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Estado de Minas MÚSICA

Conheça Big Mike, o vencedor do 10º Duelo de MCs Nacional

Baiano criado em São Paulo, o rapper, de 23 anos, vai gravar disco com dinheiro do prêmio que recebeu em BH e sonha em construir um legado com suas rimas


12/12/2022 04:00 - atualizado 11/12/2022 22:58

Rapper Big Mike está de lado, cantando no microfone, em evento realizado em BH
Rapper Big Mike levou o primeiro lugar do Duelo Nacional para São Paulo depois de vencer a maratona de batalhas ocorrida no Viaduto de Santa Tereza, em BH (foto: LF Coelho/divulgação)

'Em 2021, foi a primeira vez que pude pagar um presente de Natal para todo mundo. Aí, sim, percebi que estava dando certo'

Big Mike, rapper



No palco montado embaixo do viaduto Santa Tereza, no Centro de Belo Horizonte, os rappers Douglas Din e MC Colombiana, apresentadores do Duelo de MCs Nacional, revezam-se perguntando, ao som das trilhas dos DJs Cia e LB:
– O que acontece aqui?
– Duelo de MCs – o público responde em coro.
– O que acontece aqui? – insistem os apresentadores.
– Duelo de MCs – responde a plateia, com mais força.
 
Chegou o momento da batalha final entre Big Mike e Youngui, ambos representando São Paulo. A regra é clara: cada MC tem 90 segundos para mandar suas rimas. Vence aquele que os jurados acharem mais criativo.
 
Antes de chegar à disputa final, cada um já havia passado por cinco duelos.

Júri pede segundo round

A final entre Big Mike e Youngui é acirrada. No momento da votação, o júri até pede mais um round para decidir quem levaria o primeiro lugar naquela noite de sábado.
 
Vence Big Mike, rapper de 23 anos, bicampeão estadual por São Paulo, em novembro; campeão da Seletiva da Freestyle Master Series na etapa Salvador, em setembro; e campeão da Batalha da Aldeia 280, em junho. Derrotou representantes de todos os estados brasileiros.
 
Rappers Big Mike e Youngui posam agachados no palco e têm a plateia atrás deles durante Duelo de MCs
Big Mike com Youngui, o segundo colocado na disputa nacional (foto: Cadu Passos/Duelo de Mcs/reprodução)
 
 
A cara amarrada e o jeitão bad boy de Big Mike escondem um coração gigante. “Meu maior sonho é ter minhas conquistas para mudar a história da minha família”, revela o rapper, lembrando-se das dificuldades que passou na infância e adolescência.
 
Nascido em Canavieiras, município baiano próximo a Ilhéus, Big Mike se chama Luís Henrique Nascimento da Silva. Viveu na cidade natal até os 5 anos, quando se mudou com a família para São Paulo, onde ficou até os 15. Passou a maior parte de seus 10 anos na capital paulista no Bairro de Cotia, na Zona Oeste.
 
Era menino esperto, brincalhão e, sobretudo, curioso. “Sempre gostei de aprender coisas novas”, conta. “Quando era criança, tinha lá em casa um Atlas que eu ficava folheando todo dia. Aprendi as bandeiras dos países, as capitais e as moedas de cada um deles, mesmo sem entender o que aquilo significava.”
 
 
 
Luís Henrique dedicava horas à leitura. Costumava se trancar no banheiro com várias revistas da mãe e só saía depois de ler tudo. Tal proximidade com as palavras foi primordial para o futuro Big Mike desenvolver a agilidade e perspicácia de suas rimas.
 
O garoto baiano só foi conhecer as batalhas de rap depois dos 15 anos, quando se mudou para Itanhaém, município da Baixada Santista, a cerca de 140 quilômetros de São Paulo.
 
“A gente sempre morou de aluguel, sonhando ter nossa casa própria. Aí, um primo que morava na Baixada disse que era mais barato comprar terreno lá e construir. Fomos de uma hora pra outra”, diz.
 
Rapper Big Mike e a mãe, dona Helen
Dona Helen: a supermãe que apostou no talento do filho (foto: Instagram/reprodução)
Quando chegaram, não havia o paraíso propagandeado pelo primo. “Passamos muita dificuldade lá”, lembra Big Mike. A mãe, Helen Silva, empregada doméstica, não conseguia clientes. “Todo o serviço dela estava em São Paulo, era lá que ela tinha os contatos”, diz o rapper.
 
Sem serviço em Itanhaém, Helen decidiu voltar para a capital paulista. “Eu já estava fazendo curso técnico de informática e trabalhando. Pedi, então, que me deixasse ficar, porque, em São Paulo, não teria a mesma facilidade para conseguir emprego”, relembra.
 
Dona Helen acabou concordando em deixar o filho no interior. Graças a essa decisão, Luís Henrique virou Big Mike.

Batalha do Tanque

Naquela época, fazia sucesso a Batalha do Tanque, considerado o maior evento cultural de rua de São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Por meio dos amigos de escola, os duelos de rimas realizados na cidade fluminense chegaram ao conhecimento do adolescente, que logo se interessou por aquele evento, até então completamente distante de sua realidade.
 
Ele já era fã de rap, verdade. Mas foi novidade o freestyle, estilo livre em que artistas disputam cara a cara, no improviso, quem cria a melhor rima. Admirado com aquilo, passou a ir diariamente a lan houses para assistir ao máximo de batalhas possível. “Viciei naquilo”, confessa.
 
De tanto acompanhar os duelos, passou a rimar com os amigos. “Brincadeira de moleque, coisa sem compromisso”, observa Mike. Certo dia, um amigo sugeriu que se apresentasse na Batalha do Secreto, em Itanhaém. “Disse para ele: Cê é louco?”, lembra o rapper. “Não quis ir. Achei que os caras já nasciam sabendo fazer aquilo e iriam me humilhar”.
 
Por acaso, ele acabou na “Secreto”. Foi lá porque perdeu aposta com o tal amigo que fez o convite pela primeira vez. Pior: o “castigo” da aposta era duelar.
 
“Fiz do meu jeitão, errando tudo, mas aquilo ficou na minha cabeça. Pensei: nossa, que da hora, gostei de fazer isso! Virou uma chave na minha cabeça, comecei a me interessar mais e a consumir ainda mais material de batalha e de rap”, conta Mike.
 

'Minha mãe é parte muito importante nisso. Ela me motivou, sempre respeitou a minha forma de enxergar o trabalho e de buscar as coisas que desejo'

Big Mike, rapper

 
 
Paralelamente às batalhas, o garoto trabalhava. Teve diversos empregos no comércio até conseguir, finalmente, se dedicar exclusivamente ao rap.
 
A mãe tomou um susto no início. Afinal, viver de arte no Brasil não garante estabilidade. Mas, por fim, aceitou. E dona Helen selou o destino de Big Mike.
 
“Minha mãe é parte muito importante nisso. Ela me motivou, sempre respeitou a minha forma de enxergar o trabalho e de buscar as coisas que desejo. Meus pais se separaram quando eu era muito novo, devia ter uns 8 anos. Mas lembro do meu pai cortando as asas da minha mãe a respeito das coisas que ela queria fazer. Ela é muito sonhadora, acho que puxei isso dela”, diz.

Natal inesquecível

Dona Helen não tem motivos para se arrepender da decisão que tomou. “Em 2021, foi a primeira vez que pude pagar um presente de Natal para todo mundo. Aí, sim, percebi que estava dando certo”, diz Big Mike.
 
Com a vitória no Duelo MCs Nacional 2022, em 3 de dezembro, ele recebeu o prêmio de R$ 20 mil em dinheiro e R$ 40 mil para investir no lançamento de um álbum, no qual poderá mostrar sua identidade como compositor.
 
“Tenho muita vontade de deixar um legado, fazer música com a minha identidade. Queria que as pessoas escutassem minha música, não porque está batendo, mas porque elas se identificam. Por mais que seja difícil, a gente pode sonhar. Sonhar não é proibido. A gente não pode deixar de acreditar e nem desistir do que quer”, finaliza Big Mike.
 
Rapper Bug Mike sorri no meio da plateia, em São Paulo
O rapper comemorando o campeonato estadual conquistado em São Paulo (foto: Instagram/reprodução)
 
 
 


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