(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas MÚSICA

Marcos Valle chega aos 80 anos com agenda internacional e dois novos discos

Cantor e compositor vai fazer turnês na Europa, EUA e Japão em 2023, além de gravar um álbum para o mercado europeu e outro com Nando Reis, no Brasil


27/12/2022 04:00 - atualizado 26/12/2022 23:51

 Marcos Valle está de lado e olha para a câmera
Com agenda internacional e cheio de planos, Marcos Valle faz 80 anos em setembro de 2023 (foto: Jorge Bispo/divulgação)

"Nós, artistas, temos a vantagem de transformar as nossas emoções por meio da arte. Isso é um privilégio"

Marcos Valle, músico



Em 2023, o cantor e compositor Marcos Valle completa 80 anos e 60 de carreira. Cheio de pique, o carioca fará duas turnês europeias, uma em julho e outra em outubro. Talento globalizado da MPB, ele vai se apresentar também no Japão e nos Estados Unidos.
 
“Agosto será mais de festivais pela Europa. Devo ir ao Japão em julho e, logo em seguida, para a Europa. Temos também uma turnê para os Estados Unidos sendo armada. E outra no Brasil, onde farei vários shows”, informa Marcos Valle.
 

No início do ano, ele começa a gravar álbum destinado ao mercado europeu, pela inglesa Far Out. E anuncia outro disco – este brasileiro – com Nando Reis. “São 10 músicas minhas e 10 letras dele. Também teremos filmes e vídeos. Estamos nos reunindo para armar essa festividade”, adianta.

 

Outra parceria que ele pretende reforçar em 2023 é com a cantora e compositora Joyce Moreno. “Fazemos muitas coisas juntos. E temos também grande identificação musical. Havíamos até conversado sobre isso mesmo antes da pandemia.”

Homenagem a Gal

Porém, a última parceria de Marcos e Joyce foi marcada pela tristeza. Os dois gravaram o single “A chuva sem Gal”, lançado logo depois da morte da cantora baiana Gal Costa, aos 77 anos, em 9 de novembro.
 
“Essa música nasceu de uma emoção muito forte. Quando recebi pela televisão a notícia do falecimento de Gal, eu e minha mulher, Patrícia, ficamos sem saber o que falar, o que fazer. Saí do quarto e fui para a varanda do nosso apartamento. Lá fora estava chovendo muito, fiquei ali pensando e me lembrando de tudo, da Gal e da história dela, enquanto o céu parecia derramar lágrimas”, conta.
 
Quando percebeu, Marcos já tinha a melodia quase pronta na cabeça. “Pensei a chuva sem Gal. Então, falei: Meu Deus, até a chuva sem a Gal é diferente.”
 
Inspirado em um sucesso da cantora – “Chuva de prata”, parceria de Ed Wilson e Ronaldo Bastos –, Marcos foi para o piano, ligou o gravador e registrou a melodia que fluía de sua mente. “Quando ficou pronta, imediatamente liguei para a Joyce, minha parceira querida. Eu sabia da ligação que ela também tinha com Gal”.
 
Joyce adorou. “Nós dois ali, emocionados com a história”, relembra Marcos. A parceira só lhe pediu um tempo para se tranquilizar diante de notícia tão triste. No dia seguinte, chegaram os versos. “A chuva sem Gal/ Caiu de mansinho/ Foi quase um carinho/ Molhou meu olhar/ Lembrando um Brasil brasileiro/ O sol desse canto certeiro”, diz um trecho da letra.
 
A compositora afirma que ao saber da morte de Gal Costa, foi como se um pedaço do coração do Brasil tivesse parado de bater. Logo em seguida a esse impacto, veio o pedido de Marcos. “Escrevi chorando muito. Até achei que não conseguiria, mas saiu na emoção da hora. No dia seguinte, fiz os últimos ajustes e mandei pra ele”, conta.
 
“Quando li, disse: Joyce é exatamente isso. Aí, ela entrou em contato com o pessoal da Biscoito Fino. Kati de Almeida Braga, proprietária da gravadora, ouviu, adorou a música e perguntou: Vocês podem gravar na semana que vem?”.
 
Os músicos Jorge Helder, Tutty Moreno, Joyce Moreno e Marcos Valle no estúdio
Jorge Helder, Tutty Moreno, Joyce Moreno e Marcos Valle no estúdio, durante a gravação de 'A chuva sem Gal' (foto: Acervo pessoal)
 
 
Marcos explica que procurou fazer um arranjo “tranquilo”, que não fosse triste. “Lógico que é triste, por ser o falecimento da Gal, mas queria certa leveza tanto na música quanto na letra. E conseguimos isso”, diz. “O arranjo teria de acompanhar a leveza que a Gal tinha na voz cristalina dela.”
 
Marcos, no piano acústico, Tutty Moreno, na bateria, Jorge Helder, no baixo, e Jessé Sadoc, no flugelhorn, criaram o arranjo. “Fizemos uma coisa bem enxuta”, explica Valle, relembrando a emoção do quarteto no estúdio. “Eu e Joyce colocamos as nossas vozes depois.”
 
Sentindo-se realizado por homenagear a cantora baiana, ele comenta que, em alguns momentos, a voz de Joyce lembra a de Gal. “Quando ela vai para o agudo... A Gal tinha aquela coisa do agudo que era sensacional. O legal é que a Joyce tem a coisa do agudo também. Quando subiu para o agudo, realmente ficou bem parecido. Ela me falou: 'Cara, tem uma frase que você fez na melodia que é muito Gal. Estou sentindo a Gal cantando’”, conta.
 
“Na hora em que gravou esse pedaço, Joyce incorporou a Gal. Ficou uma coisa fortíssima ali no estúdio, muito legal mesmo.”
 
 
 
Todo o projeto foi especial. A criação da capa do single “A chuva sem Gal”, por exemplo, ficou a cargo do artista plástico Omar Salomão, que também assinou a capa de “Nenhuma dor”, disco lançado pela baiana em fevereiro do ano passado.
 
Agora com a “proteção” de Gal Costa, a parceria de Marcos e Joyce vai se fortalecer mais ainda.“Nós, artistas, temos a vantagem de transformar as nossas emoções por meio da arte. Isso é um privilégio. A gente não sabe o que falar, não sabe o que dizer, mas transforma aquilo”, diz Marcos, referindo-se à tristeza causada pela morte da amiga.
 
Sem Gal – “Havia um cristal/ Nas asas do vento/ Trazendo um alento”, diz a canção dedicada a ela –, o carioca vai em frente, comprometido com a vida. “Sou muito grato, enquanto tiver a possibilidade de fazer música, não paro de jeito nenhum.”

Geração de ouro da MPB

Marcos Valle tem 79 anos; Gal Costa, 77; Joyce Moreno, 74. Os três fazem parte da geração de ouro da MPB, que surgiu num momento especial da cultura brasileira e chamou a atenção do mundo.

“Comecei em 1962, durante o período da bossa nova, que teve início em 1958, no Rio de Janeiro. Em 1967, veio o movimento tropicalista, porém Gal já cantava na Bahia, influenciada por João Gilberto. Vim a conhecê-la mesmo no Tropicalismo. Naquele momento dos programas da TV Record, transmitidos diretamente do Teatro Paramount, em São Paulo, onde se juntava aquele monte de artistas para fazer shows. Ali a gente começou a se encontrar”, relembra.
 
Na Record, se reuniam também Nara Leão, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque, entre tantos outros. “Num dos programas, estavam Gal, Maria Bethânia, Caetano e Gil, os futuros Doces Bárbaros. Bethânia veio me falar o quanto amava ‘Preciso aprender a ser só’, que eu tinha feito com meu irmão Paulo Sérgio Valle.”
 
Esta canção, aliás, se tornou clássico da MPB. “Foi engraçado, porque quando chegou na época de fazer meu songbook, produzido pelo Amil Chediak em 1998, Gal não sabia que Bethânia já havia gravado a canção e me disse: ‘Quero gravar esta música’. Falei para ela: 'Esta já era, pois a Bethânia gravou. Mas tenho outra para você: ‘Terra de ninguém’. E ela gravou maravilhosamente bem”, conta Marcos Valle.
 
“Sempre fui muito fã dela. Como era aberto ao que veio depois da bossa nova, aquela coisa do Tropicalismo acrescentou bastante em minha carreira”, admite o compositor. E destaca não só a voz, mas as atitudes de Gal Costa, com seu comportamento libertário em plena ditadura militar.
 
“Sempre fui aberto às novidades, gosto de ouvir o que está rolando. Isso facilitou a minha vida naquele momento de transição entre a bossa nova e o Tropicalismo. A vinda dela, de Caetano, Gil e Bethânia da Bahia foi uma coisa fantástica, maravilhosa, que acrescentou muito à música popular brasileira”, conclui.

"A CHUVA SEM GAL”

. De Marcos Valle e Joyce Moreno

Havia um cristal
Nas asas do vento
Trazendo um alento
Assim, natural
Voando em qualquer pensamento
Pintando de azul o cinzento
Num céu que mudava de forma naquele momento

A chuva sem Gal
Caiu de mansinho
Foi quase um carinho
Molhou meu olhar
Lembrando um Brasil brasileiro
O sol desse canto certeiro
Parece que o tempo não liga
E assim se desliga
Se torna canção
No fundo do meu coração
Choveu…

A chuva sem Gal
Foi quase um carinho
Foi quase um sinal…
 
. Single lançado pela gravadora Biscoito Fino. Disponível nas plataformas digitais
 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)