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Estado de Minas LINGUÍSTICA

Graciela Chamorro lança o primeiro dicionário digital kaiowá-português

Disponibilizado gratuitamente, livro se soma à luta indígena, afirma a autora. Lançamento ocorrerá nesta terça (29/11), em live no YouTube da editora Javali


29/11/2022 04:00 - atualizado 29/11/2022 04:21

Criança indígena na comunidade kaiowá em Dourados, no Mato Grosso do Sul
Dicionário aproxima a nova geração dos kaiowás da língua e da cultura de seus ancestrais (foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O primeiro dicionário digital kaiowá-português chega a público nesta terça-feira (29/11), às 15h, em live promovida pela editora mineira Javali. O livro da professora paraguaia Graciela Chamorro levou 20 anos para ser concluído. Ela mora no Brasil há quatro décadas e se dedica há muitos anos à cultura dos povos originários.


O Atlas da Unesco considera a língua kaiowá ameaçada. Crianças a falam, mas só em algumas ocasiões em família, o que limita seu alcance. Na realidade, o kaiowá vai “morrendo” diante do avanço do português, espanhol e do guarani paraguaio.

 

“O dicionário veio para somar na luta indígena, para ser usado no ambiente de comunicação escrita e oral. A presença indígena já é comum nas redes sociais. Também neste ambiente, o dicionário pode ser aproveitado, nas postagens e na comunicação, na forma de falar e de se expressar”, informa Graciela Chamorro, no material de divulgação do livro.

 

Professora paraguaia Graciela Chamorro está em frente a microfone, sorrindo para a câmera e folheando livro
A professora paraguaia Graciela Chamorro trabalhou por 20 anos no dicionário kaiowá-português (foto: Mawaca/reprodução)
 

Seis mil verbetes

O dicionário registra cerca de seis mil verbetes, ordenados alfabeticamente com informações gramaticais, exemplos do uso no cotidiano, da história e da cultura kaiowá.

 

A autora destaca que o dicionário não será útil apenas para indígenas, mas também para estudiosos da língua.

 

“É uma fonte de consulta e de pesquisa linguística. Seus registros são úteis para estudos comparativos, com outros dialetos da língua kaiowá e com suas línguas irmãs, como o guarani nandéva e o guarani paraguaio”, ressalta.

 

“É mais uma fonte de pesquisa para estudos histórico-comparativos de línguas tupi-guarani e suplemento para o que já conhecemos da kaiowá, tendo em vista que seus estudos linguísticos foram iniciados em 1958”, afirma Graciela. “Nesse sentido, o dicionário, de alguma forma, reflete o avanço do conhecimento linguístico acumulado em 64 anos, aproximadamente."

 

A live desta tarde terá a participação de Ana Suelly, professora da Universidade de Brasília, Andérbio Martins, professor da Universidade Federal da Grande Dourados, e Jorge Domingues, professor da Universidade Federal do Pará. O link para acesso é www.youtube.com/javalieditora

 

O dicionário pode ser acessado gratuitamente no site www.editorajavali.com. O projeto foi viabilizado pelo Projeto Rumos Itaú Cultural. Misael Concianza Jorge ilustrou o livro.

 

'O dicionário veio para somar na luta indígena (...) A presença indígena já é comum nas redes sociais. Também neste ambiente, o dicionário pode ser aproveitado, nas postagens e na comunicação'

Graciela Chamorro, pesquisadora

 

Saber ancestral

De acordo com a autora, o dicionário vem suprir parcialmente a escassa publicação de livros bilíngues ou em língua kaiowá. "Vai, pois, ao encontro da demanda atual de docentes e discentes, que não dispõem de uma obra e apoio para pensar e produzir material em sua língua. Através deste material, esperamos que as novas gerações se socializem com expressões do saber de seus antepassados, dentro e fora do contexto escolar."

 

Graciela Chamorro chama a atenção para o papel da escola, "porque já são poucas as crianças que se socializam com esses saberes através da educação indígena tradicional".

 

A professora acredita que seu livro "pode ajudar docentes e estudantes kaiowá, que não conhecem mais a dimensão profunda de sua língua, a achar essa profundidade filosófica e poética das palavras e a encarar as dificuldades com as tecnologias implicadas na arte da linguagem: a técnica-criatividade da leitura e da escrita e a técnica-criatividade da comunicação e da literatura oral, tão importantes e necessárias".

 

Graciela Chamorro nasceu no Paraguai, em 1958, e veio estudar no Brasil em 1977. Formou-se em música e teologia, no Recife (PE). Mestre em história e doutora em teologia, deu aulas na Academia de Missão da Universidade de Hamburgo, na Alemanha, fez doutorado em antropologia em Marburgo e pós-doutorado em romanística em Münster, naquele país.

Vivência em Dourados

A professora estudou fontes escritas em língua indígena no século 17. Suas pesquisas estão relacionadas ao povo kaiowá e guarani.

 

De 1983 a 1989, Graciela Chamorro morou em Dourados, no Mato Grosso do Sul, vivência que embasou sua produção acadêmica sobre rituais, história, corpo, língua, cosmologia e cantos dos povos falantes de línguas guarani.

 

O primeiro contato da professora com a língua kaiowá ocorreu em 1983, na comunidade de Panambizinho, em Dourados, por meio do canto e da dança. Em 2006, ela voltou à cidade sul-matogrossense, onde mora até hoje.


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