Imagem mostra a floresta amazônica cortada por estrada em linha reta

Repórter fotográfico da Folha de S.Paulo, Lalo de Almeida buscou formas alternativas de financiamento para desenvolver um trabalho a longo prazo na Amazônia, desde a construção de Belo Monte

Lalo de Almeida/Divulgação

O fotógrafo paulista Lalo de Almeida, vencedor da categoria Projeto de longa duração do World Press Photo em 2022 com “Distopia amazônica”, falará sobre esse seu trabalho nesta quinta-feira (19/1), em Belo Horizonte, na primeira edição do projeto Foto em Pauta neste ano. Almeida venceu também o World Press Photo em 2021, na categoria Meio ambiente, com a série "Pantanal em chamas".

Mediado por Eugênio Sávio, jornalista e coordenador do projeto, o evento de hoje contará com tradução em Libras e transmissão pelas redes sociais do projeto, com a possibilidade de interação do público. 

Formado pelo Instituto Europeo di Design em Milão, na Itália, Lalo de Almeida trabalha há 28 anos para a Folha de S.Paulo e especializou-se em temas socioambientais, que, segundo ele, são os que mais despertam o interesse do público.

O contato a longo prazo com a Amazônia, por exemplo, teve início com um interesse pessoal surgido pela pauta da construção da Usina de Belo Monte, em Altamira (PA), em 2010, sua porta de entrada para a região. De lá pra cá, ele acompanha de perto a realidade amazônica, mas ainda se considera um observador externo de um processo de ocupação extrativista que ocorre desde a colonização.
 
"Você não consegue falar da questão ambiental sem pensar nos problemas sociais. Você nunca vai conseguir preservar o meio ambiente se não resolver as questões de pobreza, de falta de presença do Estado. Essa é uma das coisas que eu passo nas fotos, uma relação indissociável entre pobreza e meio ambiente. A questão social está diretamente ligada à degradação ambiental, e eu acho que as fotos passam isso também", afirma.

Problema estrutural

O fotógrafo registrou a aceleração do modelo predatório nos últimos quatro anos, na gestão Bolsonaro, tendo sempre em mente, contudo, que esse é um modelo vigente desde sempre. "Não é uma questão conjuntural, mas um problema estrutural do país", diz.

O tempo do qual dispõe para desenvolver seu trabalho, segundo ele, é o que marca a tênue transição em que ele trabalha entre o fotojornalismo e a fotografia documental. 

"Eu tento trazer a fotografia documental para dentro do jornal, porque é o lugar em que eu sempre trabalhei e que eu adoro. A questão do tempo é fundamental. As primeiras vezes que eu fui, trabalhando para o jornal, eu sentia muita falta disso. Eram pautas para o jornal, com orçamento limitado e tempo muito curto. Então, era muito difícil você conseguir se aprofundar."

A partir daí, ele começou a procurar novas formas de financiamento que lhe permitissem permanecer na região por mais tempo e desenvolver seu trabalho, criando vínculos. "(Isso) Muda completamente sua abordagem, você deixa de ser um paraquedista, para realmente entrar no assunto. Mesmo assim, falando de Amazônia, até hoje, na verdade, é um olhar de um observador esporádico. Não moro na Amazônia, viajo menos do que deveria, mas faço o que é possível."

Presente e futuro

Em referência à 20ª edição do Foto em Pauta, Eugênio Sávio afirma: "A gente está celebrando 20 anos, pensando no futuro. O trabalho do Lalo é um trabalho que pensa no presente e no futuro, que faz a gente se mobilizar para entender o Brasil e o mundo. É um trabalho muito amplo, estamos empolgados de estar com esse fotojornalista, que teve a oportunidade de conhecer profundamente o Brasil, um Brasil menos conhecido principalmente para nós aqui no Sudeste, mas que é um Brasil relevante, que precisa ser olhado com a competência e o respeito que ele [Lalo] tem". 

Para o futuro próximo, entretanto, a expectativa é de uma pausa no Foto em Pauta neste primeiro semestre, com retorno programado para a segunda metade do ano. Enquanto isso, o projeto deverá se dedicar a produzir um festival de fotografias em formato expandido, em Tiradentes, em 14 e 15 de março. 

FOTO EM PAUTA 

Com Lalo de Almeida. Nesta quinta-feira (19/1), às 19h, no Memorial Minas Gerais Vale, na Praça da Liberdade. Evento acessível em Libras. Entrada gratuita, sujeita à lotação do espaço. Retirada de ingressos uma hora antes, máximo de dois ingressos por pessoa. Transmissão ao vivo via Instagram e YouTube do projeto

*Estagiário sob supervisão da editora Silvana Arantes