o cantor Nelson Angelo tocando violão

Músico mineiro radicado no Rio se apresenta nesta noite no Clube de Jazz do Café com Letras, na Savassi

Joe Dias/divulgação

Mineiro radicado no Rio de Janeiro há décadas, o cantor e compositor Nelson Angelo está de volta à cidade natal para se apresentar no Clube de Jazz, neste sábado (4/2) à noite. O repertório não trará apenas as canções dele associadas ao movimento Clube da Esquina, como “Fazenda”, “Canoa, canoa” e “Tiro cruzado”.

 

Embaralhando as letras, Nelson se define como um capiau jasista (“com s mesmo”) belo-horizontino, “que ainda não jaz” em lugar algum. “Jazz no mundo ou jass no Brasil, principalmente em Minas Gerais: um jeito de interpretar, com sentimento e liberdade de alma”, diz, explicando que esse é o parâmetro do que ocorrerá esta noite no palco, que ele vai dividir com o contrabaixista e compositor Eneias Xavier. Uma das canções de Nelson, aliás, se chama “Esse tal de samba jass”.

 

O repertório será meio a meio. “A metade é de músicas conhecidas minhas, porém tocadas nessa concepção de jazz, além de canções novas.” O show é em homenagem ao percussionista Naná Vasconcelos (1944-2016), pernambucano que participou de álbuns importantes do Clube da Esquina. 

 

“Naná foi um cara que passou aqui pelo planeta e somente agora começará a ser entendido pelas pessoas”, comenta Nelson, citando a “infinita importância” do amigo para o mundo. “Ele veio da África, passou por aqui e voltou para lá.”

 

Naná Vasconcelos

Nelson promete apresentar “Ao Naná miscigenação”, canção dedicada ao percussionista e à mulher dele, Patrícia Vasconcelos. “Naná é o meu irmão africano. Aliás, tenho outros como o Bituca, Robertinho Silva e o Esdra ‘Neném’ Ferreira”, lista.

 

O título da canção remete à complexidade de Naná Vasconcelos. “Ele não foi de ninguém, passou por tudo, por todos os movimentos, e é doutor honoris causa ainda por cima”, comenta Nelson. 

 

Outra canção especial desta noite será “Frestas de colinas”, parceria dele com Luciana de Moraes, filha do poeta Vinicius de Moraes (1913-1980). O repertório terá músicas decididas na hora, ali no palco. “É como um show de jazz, na acepção da palavra mesmo. Não vou tocar guitarra, mas violão. E vou cantar também, inclusive algo em inglês. O Eneias Xavier vai tocar contrabaixo acústico”, informa.

 

Aos 73 anos, Nelson acompanha a nova geração de músicos de Minas Gerais. “Eles têm uma nova cabeça, sem deixar que a montanha prenda e sem repetir a experiência dos outros. É aquele negócio: beba da água, mas não repita. Tem muita gente interessante em Minas nas faixas dos 20, 30, 35 e 40 anos”, afirma, citando o músico Felipe Bedetti e o escritor Thales Martinez.

 

“Também há pessoas que adotaram o estado, como o Thiago Amud, carioca que veio morar aqui, e o cearense Artur Araújo, que está bebendo da água de Minas Gerais, mas tem o pé dele no Ceará. Quando ele juntar isso será um sucesso”, prevê.

 

Clube da Esquina

De certa forma, essa é a nova turma do veterano cantor, compositor e instrumentista. “Faço muita questão de andar junto desses meninos, até estou compondo com eles”, revela. “Torço por essas pessoas, porque o mundo é isso. Estou em uma fase e eles em outra. Podem ficar dois ou três dias sem dormir, eu não posso mais”, brinca.

 

 

Dormindo ou não, vem por aí novo álbum de Nelson Angelo. “Não quero falar que fiz isso ou aquilo com este ou aquele compositor, quero sempre olhar para a frente”, ele explica. 

 

Um momento especial que o mineiro viveu recentemente foi participar do show de encerramento da última turnê de Milton Nascimento, em novembro do ano passado, no Mineirão. Milton havia pedido ao filho, Augusto, para convidá-lo, achando que o amigo morava em Belo Horizonte. Após o telefonema, Nelson viajou de táxi do Rio de Janeiro para BH, onde chegou às 4h do dia do show. 

 

Ele nem dormiu naquele domingo. Veio só para cantar a sua “Fazenda” com Bituca, a música que diz “água de beber/ bica no quintal/ sede de viver tudo”, primeira faixa do LP “Geraes”, lançado em 1976. 

 

“Isso é obra de Deus. Nunca na minha vida tive uma resposta tão sincera das pessoas, nunca a nossa história foi contada de uma maneira tão linda. E olha que não conseguimos nem falar boa-noite um para o outro. Apenas nos olhamos e conversamos pelo olhar, porque somos amigos desde os meus 14 anos”, diz.

 

Aliás, o adolescente Nelson conheceu Tom Jobim e Vinicius de Moraes quando tinha 16. “Andei com eles e não foi aquela coisa de ir ao bar e o Tom estava lá. Fui ao sítio de Tom, passamos dias lá, andando pelo mato. Depois, eu ia à Cobal beber com ele. Com Vinicius era a mesma coisa.”

 

Outro amigo especial é Lô Borges. “Tenho grande admiração profissional pelo Lô, além da minha amizade com ele, que não gosta de jogar conversa fora”, diz Nelson, feliz em guardar lembranças dos colegas com quem conviveu. 

 

A lista, aliás, é respeitável. O cantor, compositor, arranjador, guitarrista e violonista Nelson Angelo trabalhou com Milton Nascimento, Marcos Valle, Edu Lobo, Elis Regina, João do Vale, Clementina de Jesus, Nana Caymmi, Chico Buarque, Egberto Gismonti, Naná Vasconcelos e Toninho Horta, entre muitos outros.

 

NELSON ANGELO E ENEIAS XAVIER

Neste sábado (4/2), às 21h, no Clube de Jazz do Café com Letras (Rua Antônio de Albuquerque, 47, Savassi). Ingressos: R$ 45. Informações: (31) 98872-4989