clipes para as músicas do disco, que serão lançados no segundo semestre. “Por outro lado, já tenho músicas para fazer um outro disco que devo gravar entre fevereiro e março, e lançá-lo em 2025. Tenho que respirar esse trabalho de agora. Não posso esperar como foi desta vez, porque foram 10 anos sem lançar um disco meu.”

Quanto a fazer trilhas sonoras para imagens, Rosenblit afirma estar parado. “Desliguei-me da Globo em 2016, depois de 31 anos fazendo isso. Quando acabei essa história, quis levar a minha música para passear e fiz alguns shows na Holanda, onde pretendo voltar. Toquei também em Nova York, apresentando três choros autorais. Estava começando a fazer uma ponte aérea com a Holanda, com ideia de rodar a Europa, quando veio a pandemia.”

Mas e agora? “Pretendo montar um quinteto para fazer uma turnê de divulgação desse álbum a partir de junho”, finaliza.

“PASSEANDO”

• Alberto Rosenblit
• 10 faixas
• Selo Chocolate Produções
• Distribuição ORB Music
• Disponível nas plataformas digitais